A implantação de novas usinas eólicas e solares fotovoltaicas no Brasil pode cair, em média, 8% na próxima década, com impacto mais acentuado no Nordeste, onde a redução média pode chegar a 11% em comparação com apenas 2% na região Sudeste/Centro-Oeste. As projeções são da consultoria Wood Mackenzie que indica os sistemas de armazenamento em baterias como a principal solução para conter o declínio.
O recuo deve ocorrer após o país adicionar cerca de 76 GW em nova capacidade até 2035, crescimento que deve ser impulsionado por projetos que buscam aproveitar descontos nas tarifas de transmissão e distribuição, além da expansão da geração solar distribuída, que pode subir a uma taxa média anual de 5,5%.

Desaceleração das fontes renováveis
Após esse pico, o relatório indica uma desaceleração devido à combinação de fatores, como excesso de oferta, aumento nas tarifas de módulos fotovoltaicos e o fim dos descontos no uso da rede proposto pela Medida Provisória (MP) 1.300, que ainda será avaliada pelo Congresso Nacional.
“Dada a janela estendida para subsídios tarifários, os geradores renováveis estão adiando suas estratégias de negócios até que as incertezas regulatórias sejam resolvidas e os preços melhorem”, afirmou Marina Azevedo, analista sênior da Wood Mackenzie.
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Descompasso com transmissão
Mesmo com novas linhas de transmissão planejadas até 2029, como o bipolo Silvânia-Graça Aranha, as taxas de escoamento de energia continuam insuficientes para acompanhar o crescimento da oferta, especialmente nos horários de pico da geração solar.
O bipolo, de 800 kV e cerca de 1.468 km de extensão, busca escoar a energia excedente do Nordeste para o Centro-Sul do país, principalmente de fontes renováveis. A linha foi arrematada pela chinesa State Grid em leilão em dezembro de 2023 e envolve R$ 18 bilhões em investimentos.
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Armazenamento em baterias é solução crítica
De acordo com a Wood Mackenzie, apenas a combinação entre sistemas de armazenamento de energia em baterias e a expansão da rede de transmissão, a partir de 2030, será capaz de conter a queda nas novas instalações de usinas renováveis.
A partir de 2032, o uso de baterias e o avanço de tecnologias que prolongam a duração do armazenamento deverão ser essenciais para reduzir as perdas e estabilizar o sistema elétrico.
“As adições de transmissão sozinhas não resolverão o problema. Baterias e medidas de resposta à demanda serão fundamentais para absorver o excesso de oferta e converter energia desperdiçada em receita”, explicou Fernando Dorand, analista da consultoria.
Contudo, os especialistas alertam para a necessidade de apoio regulatório. Os altos custos de capital ainda exigem incentivos como leilões específicos para armazenamento. A Wood Mackenzie avalia que atrasos nesses leilões podem comprometer as previsões e ampliar os riscos de subutilização da energia gerada.
No início de julho, o secretário-executivo adjunto do Ministério de Minas e Energia (MME), Fernando Colli, declarou que um certame para baterias só deverá acontecer depois do leilão de reserva de capacidade (LRCap). Dias depois, o ministro da pasta, Alexandre Silveira, afirmou que o leilão de reserva de capacidade deve ocorrer em 2026, e só não será realizada se houver “fato superveniente”. Ele ressaltou, no entanto, que a pasta está empenhada em cumprir todas as etapas o mais rápido possível.