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Mudança na Eletrobras levanta receios sobre futuro da privatização e interferência política

Brasília – O presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Junior, fala sobre os resultados da empresa em 2017, e apresenta o andamento do Plano Diretor de Negócios e Gestão 2018-2022 (Valter Campanato/Agência Brasil)
Brasília – O presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Junior, fala sobre os resultados da empresa em 2017, e apresenta o andamento do Plano Diretor de Negócios e Gestão 2018-2022 (Valter Campanato/Agência Brasil)

A saída de Wilson Ferreira Junior do comando da Eletrobras, anunciada na noite de domingo, 24 de janeiro, levantou muitas incertezas entre os analistas de mercado que acompanham a companhia. O principal receio é que haja interferência política na nomeação de seu sucessor, apesar da companhia ter reiterado que há um processo de governança e que serão contratadas empresas especializadas de recrutamento (“headhunters”, no jargão em inglês) para o processo.

A privatização da companhia é outro tema cujas incertezas crescem com a saída do executivo. “A privatização foi um dos principais tópicos de debate por anos, desfrutando e sofrendo de ventos contrários e favoráveis. Mas havia uma constante: os investidores sabiam que, enquanto Ferreira permanecesse, haveria sempre esperança”, escreveu o analista João Pimentel, do BTG Pactual.

Sem o executivo, a tarefa de privatizar a companhia, que já parecia muito difícil diante dos inúmeros grupos de oposição, fica ainda mais complicada. “Qualquer agenda relevante também depende de quem será eleito na presidência da Câmara e do Senado. Uma coisa é certa: com a saída de Ferreira, o cenário de privatização fica menos provável”, escreveu o analista do BTG Pactual.

Para Vitor Sousa, analista da Genial Investimentos, a renúncia de Ferreira é “um golpe fatal” na privatização da estatal. Segundo o especialista, o evento impacta a companhia negativamente pela redução grande da possibilidade de privatização, e também pelos riscos de nomeações políticas no comando da holding e de suas subsidiárias. 

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“Vale a pena lembrar que o governo está enfrentando um declínio brusco da sua aprovação, então a nomeação de um nome não técnico parece um risco forte, que pode pressionar as ações nos próximos dias ou semanas”, escreveu o analista da Genial.

As chances de privatização diminuíram “bruscamente” com a saída do executivo, de acordo com Daniel Travizky, do Safra. O especialista aponta que é necessário aguardar o anúncio do nome do novo presidente da companhia antes de tomar conclusões sobre o futuro da companhia, mas as incertezas pela frente justificaram o rebaixamento da recomendação das ações de “compra” para “neutra”. 

Desde que assumiu o comando da Eletrobras, em julho de 2016, a gestão de Wilson Ferreira Junior implementou mudanças significativas na companhia, concluindo a venda das distribuidoras, um plano de corte de custos significativos, a redução da forma de trabalho da companhia pela metade, e melhorando a governança da estatal. 

Ainda assim, os analistas que acompanham a companhia enxergam muitos desafios pela frente. Um deles é a capitalização, que iria levar à privatização e que continua sendo negociada no Congresso. Os analistas Carolina Carneiro, Rafael Nagano e João Rodrigues, do Credit Suisse, destacaram também as negociações pelo preço final de Angra 3 e os trabalhos em torno dos passivos dos empréstimos compulsórios, cujas ações na Justiça ainda podem se arrastar por anos.

Como esperado, as ações da Eletrobras abriram o pregão dessa terça-feira, 26 de janeiro, em forte queda. Por volta das 10h40, as ações ordinárias (ON, ELET3) da Eletrobras tinham queda de 9,99%, a R$ 27,23. As preferenciais classe B (PNB, ELET6) recuavam 7,19%, a R$ 28,36.

Na segunda-feira, 25 de janeiro, não houve transações na B3 por conta de um feriado em São Paulo, mas os recibos de ações (ADRs) da Eletrobras negociados na Bolsa de Nova York (Nyse) fecharam com baixa de 11,7%, a US$  4,95.