
A Raízen mantém conversas ativas sobre uma possível capitalização com seus dois controladores (Cosan e Shell) para acelerar a redução do seu endividamento e mitigar riscos na execução operacional do seu plano estratégico. A companhia também avalia novos desinvestimentos em ativos com menor sinergia com seu core business de etanol, açúcar, bioenergia e distribuição de combustíveis no Brasil e na Argentina – segmentos que pretende operar em larga escala.
A afirmação foi feita por Rafael Bergman, diretor Financeiro e de Relações com Investidores da Raízen, durante teleconferência sobre os resultados do primeiro trimestre da safra 2025/26 nesta quinta-feira, 14 de agosto. Segundo ele, a empresa vive um ciclo de transformação operacional e simplificação do portfólio, que envolve desinvestimentos e melhoria no perfil da dívida.
No campo dos desinvestimentos, a Raízen já acumula R$ 3,6 bilhões, dos quais R$ 2,6 bilhões entram em caixa neste ano safra. Bergman afirmou que a empresa pretende dar continuidade a esse movimento e deve anunciar novidades nos próximos trimestres.
Em relação ao perfil da dívida, a companhia registrou dívida líquida de R$ 49,2 bilhões nesta etapa, aumento de 55,8% na comparação com o ciclo anterior. A alta é reflexo, principalmente, da substituição de R$ 8,9 bilhões em linhas de capital de giro (operações de convênios com fornecedores e adiantamento de clientes) por instrumentos de dívida. A mudança está alinhada à estratégia de gestão dos passivos para trazer eficiência e prazos mais longos.
Segundo Bergman, o endividamento reflete a estratégia deliberada de otimizar o prazo do passivo a um custo competitivo e reforçar a liquidez da companhia.
“Em um processo como esse, que é longo e no qual temos confiança, é natural avaliarmos formas de reduzir o risco deste plano e de acelerar essa jornada. É daqui que vem as conversas sobre uma potencial capitalização, que não temos detalhes e nem certezas. Temos conversa ativa com os controladores […]. Operar com um montante de dívida grande tende a ser mais custoso e trazer um pouco mais de risco do que operar com uma dívida menor. Estamos com a missão de diminuir o total da líquida da companhia de forma absoluta”, disse o diretor.
Redução de investimentos e despesas
Nelson Gomes, CEO da Raízen, destacou a redução de 23,4%, na comparação ano contra ano, dos investimentos, o que está em linha com o plano de redução de capex e no foco na disciplina de alocação de capital.
“Também está no nosso foco a renovação e manutenção dos canaviais, expansão da rede da Shell no Brasil e Argentina, a conclusão do projeto da refinaria da Argentina, além da conclusão dos projetos de etanol de segunda geração Vale do Rosário (52% concluída) e Gasa (42% concluída). Tivemos desde o início da nossa gestão desinvestimentos da ordem de R$ 3,6 bilhões , dos quais R$ 2,6 bilhões entram em caixa dentro deste ano safra”, falou Gomes.
Por sua vez, Phillipe Casale, diretor de Relações com Investidores da companhia, destacou a redução nas despesas, com queda de 20% nas despesas gerais e administrativas em toda a companhia. O valor desconsidera uma provisão em etanol, açúcar e bioenergia ligada ao processo de otimização das estruturas e que representa R$ 147 milhões em ganhos de eficiência na comparação com o mesmo período do ano passado.
Casale também pontuou a ampliação de 41% no volume produzido de etanol de segunda geração por meio das unidades Bonfim, Barra e Univalem.
“As duas últimas plantas estão operando dentro do planejado e nós absorvemos todos os aprendizados ao longo desta jornada com o combustível, principalmente com Bonfim. O foco agora é integralmente na estabilidade operacional, na consistência dos processos produtivos operacionais e também na segurança da operação de E2G”, afirmou o diretor.
Raízen safra 2025/26
A empresa registrou prejuízo líquido de R$ 1,8 bilhão no primeiro trimestre da safra 2025/26, após contabilizar lucro de R$ 1,1 bilhão no mesmo período da safra anterior (2024/25).
Segundo a Raízen, houve um aumento das despesas financeiras em razão do maior saldo de dívida e da taxa média do Certificado de Depósito Interbancário (CDI) – taxa de juros utilizada no mercado financeiro brasileiro.
“É importante destacar que a base de comparação (1T 24’25) contempla o reconhecimento de crédito tributário no montante de R$ 1,8 bilhão, referente à tese de exclusão do ICMS da base de cálculo do PIS e Cofins”, diz a companhia.
O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado reduziu 23,4%, somando R$ 1,9 bilhão.Já a receita líquida fechou o ciclo em R$ 54,2 bilhões, queda de 6,1%.
Os resultados foram explicados pela empresa pelo desempenho inferior no segmento de distribuição de combustíveis Argentina, pontualmente impactado pela parada para manutenção da refinaria e por efeitos negativos de inventário.
Na divisão de Etanol, Açúcar e Bioenergia (EAB) da empresa, ocorreu uma menor contribuição decorre do ritmo de moagem inferior e da menor diluição de custos.
Perfil da dívida
A dívida líquida ficou em R$ 49,2 bilhões, aumento de 55,8%, reflexo, principalmente, da substituição de R$ 8,9 bilhões em linhas de capital de giro por instrumentos de dívida. A mudança está alinhada à estratégia de gestão dos passivos para trazer eficiência e prazos mais longos. Desta forma, a alavancagem, medida pela dívida líquida ajustada/Ebitda ajustado, saiu de 2,3 vezes para 4,5 vezes, com alongamento do prazo médio das dívidas para oito anos.
“Temos um patamar de juros altos e, obviamente, que para uma empresa com um patamar de dívida como o da Raizen, isso gera uma pressão de caixa relevante. Mas, os movimentos de portfólio que estamos e vamos seguir fazendo, na nossa visão, trazem uma melhoria relevante no perfil de risco do negócio”, disse Rafael Bergman.
Desempenho por segmento
- Etanol: produção própria caiu de 672 mil m³ para 497 mil m³; exportações recuaram de 37% para 24% da produção, por conta da menor competitividade. Preços médios subiram de R$ 2.566/m³ para R$ 3.001/m³.
- Bioenergia: volume de cogeração caiu 21,4%, de 683 MWh para 537 MWh, pela menor disponibilidade de biomassa. Preços subiram 2,4%, para R$ 216/MWh.
- Distribuição no Brasil: vendas totais cresceram 0,4%, com alta de 3,1% no diesel e queda de 3% no ciclo Otto.
- Distribuição na Argentina: vendas aumentaram 9%, mas houve uma menor rentabilidade pela parada da refinaria e maior necessidade de importações a custos elevados.