A AES Brasil espera reverter a decisão favorável obtida pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) contra a liminar que pedia o ressarcimento para eventos de constrained-off por restrição da operação em seus parques eólicos. Segundo Rogério Jorge, CEO da companhia, a expectativa é que as discussões “consumam o tempo e recursos” dos geradores, principalmente para os projetos no Nordeste.
A liminar foi derrubada pela Aneel em julho, sob a prerrogativa de que não havia urgência na decisão para justificar uma liminar, pelo contrário, a alteração da regra em questão exigiria uma análise especializada dos impactos que geraria em todo o sistema. Antes da decisão, a Justiça havia dado uma resposta positiva aos geradores e determinado que a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) fizesse os pagamentos das compensações às empresas na liquidação do mercado livre.
A CCEE, contudo, disse que não poderia operacionalizar a decisão sem que a Aneel estabelecesse uma metodologia para o pagamento das compensações.
Em teleconferência para apresentação dos resultados do segundo trimestre do ano, Jorge destacou que a geração eólica bruta atingiu 1.341,6 GWh no período, aumento de 32,2%. No entanto, o curtailment do seu portfólio eólico totalizou 91,8 GWh no trimestre (vs 18,4 GWh no 2T23), com destaque para a restrição de 34,6 GWh no complexo eólico de Cajuína.
Segundo o CEO da empresa, o parque eólico de Cajuína, ainda em fase final de construção, foi um dos mais impactados, com chance de ter sofrido cortes duas vezes e meia maior do que o volume oficialmente reportado pelo ONS.
“Mesmo com as turbinas disponíveis, não houve registro de velocidade dos ventos no sistema do operador. Com isso, toda geração que foi impedida, na prática, não foi contabilizada nos dados oficiais. Ou seja, na realidade, a geração da AES poderia ter sido muito maior”, destacou Jorge.
Em termos comparativos, a representatividade do curtailment na geração potencial das usinas eólicas da AES Brasil atingiu 6,4% no trimestre, aumento de 4,6 pontos percentuais na comparação com o 2T23, considerando os dados do operador. Segundo a AES, com base em seus dados, os cortes chegaram a cerca de 15% na etapa. Caso não existisse a restrição obrigatória, a sua geração eólica teria crescido 39% entre os trimestres, disse o executivo.
Fim dos cortes
Para o presidente da geradora, ainda não é possível bater o martelo sobre o fim do curtailment, dada a existência de fatores positivos como a conclusão de uma série de obras de transmissão, a repotencialização de estações terminais e o aumento e construção de linhas que podem ajudar a reduzir a restrição elétrica e aumentar a confiabilidade do sistema, fazendo com o que o operador eleve o volume de escoamento. Por outro lado, o Brasil tem passado por um crescimento exponencial da geração distribuída (GD) e por um crescimento da oferta.
“Nós passamos por um ano quente e isso ajuda a aumentar a carga, principalmente no Nordeste, o que reduz a necessidade de corte. [Entretanto], temos a construção de plantas centralizadas das fontes eólica e solar, aumentando a oferta, e a geração distribuída tende a diminuir a carga líquida do sistema, principalmente no horário solar. Então, é difícil saber se os cortes devem ou não continuar”, disse Rogério Jorge.
Sem um prazo para o fim do imbróglio, o executivo destacou que a AES tem participado junto a associações setoriais de ações judiciais, com diversas em fase inicial de instrução, sendo que a principal foi derrubada pela Aneel em julho.
“A principal delas teve uma decisão liminar de primeira instância, que está agora em fase de recurso e esperamos reverter essa decisão para voltar com a liminar que obriga a CCEE a fazer o ressarcimento. Mas, essa discussão vai longe e, na nossa visão, vai consumir bastante tempo e recurso do setor todo, em particular dos geradores que têm um portfólio grande e renovável no Nordeste”, concluiu Rogério Jorge sobre o assunto.
Perspectiva para preços
No segundo trimestre, a AES Brasil assinou novos PPAs para o fornecimento de 100 MW médios de energia convencional, com preço médio entre R$ 185 e R$ 206 por MWh, para os anos de 2026, 2027 e 2028. Rogério Jorge espera uma retomada da liquidez, com um crescimento da volatilidade, tendo em vista o período mais seco, o aumento da carga e o início do Newave híbrido em 2025.
“O mercado já está colocando tudo isso no preço, que pode apresentar uma maior volatilidade. Esperamos que tanto a queda quanto a subida dos preços seja agressiva e, tudo isso, está assustando os clientes”, afirmou o executivo.
Segundo o CEO, os consumidores estão comprando energia até quatro anos para frente e a AES tem aproveitado a oportunidade para “travar” acordos com um volume relevante de energia.
Compra pela Auren
Sobre a aquisição da AES Brasil pela Auren, após aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), o executivo destacou que as empresas aguardam a autorização da Aneel. A expectativa é que a nota técnica seja publicada até o final de agosto, em paralelo às negociações com os bancos de fomento.
“Com a operação, foi criada uma empresa denominada ARN Energia Holding S.A, com capital integralmente detido pela Auren. Acreditamos que esse acordo possui benefícios de sinergias corporativas, operacionais e financeiras, com um sólido portfólio de ativos de geração e comercialização de energia para atender à crescente demanda de energia renovável no Brasil. A expectativa é que o closing da operação ocorra em outubro”, destacou o CEO da empresa.
Resultado AES Brasil
A geradora registrou prejuízo ajustado de R$ 104,1 milhões no segundo trimestre do ano, revertendo o lucro de R$ 35,9 milhões contabilizados na mesma etapa de 2023.
A dívida bruta consolidada totalizou R$ 12,1 bilhões ao final do trimestre, 2,5% acima do mesmo período do ano anterior (R$ 11,8 bilhões).
Segundo a companhia, o desempenho foi impactado pelo crescimento de 21,1% nas despesas financeiras, que somaram R$ 334,2 milhões, e aumento de 10,1% nos custos e despesas gerais e administrativas, que somaram R$ 184,8 milhões no trimestre, ajustado pelos efeitos não recorrentes.
Por outro lado, a receita operacional líquida totalizou R$ 871,9 milhões no período, aumento de 14,3% em comparação ao segundo trimestre de 2023. Já o Ebitda ajustado totalizou R$ 373,2 milhões, 7,4% superior ao registrado na mesma etapa do ano anterior.
Os números foram influenciados pelo crescimento das receitas das eólicas, devido a entrada em operação gradual de Tucano e Cajuína, que contribuíram com o aumento de 319,1 GWh (+221,6%) no volume de geração entre os períodos, e da aceleração do processo de manutenções e reparos programados dos aerogeradores referentes aos parques eólicos adquiridos via fusões e aquisições.
Além disso, o aumento da disponibilidade média do portfólio e a retomada da velocidade dos ventos foram parcialmente compensados pela maior incidência de curtailment no trimestre, que, segundo o ONS, foi 73,4 GWh superior ao 2T23, equivalente a quase quatro vezes, e pela contabilização de R$ 27 milhões no 2T23, decorrente do ressarcimento por atraso previsto nos contratos de construção e fornecimento de turbinas em Tucano – que não se repetiu em 2024.
Em compensação, os projetos hídricos e solares sofreram reduções R$ 14, 8 milhões e R$ 2,1 milhões, respectivamente. Nos ativos hídricos, a queda ocorreu na receita não recorrente referente ao volume de exportação de energia de vertimento turbinável de cerca de R$ 9,7 milhões no 2T23, acrescido do aumento nas despesas de seguros pela renovação das apólices.
Para as solares, a redução foi reflexo de uma menor geração em função da perda na eficiência dos módulos e provocada pela intensificação da sujeira em função do tempo seco.
Geração
O despacho das hidrelétricas da AES pertencentes ao Mecanismo de Realocação de Energia (MRE), instrumento de compartilhamento do risco hidrológico, foi menor no 2T24 se comparado ao mesmo período de 2023, dada a finalidade de preservar os reservatórios em níveis confortáveis após um cenário de afluência abaixo das expectativas para o período úmido, encerrado em abril de 2024.
Como reflexo do cenário hidrológico do período, e considerando, principalmente o menor despacho hídrico pelo ONS, o volume total de energia bruta gerada pelas hidrelétricas da AES Brasil atingiu 1.736 GWh na etapa, queda de 37% na mesma base de comparação.
A geração eólica bruta atingiu 1.341,6 GWh no trimestre, aumento de 32,2%. De acordo com a empresa, houve uma intensificação do curtailment registrado no seu portfólio eólico, totalizando 91,8 GWh no trimestre (vs 18,4 GWh no 2T23), com destaque para a restrição de 34,6 GWh em Cajuína.
Os complexos solares registraram geração bruta de 123,8 GWh no 2T24, redução de 4,8% no trimestre.