As ações da Eletrobras devem ser o destaque de mais um pregão nessa quarta-feira, 24 de fevereiro, depois que o governo apresentou a Medida Provisória (MP) 1.031, que trata da privatização da estatal. Segundo analistas de mercado, o evento é muito positivo e aumenta as chances de que a operação seja, de fato, bem sucedida, mas ainda é necessário avaliar se haverá apoio político para que o texto tenha o aval do Congresso.
Por volta de 10h25, as ações ordinárias da Eletrobras subiram 9,09%, a R$ 35,65, e as ações preferenciais classe B subiam 10,77%, a R$ 34,87.
A MP é a terceira tentativa de privatização da companhia desde 2017 pelo modelo de capitalização na bolsa, por meio de uma oferta subsequente (follow on) de ações. Os recursos levantados com a venda de ações serão usados paga pagar uma outorga, estimada em R$ 25,5 bilhões, em troca de novas concessões para as usinas que foram renovadas nos termos da Lei 12.783, de 2013, e também para a hidrelétrica de Tucuruí. Essa energia, agora descontratada, poderá ser negociada pela Eletrobras, privada, no mercado livre de energia, a preços mais competitivos.
Segundo o Credit Suisse, a companhia iria se beneficiar dos preços de energia no mercado livre, hoje próximos de R$ 150/MWh, contra R$ 60/MWh da energia em cotas.
“A outorga inicialmente parece mais alta do que o esperado, e vemos incertezas para muitas variáveis”, escreveram os analistas Carolina Carneiro, Rafael Nagano e João Rodrigues. Uma das premissas utilizada, por exemplo, é uma expectativa de preço de energia de R$ 167/MWh no longo prazo, que parece “um pouco agressivo” para os analistas. Além disso, os analistas lembram que a companhia fará aportes anuais à Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), estimados em R$ 900 milhões, o que deixa o retorno da ação “um pouco apertado”.
Usando as mesmas premissas utilizadas pelo MME para estimar a outorga de R$ 25,5 bilhões, o Itaú BBA estima que o bônus total pelas novas concessões chegará a R$ 50,298 bilhões, composto por R$ 31,5 bilhões pela descotização e de R$ 18,7 bilhões pela renovação antecipada da concessão de Tucuruí.
O relatório do Itaú BBA, assinado pelos analistas Marcelo Sá, Fernando Zorzi e Luiza Candiota estima que a operação tem potencial de criar valor da ordem de R$ 5,5 bilhões, considerando uma alavancagem de 50% do bônus a ser pago à União ao custo de IPCA mais 5,5% e a amortização da outorga em um período de 30 anos. O valor presente líquido cai para R$ 3 bilhões se o preço de energia de longo prazo for de R$ 155/MWh, ante os R$ 167/MWh usados pelo MME.
“Tirando o preço de energia de longo prazo, a outorga parece razoável. Achamos que faz sentido a Eletrobras pagar em troca da renovação antecipada da concessão de Tucuruí e pela descotização. Parece que a privatização tem uma chance maior de avançar dessa vez, devido à melhora das perspectivas políticas”, escreveram os analistas do Itaú BBA.