
A reforma do setor elétrico brasileiro contempla “temas caros” e complexos, discutidos há anos por especialistas e agentes do mercado. Para Gustavo Estrella, presidente da CPFL Energia, a agenda regulatória é positiva e representa uma evolução natural do setor rumo a padrões observados em mercados mais maduros.
“São dores que o setor tem como, por exemplo, a carga de subsídio elevada. Estamos na direção certa e a nossa visão é de levar inputs para o Ministério de Minas e Energia para avançar na direção que garanta sustentabilidade ao setor no longo prazo”, disse o executivo em teleconferência para apresentação dos resultados do primeiro trimestre de 2025 (1T25).
Um dos pontos “caros” da Medida Provisória citado por Estrella é a mudança dos critérios de caracterização do autoprodutor, modalidade que tem isenção de encargos proporcionalmente à energia gerada. Ponto indicado por ele como “carente de regulamentação”.
Curtailment e preços
A CPFL Energia projeta pressão sobre o Preço de Liquidação das Diferenças (PLD) ao longo de 2025, em razão dos desafios hidrológicos, com o índice de afluência em torno de 70% da Média de Longo Termo (MLT), medida utilizada para comparar as condições atuais de afluência da água nas hidrelétricas com um histórico médio.
Estrella também comentou sobre o impacto do curtailment (corte de geração) no desempenho operacional da empresa, que resultou em um efeito negativo de R$ 47 milhões no Ebitda do trimestre. Em sua opinião, o grupo de trabalho (GT) do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) deve avançar em soluções de longo prazo para mitigar os impactos desses cortes.
Concessões das distribuidoras e reajuste
Após manifestar interesse em prorrogar antecipadamente as concessões das distribuidoras RGE, CPFL Paulista e Piratininga, Estrella espera que o processo seja conduzido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e pelo Ministério de Minas e Energia (MME) nas “próximas semanas”.
Caso aprovado, o pedido pode ter efeito imediatos das cláusulas contratuais e efetivação da prorrogação da concessão por mais 30 anos a partir de 6 de novembro de 2027 para a RGE, 20 de novembro de 2027 para a CPFL Paulista, e 23 de outubro de 2028 para a CPFL Piratininga.
O executivo também espera uma evolução do processo de reajuste tarifário da CPFL Santa Cruz nas próximas semanas ou meses. O mbróglio começou em 2004, quando a CPFL Brasil entrou na Justiça contra a Aneel para afastar normas impostas pela agência a um contrato celebrado entre a CPFL Brasil e a CPFL Paulista, assinado antes de uma mudança nas regras que afetou um contrato assinado um ano antes com a CPFL Paulista.
“Talvez o valor [a ser corrigido] seja o grande tema na mesa, assunto bem embasado pela companhia e pela própria agência, e estamos em um processo de cumprimento formal. Mas, entendemos que não há discussão em relação ao valor, mas sim rito formal interno de aprovação pela agência”, destacou.
>> Entenda: CPFL tenta obrigar Aneel a publicar reajuste, mas Justiça recusa pedido
CPFL 1T25
A CPFL Energia contabilizou lucro líquido de R$1,62 bilhão no primeiro trimestre deste ano, redução de 8% na comparação anual, reflexo do menor desempenho do Ebitda, maiores despesas financeiras líquidas e uma maior alíquota efetiva (32,5% no 1T25 ante 29,3% no 1T24).
O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) somou R$3,85 bilhões, queda de 0,4%, sendo impactado pelo efeito extraordinário da remensuração a valor justo em investimento registrado na Paulista Lajeado.
Por outro lado, a receita líquida totalizou R$ 10,65 bilhões, alta de 4,8%.
A dívida líquida alcançou R$ 26,53 bilhões no final de março, crescimento de 3,8%. A alavancagem, medida pela relação entre dívida líquida e Ebitda ajustado, foi de 2,04 vezes, elevação de 0,11 vez.
De acordo com a companhia, para mitigar possíveis exposições ao risco de flutuações do mercado, cerca de R$ 4,1 bilhões em dívida possuem operações de hedge. Visando a proteção do câmbio e da taxa atrelada ao contrato, para as dívidas em moeda estrangeira foram contratadas operações de swap.
Resultado operacional
No segmento de distribuição, as vendas de energia na área de concessão da empresa tiveram um acréscimo de 1,6%, a 18.917 GWh. O destaque foi para as classes residencial e industrial que apresentaram crescimentos de 2,7% e 1,3%, respectivamente, favorecidas pelo crescimento vegetativo e efeitos macroeconômicos.
“A geração distribuída também segue com impactos relevantes, acima de 4% nas duas classes, mas tivemos um aumento do consumo per capita, o que levou a um desempenho favorável”, disse Estrella.
Em geração, o desempenho da empresa caiu 38,4%, a 2.446 GWh, sendo a principal redução nos projetos de biomassa após transferência para o grupo Pedra em novembro de 2024, deixando de pertencer ao grupo CPFL.
Entre as fontes hídricas e solar, a única que registrou alta foi a eólica, que subiu 5%, a 666 GWh. Segundo a companhia, o curtailment (corte de geração) impediu que a geração crescesse mais 22%, o que representou um impacto de R$ 47 milhões no ebitda do período.
Os custos com energia comprada para revenda subiram 6,8%, devido, principalmente, ao crescimento dos custos com leilão, contratos bilaterais e preços de curto prazo. O aumento do Proinfa (valores das cotas de custeio) e do preço da energia comprada de Itaipu, decorrente do aumento do dólar em 2025, também impactaram.