As chuvas dos últimos meses de 2021 devem ajudar nos resultados das empresas de energia, segundo analistas de mercado. A melhora do cenário hídrico atenuou a pressão do GSF sobre as hidrelétricas, ao mesmo tempo em que levou a uma forte queda do PLD, retirando pressão sobre as geradoras com exposição ao risco hidrológico.
A temporada de balanços do quarto trimestre do ano passado começa no setor de energia na noite desta segunda-feira, 14 de fevereiro, com a divulgação dos resultados da Engie e da Raízen Energia.
“Depois de uma das piores secas de toda a série histórica, o período chuvoso começou com o pé direito e os níveis dos reservatórios finalmente começaram a se recuperar em outubro, chegando a 48% da capacidade em janeiro”, escreveram os analistas do Itaú BBA, Marcelo Sá, Filipe Andrade e Luiza Candiota, em relatório enviado a clientes. Segundo os analistas, as hidrelétricas expostas ao PLD devem se beneficiar dos menores preços no mercado de curto prazo.
O PLD médio do Sudeste/Centro-Oeste foi de R$ 135/MWh no quarto trimestre do ano passado, 62% menor na comparação anual, mas o GSF ficou em 33,7%, acima do déficit de 31,6% nos últimos três meses de 2020.
O JP Morgan vê um trimestre “melhor, mas não ótimo” para as geradoras, e prevê resultados melhores para Cesp, AES Brasil e Light por conta da melhora de cenário hídrico.
Apesar da melhora de cenário, o Itaú BBA vê a continuação dos resultados ruins para a AES Brasil. O relatório do banco aponta que a companhia comprou um volume significativo de energia a preços altos no primeiro semestre do ano passado para mitigar os impactos do GSF, e o resultado operacional deve cair na base de comparação anual, mesmo com a entrada de projetos de geração eólica em operação.
O alerta sobre os preços dos contratos bilaterais também foi feito pelo Credit Suisse. “Esperamos que as geradoras expostas à fonte hídrica serão menos afetadas pelos custos de compra de energia, mas lembramos que algumas companhias compraram energia adicional durante o ano a preços altos para repor o portfólio”, escreveram os analistas Carolina Carneiro e Rafael Nagano.
Outro destaque em geração, segundo o Credit Suisse, é que com o aumento das chuvas, os ventos ficam consequentemente mais fracos, reduzindo a geração de energia pelas eólicas.
Distribuição
Enquanto a geração foi beneficiada pelas chuvas, as baixas temperaturas acabaram influenciando na queda da demanda de energia no período. De acordo com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o consumo de energia recuou 1,4% no quarto trimestre de 2021 na comparação com o mesmo período do ano anterior.
Empresas como EDP Brasil, Neoenergia, Copel e Energisa já reportaram dados operacionais de 2021 mostrando uma forte queda no volume da energia vendida, principalmente no mercado cativo.
Ainda assim, os analistas do Credit Suisse acreditam que os resultados do quarto trimestre serão bons para as distribuidoras, que foram beneficiadas por ajustes positivos na Parcela B da tarifa, e pelo controle das perdas e inadimplência.
A inflação em alta é outro ponto que ajuda nos resultados das distribuidoras. Segundo os analistas Fernando Abdalla, Henrique Peretti e Milena Carvalho, do JP Morgan, os ajustes tarifários no período devem impulsionar o faturamento das companhias, assim como os ajustes na Parcela B, que contempla gastos não gerenciáveis pelas empresas.
O nome preferido do JP Morgan, considerando o cenário geral, é a CPFL, diante da perspectiva de que a companhia vai distribuir 100% do lucro em dividendos.
Para o Itaú BBA, a Neoenergia é destaque, apesar da queda de 1,4% na energia total injetada na rede. O otimismo do banco é explicado pela melhora da companhia no combate às perdas e inadimplência, e também pelo impacto positivo do IGPM em alta na tarifa, já que algumas distribuidoras têm o reajuste indexado ao indicador.
Transmissão
Em relação às transmissoras, os analistas esperam resultados sem grandes novidades quando contabilizados de acordo com as normais internacionais (IFRS), já que há poucas linhas de transmissão em construção.
Já os resultados regulatórios, considerados mais adequados para analisar o cenário atual das companhias, devem vir positivos devido ao início da geração de caixa de ativos que entraram em operação, segundo o Credit Suisse.
Como as receitas das transmissoras também são atualizadas pela inflação, os analistas esperam bons pagamentos de dividendos no período. Taesa e Cteep, contudo, anteciparam a distribuição de dividendos ao longo do ano passado, o que deixa o espaço para novas distribuições mais restrito, de acordo com o Itaú BBA.
Calendário
A Engie e a Raízen Energia divulgam seus resultados hoje e fazem teleconferências com investidores amanhã, 15 de fevereiro, no mesmo horário, às 11h. No dia 16, é a vez das divulgações de EDP Brasil e WEG, que fazem as teleconferências no dia 17, às 10h e 11h, respectivamente. Na quinta-feira, 17, publicam os resultados de 2021 as empresas Neoenergia, Aeris e Taesa. A primeira faz a teleconferência no dia 18 às 10h, e Aeris e Taesa prestam informações ao mercado na sequência, às 11h.
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