Na manhã da última terça-feira, 31 de agosto, o CEO da Zletric, Pedro Schaan, entrou em uma reunião ansioso pelo início de uma rodada de captação de investidores pessoa física, que aconteceria às 9h. Apenas 1h30 depois, a rodada já havia terminado, depois de atingir o teto permitido para operações do tipo, de R$ 5 milhões, por meio do aporte de 207 investidores.
“Estamos brincando que é o maior dos menores IPOs, porque batemos o teto permitido e tem mais R$ 1 milhão a R$ 2 milhões na fila para entrar, então fomos surpreendidos”, comemorou o executivo, que foi um dos fundadores da startup em 2019.
A empresa pretende usar os recursos para avançar em seu modelo de negócios, que envolve soluções inteligentes para mobilidade elétrica urbana, por meio do desenvolvimento e instalação de estações de carregamento de veículos elétricos. Até agora, já há cerca de 100 estações instaladas, e a startup pretende atingir 300 até o fim do ano, por meio de negócios com consumidores residenciais ou mesmo condomínios, estacionamentos, shoppings e universidades, por exemplo.
A tecnologia foi desenvolvida no Brasil pela própria companhia, e a fabricação é feita por terceiros, também no país, sob licença da Zletric. Ao invés de vender os carregadores, a empresa os aluga por valores significativamente mais baixos. O diferencial, segundo Schaan, é um software que registra o consumo por usuário e envia diretamente para a administradora do condomínio, evitando conflitos por parte de outros moradores.
“Quando você compra um veículo elétrico, recebe um carregador. Se você for ligar ele na tomada da garagem, no seu condomínio, como saber quanto de energia está gastando? A nossa estação custa R$ 169,00 por mês, nós instalamos, ela usa baixa potência, e faz a medição enquanto carrega o veículo. Essa estação manda os dados para a nuvem, sem interação humana, e enviamos para a administradora do condomínio. A pessoa já paga água, gás no boleto do condomínio, então vamos abrir mais uma linha nesse boleto”, explicou Schaan.
Os carregadores começam com 3,5 kW de potência, o que leva em média 10 horas para concluir o carregamento do veículo, que poderá rodar cerca de 150 km. A Zletric também tem carregadores de 7 kW e 22kW, este último já sendo considerado um carregador rápido, mas o custo de implantação é alto e é uma potência alta para a rede residencial, segundo o executivo.
Considerando a tendência de crescimento da mobilidade elétrica e o carregamento de diversos veículos de forma simultânea na mesma garagem, a Zletric também tem um software que torna o processo mais eficiente e otimizado, evitando sobrecarregar a rede.
A empresa nasceu em Porto Alegre, e atua também em Florianópolis e cidades no interior catarinense, mas seu foco está em São Paulo, tanto pelo poder econômico quanto para as vantagens oferecidas aos motoristas da capital paulista, como isenção de rodízio e desconto de 50% no IPVA. Além disso, em março deste ano foi aprovada uma lei municipal que obriga os novos edifícios a serem construídos com a infraestrutura de carregamento de veículos elétricos. A alta dos preços dos combustíveis fósseis só reforça a competitividade do modelo, de acordo com Schaan, que prevê um boom de investimentos no segmento.
“Nós entendemos que uma rede pulverizada vai atender as pessoas, fazendo com que se sintam seguras para comprar um carro elétrico. O mercado está esperando o aumento da rede para viabilizar os carros, mas é um desafio do ovo ou da galinha. Tomamos a decisão de fazer o investimento mesmo com poucos carros, e vamos chegar a mil estações de carregamento”, disse Schaan, lembrando que há cerca de 50 mil veículos elétricos rodando no país, um mercado ainda muito pequeno. O objetivo da companhia é chegar às mil estações já em 2022.
A rodada colocou 10% da empresa nas mãos dos novos investidores, o que implica em um valuation de R$ 50 milhões para o negócio.
Os recursos dessa rodada de captação foram levantados por meio da CapTable, que seleciona startups com potencial de crescimento e leva as oportunidades aos investidores em rodadas de crowdfunding. Segundo Schaan, 48% do capital levantado será investido na expansão da rede, fabricação de novos equipamentos e instalação dos carregadores em pontos considerados estratégicos. Outros 22% serão destinados ao marketing e vendas, para expandir a imagem da empresa. O restante do valor vai sustentar as suas operações nos próximos dois anos.