A diversificação da base de ativos, estratégia perseguida pela AES Brasil nos últimos anos, mostrou os resultados neste segundo trimestre de 2022. De um lado, a hidrologia favorável contribuiu com os resultados das hidrelétricas do grupo, ajudando a compensar a redução no faturamento das eólicas, que sofreram com menos ventos nestes primeiros meses do ano.
A companhia obteve lucro líquido de R$ 9,3 milhões no período entre abril e junho, retração de 65% na comparação com o lucro de R$ 26,6 milhões registrado no mesmo intervalo do ano passado.
A receita líquida da companhia subiu 10,6% no período, mas a marquem líquida, calculada a partir da receita descontados custos de produção e operação de energia, ficou praticamente estável, em R$ 354 milhões.
Segundo José Simão, diretor de Tesouraria e Relações com Investidores da companhia, a performance das eólicas ao Norte do Nordeste foi afetada pelo fenômeno La Niña, que aumentou as chuvas na região, reduzindo, consequentemente, os ventos. “É a complementariedade das fontes, a eólica veio baixa e a hídrica subiu”, disse.
Além disso, houve aumento dos custos de produção por conta da inflação. “O custo sofre primeiro, a receita vem na sequência. Nossos contratos são indexados pelo IPCA, vamos recuperar o descasamento”, afirmou à MegaWhat.
O resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) caiu 8,5%, a R$ 239,4 milhões. O resultado financeiro da companhia veio negativo em R$ 106,9 milhões, uma melhora de 8,5% em relação ao resultado negativo do mesmo período do ano passado, de R$ 116,8 milhões.
De acordo com Simão, a melhora no resultado financeiro foi possível, apesar do aumento dos juros, pelo fato de que a companhia acaba de se capitalizar para investir nos projetos Cajuína e Tucano, e tinha mais de R$ 3 bilhões em caixa no período. “Esse caixa tem rendimento positivo, op que neutraliza o efeito da despesa financeira, em certa medida”, explicou.
Investimentos
Em 2022, a AES planeja investir R$ 2,8 bilhões, sendo R$ 615 milhões na conclusão de Tucano, que já teve as primeiras máquinas entrando em operação comercial, e R$ 2,6 bilhões em Cajuína, que deve entrar em operação ao longo de 2023. Juntos, os projetos somam 1 GW de potência, que está totalmente contratada no longo prazo.
Com isso, a AES Brasil vai chegar a 4,7 GW em potência instalada. A companhia tem ainda um pipeline de 1,15 GW pronto para ser desenvolvido com expansões em Tucano e Cajuína, mas isso depende da celebração de novos contratos de venda de energia no longo prazo.
“Ano passado, foram quase 1 GW em contratos. Esse ano, não fizemos quase nada, temos 2,5 GW em negociação em diferentes estágios”, disse Simão.
O preço da energia no curto prazo está relativamente baixo, mas no longo prazo a tendência é de alta, por conta do aumento do custo dos equipamentos, principalmente, cenário que dificulta a assinatura de novos contratos neste momento. “Você tem uma dicotomia grande”, afirmou Simão.
“O próximo projeto terá custo maior. Em Cajuína, por exemplo, o capex por MW está em R$ 5,5 milhões, o que hoje é uma grande vantagem”, disse o executivo da AES. Isso porque a companhia fechou os contratos com fornecedores antes da disparada dos preços das commodities e da inflação.
Para novos projetos, o capex está variando entre R$ 6,5 milhões e R$ 7 milhões por MW instalado, o que leva o preço da energia a outro patamar.
Segundo Simão, como a demanda está alta, enquanto so investidores disputam as últimas outorgas com desconto no fio, o mercado vendedor de máquinas está com “bastante poder de barganha”. “Olhamos preço do insumo e retornos mínimos, e não vemos tendência de redução no curto prazo”, apontou.