Operação

Sem leilão de reserva, ONS prevê manejar recursos para atendimento à ponta

Cerca de 3 GW por ano em recursos de potência devem ser usados anualmente

Sala de Controle do ONS em Recife - Divulgação
Sala de Controle do ONS em Recife - Divulgação

O atual paradigma do setor elétrico em torno da restrição de potência tem colocado em foco a flexibilidade operativa como ponto crítico, em que atributos para atender à ponta de carga passam a ser questões essenciais para o Brasil. Segundo Alexandre Zucarato, diretor de Planejamento do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), no momento, a situação pode ser resolvida por meio de manobra de recursos pelos próximos quatro anos.

Entretanto, apesar do controle da situação, cerca de 3 GW por ano em recursos de potência devem ser usados anualmente para garantir a segurança da operação, por meio de leilões de reserva de capacidade, usinas reversíveis, expansão de hidrelétricas, resposta da demanda e outras formas de armazenamento de potência.

>>ONS avalia leilões de reserva de capacidade anuais para garantir atendimento da ponta.

“Além da sobra de energia e da escassez de potência, a flexibilidade operativa passa a ser um atributo crítico, que não aprendemos medir direito. Hoje, em um dia típico, em função da geração solar e do tamanho dela dentro do sistema, precisamos modular a geração hidrelétrica todo dia em torno de 30 GW”, destacou Zucarato em painel da 16ª edição do Fórum Latino-Americano de Smart Grid.

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Após o painel, o diretor do operador falou para jornalistas que o cenário considera que, a partir de 2025, há marginalmente uma violação do critério de suprimento de potência, que vai crescendo ao longo dos anos, além do descomissionamento de térmicas em fase final de contratos nos próximos anos.

Sobre a realização do leilão de reserva de capacidade ainda em 2024, Zucarato pontuou que tendo em vista que o certame prevê no desenho original produtos entre 2027 e 2028, a construção de ativos em 2025 é “irrealista”, o que pode, eventualmente, levar à recontratação de projetos existentes. Para o diretor, é possível remanejar recursos nos próximos anos para atender à restrição.

>> Atraso em regras pode adiar início de suprimento do leilão de reserva de capacidade.

“Todo ano vamos precisar de leilões ou vamos administrar uma incerteza em relação à projeção da demanda. Talvez seja algo igual ao passado, com um certame A-5 para contratar com cinco anos de antecedência, complementado com um leilão A-3 para fazer o ajuste de fundo ou A-4 ou A-2, depende do tempo de maturidade da projeção dos ativos candidatos”, explicou.

Zucarato ainda falou sobre a possibilidade de antecipação de contratados do leilão de reserva de capacidade de 2021, como o caso da Termopernambuco, da Neoenergia, para ajudar no atendimento, além de outros mecanismos.

“Há medidas que podem ser adotadas para trazer a necessidade de 2025 no enquadramento de critério de suprimento. Ainda há tempo de manejar recursos e atender os quatro anos que enxergamos, depois é necessário um leilão todo ano para atender a necessidade de potência. Organizar os leilões de reserva de capacidade fará parte de uma nova rotina”, disse.

O ‘coringa’ do setor elétrico

Além dos certames, outro item para ajudar na restrição são as baterias, chamadas de “coringas” por Zucarato, os equipamentos têm várias portas de entrada no Sistema Interligado Nacional (SIN), porém com diferentes impactos aos seus financiadores.

Em setembro, o Ministério de Minas e Energia (MME) instaurou, pelo prazo de 30 dias, consulta pública para discutir proposta da portaria sobre regras do primeiro leilão de reserva de capacidade exclusivo para sistemas de armazenamento de energia.

previsão é que o leilão seja realizado em junho de 2025, com contratação de sistemas que devem entrar em operação em 2029, porém, em sua contribuição para a discussão, o ONS pediu a antecipação do produto para 2026.

Os sistemas também foram apontados como solução para outro problema do setor, os corte de geração em renováveis. Zucarato explicou os cortes sob a perspectiva do operador, afirmando que acontecem para assegurar que a operação está dentro de uma região de segurança para não colocar em risco o atendimento às cargas do Brasil e não gerar perturbações e, consequentemente, os blecautes.

“A quantidade de geração do sistema é grande e precisamos garantir que a operação ocorra dentro de uma região de segurança adequada. Hoje, a consequência disso é o corte de geração. Precisamos restringir a operação dentro de um sistema e de uma região de segurança por uma questão de critério de confiabilidade do atendimento às cargas”, destacou.

O diretor ainda ressaltou a importância da realização dos leilões de transmissão, que devem garantir a entrada de redes nos próximos dois anos para aumentar a capacidade de intercâmbio entre as regiões do país.

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