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Rosatom diversifica produtos e reforça que energia nuclear está no futuro da transição energética

A perspectiva de descomissionamento de plantas nucleares nos próximos anos, aliada à necessidade de triplicar a geração de renováveis no mundo até 2030, para combater as mudanças climáticas, traz perspectivas para que uma nova capacidade de geração nuclear seja adicionada. “O futuro nuclear está nos esperando. Estamos fazendo esforços e contribuições para esse futuro”, disse Kirill Komorov, primeiro vice-diretor-geral da Rosatom State Atomic Energy em entrevista coletiva ao final do Atomexpo 2024, realizada entre os dias 25 e 26 de março em Sochi, na Rússia.

Пленарная сессия «Чистая энергетика: создавая будущее вместе». 25 марта 2024
Пленарная сессия «Чистая энергетика: создавая будущее вместе». 25 марта 2024

A perspectiva de descomissionamento de plantas nucleares nos próximos anos, aliada à necessidade de triplicar a geração de renováveis no mundo até 2030, para combater as mudanças climáticas, traz perspectivas para que uma nova capacidade de geração nuclear seja adicionada.

“O futuro nuclear está nos esperando. Estamos fazendo esforços e contribuições para esse futuro”, disse Kirill Komorov, primeiro vice-diretor-geral da Rosatom State Atomic Energy em entrevista coletiva ao final do Atomexpo 2024, realizada entre os dias 25 e 26 de março em Sochi, na Rússia.

Neste futuro, a expectativa é aumentar a exportação de equipamentos nucleares, após um ano de 2023 considerado muito importante para a companhia, com a conclusão da construção de uma central nuclear na Bielorrússia, além de projetos representativos na Turquia, China, Índia e Irã.

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“Foi um ano muito importante do ponto de vista das tendências que vemos no mercado de combustíveis nucleares”, disse o executivo da Rosatom.

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Segundo Komorov, a Rosatom continua liderando o mercado e produzindo muitos produtos a partir do urânio, além da geração de energia elétrica, apesar das sanções de países europeus e da América do Norte à Rússia. “Estamos construindo fábricas em diferentes países e temos que ter muito cuidado nesta área [política]. Também quero dizer que o negócio da Rosatom cresceu muito e tem sido um sucesso: em 2023 os lucros das nossas atividades no exterior mais que dobraram, com fornecimento de combustível, urânio refinado e construção de usinas”, falou Kirill Komorov.

A venda de novos produtos pela companhia também cresceu, englobando o desenvolvimento de baterias para veículos elétricos, para ferrovias de alta velocidade, para aviação, e medicina nuclear. Para ele, a indústria nuclear que não se relaciona com a política tem um futuro muito bom, uma vez que “não há energia boa ou má. Temos a indústria nuclear que oferece energia segura e acessível”.

Pequenos reatores nucleares ganham espaço no futuro indústria nuclear 

Um dos painéis mais concorridos da Atomexpo 2024 foi sobre as oportunidades e desafios para os pequenos reatores nucleares (SMR, na sigla em inglês). O modelo tem sido visto como uma solução para levar energia a regiões remotas, para consumo industrial ou residencial.

Dentro da indústria nuclear, apenas duas empresas possuem projetos avançados para comercialização desse tipo de reator: a russa Rosatom e a China National Nuclear Power (CNNP), ambas presentes na sessão. A expectativa é que haverá um crescimento expressivo da implementação dos SMRs, apoiando também os países em sua descarbonização.

Anton Lebedev, diretor-geral da ZiO Podolsk PJSC, braço de engenharia da Rosatom e que produz esses reatores próximo da capital Moscou, aponta que a solução, muitas vezes instalada em unidades flutuantes (Floating Power Unit) atracadas próximas à área de consumo, é uma alternativa à geração por carvão e outros combustíveis fósseis, com a conveniência de fornecimento contínuo e preços mais baixos.

Dados sobre a emissão de CO2 ou dos valores de investimentos desses projetos, no entanto, não foram revelados por Lebedev, que argumentou que o valor depende da negociação com clientes e localidades de atendimento.

As unidades flutuantes com os pequenos reatores são levadas à localidade do projeto, dentro ou fora da Rússia, e não há descarte de material no local. Para reabastecimento ou manutenção, por exemplo, outra unidade é preparada e enviada ao local e a substituída retorna à Rússia.

Para receber a FPU, uma infraestrutura costeira e instalações onshore devem ser construídas, abrigando prédio de segurança, estação de transformação, entre outros. Tudo previsto no contrato com a empresa.

A primeira unidade flutuante, chamada de Akademik Lomonosov, tem capacidade instalada de 77 MW para geração de energia e 300 MW de capacidade térmica, com um ciclo de vida de 40 anos. Sua instalação supre atividades de mineração, infraestrutura civil e portos, em Pevek, cidade com população de 100 mil habitantes.

A unidade entrou em operação em maio de 2020. Outros três modelos de FPUs, com capacidade de geração entre 100 MW e 180 MW, estão no portfólio da companhia. Entre eles, a primeira versão comercial do RITM-200N, com 50 MWe e fator de capacidade de 90%, que a empresa prevê lançar até 2028.

Dados da Agência de Energia Nuclear (NEA, na sigla em inglês) apontam, em um cenário “ambicioso”, que a capacidade instalada dos pequenos reatores pode alcançar 375 GW até 2050.

Brics ensaiam grupo para o segmento nuclear

A possibilidade de expansão dos projetos nucleares, em geração de energia, pesquisa e desenvolvimento, tecnologia ou medicina, está sendo vislumbrado pelo Brics, grupo formado pela parceria entre Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

Durante a Atomexpo 2024, o grupo se reuniu buscando avançar em parcerias no segmento. Além do apoio e consenso dos países, a formação de um grupo de discussão dentro do Brics depende de outros passos, como o desenvolvimento de documentos técnicos, viabilidade política e comercial. A partir daí, também será necessário buscar o apoio financeiro para desenvolvimento de programas.

Parcerias e cooperações técnicas e educacionais

O evento contou com a participação de representantes de 75 países e foi palco de assinaturas de memorandos de entendimento (MoUs) para intercâmbios educacionais e no apoio de pesquisas. Um deles ocorreu entre as universidades de Pesquisa Nuclear de Moscou (MEPhI) e a de El Salvador.

Isolda Costa, diretora do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares do Brasil (Ipen), também marcou presença no Atomexpo e recebeu um diploma honorário da Global Energy Association pela sua contribuição para o desenvolvimento do diálogo energético internacional.

“Este prêmio não é apenas meu, mas também da Comissão Nacional de Energia Atômica do Brasil (Cnen), bem como do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), onde trabalho há 42 anos. A nossa missão é melhorar a qualidade de vida das pessoas e nós realmente a cumprimos”, afirmou Isolda Costa.

Isolda Costa também atua como orientadora de pós-graduação na área de energia nuclear: mais de 40 alunos de mestrado e doutorado defenderam seus trabalhos sob sua orientação.

*A jornalista viajou a convite da Rosatom