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‘Jabutis’ e térmicas na base não representam vantagem para fabricante

Jorge Alcaide, diretor-geral da Wärtsilä Brasil | Foto: reprodução LinkedIn
Jorge Alcaide, diretor-geral da Wärtsilä Brasil | Foto: reprodução LinkedIn

A garantia da contratação de novas térmicas inflexíveis, operando num regime ininterrupto – 24 horas, sete dias por semana (24X7) – não representa, necessariamente, uma vantagem de negócios para a Wärtsilä, fabricante finlandesa de equipamentos para essas usinas. A empresa avalia outras questões na aposta de suas fichas para o segmento de motores para a geração de energia mundialmente, como a previsibilidade e planejamento para entrega dos contratos.

Neste sentido, a extensão da derrubada dos vetos presidenciais aos “jabutis” da lei das eólicas offshore, retomando a contratação de 4,25 GW a 8 GW de térmicas na base, é positiva, mas não muda a estratégia de investimentos da companhia. “É bom para nós, mas tenho mercados melhores do que o Brasil, onde eu opero na base. Operando continuamente, eu vendo peças e serviços ao longo da vida do projeto”, diz o diretor-geral da empresa no Brasil, Jorge Alcaide.

Além da oportunidade de negócios, o executivo ressalta que o papel das termelétricas no país é complementar, e o melhor caminho é o de incentivar as renováveis. “A gente precisa de térmica operando em uma base 24×7? Eu não consigo enxergar isso, o Brasil não deveria ir nesse caminho, não tem mais espaço para isso no mundo”, conclui.

A melhor estratégia seria a continuidade de contratação por meio de um backup, para dar suporte à geração renovável, como prevê o leilão de reserva de capacidade (LRCap).

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Atraso do LRCap é ruim, mas mercado não deve tirar vantagem

Sobre a licitação, o executivo aponta que o atraso do LRCap, que deveria ter acontecido no final de junho, mas foi suspenso, sem uma nova data anunciada até o momento, impacta de forma negativa o mercado, trazendo incerteza e imprevisibilidade ao planejamento dos agentes. “Gera o descrédito, e isso é ruim para o Brasil, é ruim para o mercado”, lamenta.

Ele conta que a Wärtsilä tem capacidade para produzir até 4 GW por ano em motores, sendo metade para o segmento de Marine e metade para geração de energia. “Esse ano já foi vendido 1 GW para os Estados Unidos. Eu estou competindo com os meus colegas da Wärtsilä mundialmente”, diz. “A gente está preparado para o leilão de capacidade, entretanto as coisas precisavam ter um planejamento que fosse executado, isso é importante para todos os players”, reforça.

Mesmo assim, ele garante que a empresa terá condição de atender aos pedidos dos vencedores do certame. “A gente está em uma condição tranquila com relação a isso, por enquanto, porque estamos falando em 2028, 2029, 2030. A gente não consegue atender o mercado inteiro, mas os principais clientes, sim. Consigo entregar um número relativamente grande, quando eu tiver a certeza de quando vai acontecer”, disse. Ele lembra que a Wärtsilä já fez usinas em prazo curto: “A gente construiu, em oito meses, três plantas para o BTG Pactual”. As plantas somavam 150 MW de potência e foram contratadas no único LRCap realizado até agora no país, em 2021.

Apesar do possível desafio de entregar plantas com prazo curto, em função do atraso neste LRCap, os projetos não devem, necessariamente, ficar mais caros por conta disso. “Não consigo enxergar nenhum aumento abusivo, nada disso, por nenhum fabricante. Com todos os nossos clientes, sejam os meus clientes ou os dos meus concorrentes, a gente tem uma relação de longo prazo com essa turma toda. Recomposição de inflação, coisa desse tipo, eu até entendo, mas vantagens, eu acho que não”, avalia.

Térmicas a biocombustível e etanol

Considerando que o LRCap deverá contratar térmicas a gás ou biocombustível, além de hídricas, a Wärtsilä poderá oferecer equipamentos para todos os produtos térmicos. “A Wärtsilä age através da diversificação de combustíveis. Então, hoje a gente tem amônia, a gente tem hidrogênio, a gente tem biocombustíveis. Aqui no Brasil mesmo a gente opera com óleo de palma e de soja”, diz Alcaide.

No país, a empresa já tem trabalhado na conversão de térmicas existentes para gás ou biocombustíveis, e agora estuda um motor que poderá rodar a etanol.

Esta nova tecnologia deve ser testada no final do ano em Suape, em Pernambuco, com operação contínua por quatro mil horas. Assim, o cronograma não permitirá que a tecnologia entre no LRCap.

O motor é movido a etanol brasileiro e tem potência de 4 MW. Sendo aprovado, a empresa deverá oferecer a solução em seu portfolio, com motores de, em média, 10 MW, segundo o executivo.

“Pode ser uma mudança de paradigmas aqui no Brasil ter um combustível novo no nosso grid. O etanol é renovável e abundante, aonde você for, você consegue achar. O Brasil é um dos maiores produtores do mundo”, enumera Alcaide.

Nota editada às 10h52 para correção. O teste com o motor a etanol ocorre em Suape, e não em Pecém, como constava anteriormente.

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