
A Raízen anunciou a reformulação da sua área de trading, com foco na redução de riscos e exposição à volatilidade do mercado, para garantir uma atuação alinhada ao seu core-business. A estratégia foi apresentada por executivos da empresa durante a divulgação dos resultados da safra de janeiro a março de 2025.
Com o aumento do prejuízo no período, o diretor Financeiro, Rafael Bergman, destacou que as perdas com operações de trading exigiram a revisão do escopo de atuação da área. “Não esperamos mais resultados de trading ligados à distribuição de combustíveis, exceto os relacionados à competitividade na originação, essencial para atender novos clientes. O mesmo se aplica ao etanol e à bioenergia”, disse.
Bergman explicou ainda que a operação de trading passará a se concentrar em contratos firmados ou em oportunidades específicas de mercado, como janelas de arbitragem, e que não haverá mais volumes significativos de originação voltados à venda subsequente.
O CEO da Raízen, Nelson Gomes, reforçou que a estratégia da empresa será simplificar suas operações, com foco na eficiência e redução de despesas. “Vamos racionalizar nossos investimentos e reduzir o endividamento. O foco está em construir um portfólio menor, porém mais sinérgico e alinhado à nossa atuação principal”, afirmou.
Ano-safra 2025/26
Nelson Gomes ainda destacou a operação de venda da usina Leme, anunciada nesta semana, ao afirmar que a empresa seguirá com a venda de ativos da Raízen Power para reciclar seu portfólio e diminuir a dívida.
Entre 1º de abril de 2025 e 31 de março de 2026, a Raízen pretende otimizar suas estruturas corporativas e operacionais, com expectativa de um ganho nominal de aproximadamente R$ 500 milhões no Ebitda dos segmentos.
Segundo o diretor de Relações com Investidores, Phillipe Casale, a companhia investirá R$ 1,1 bilhão na conclusão de dois projetos de etanol de segunda geração neste ano. Também estão previstos aportes na conclusão de usinas de geração solar distribuída vendidas, com expectativa de recebimento de cerca de R$ 1 bilhão com a entrega dos ativos. A companhia também prevê a conclusão das despesas na Argentina.
“Começamos essa jornada com uma alavancagem alta e este ano ainda não é de redução. Todo o foco está para a redução da dívida e queremos convergir os resultados para um patamar mais saudável que, historicamente, a Raízen operava”, disse Rafael Bergman.
Última safra
Entre janeiro e março de 2025, a Raízen apresentou prejuízo de R$ 2,5 bilhões, acima do desempenho negativo de R$ 878 milhões contabilizados no mesmo período do ano passado.
O Ebitda (lucros antes dos juros, tributos, depreciação e amortização, na sigla em inglês) ajustado foi de R$ 1,72 bilhão, redução de 53%. Em contraste, a receita líquida fechou o ciclo em R$ 57,7 bilhões, alta de 7,5%.
Já a alavancagem, medida pela dívida líquida ajustada/Ebitda ajustado, saiu de 1,3 vezes para 3,2 vezes, com alongamento do prazo médio das dívidas para oito anos.
“Nós substituímos linhas de capital de giro por dívidas mais competitivas que contribuem para o alongamento do prazo médio do endividamento, gerando também um perfil de amortização mais equilibrado ao longo dos próximos anos”, disse Phillipe Casale, diretor de Relações com Investidores.
Segundo a companhia, o lucro foi impactado por desafios operacionais devido ao clima seco e pelas queimadas em canaviais na região Centro-Sul, que comprometeram a performance dos negócios; efeitos não recorrentes, principalmente relacionados à revisão da estratégia de atuação em trading; aumento das despesas financeiras; e a constituição de provisão para não realização de tributos diferidos (R$ -900 milhões em 2024’25).
Desempenho Operacional e Impactos
Na última safra, a companhia registrou redução de 10% no volume próprio de etanol, chegando a 788 m³ ao preço de R$ 3.176 por m³, alta de 33%. A elevação dos preços é justificada pela maior competitividade do etanol frente à gasolina no mercado doméstico, impulsionando a demanda e elevando sua participação no Ciclo Otto, o que compensou o menor volume exportado na safra.
Também houve queda de 34,6% no volume cogerado pela empresa, a 34 MWh, devido a menor disponibilidade de biomassa. Por outro lado, o prazo praticado pela empresa subiu 57,4%, a R$ 299/MWh, reflexo do baixo desempenho das chuvas em fevereiro e março de 2025, impactando o preço spot (PLD).