Despachos de térmicas

Atendimento a ponta e exportações devem 'coexistir' nos próximos meses, diz Eneva

Funcionário da Eneva/ Divulgação
Funcionário da Eneva/ Divulgação

A Eneva registrou lucro líquido de R$ 1,06 bilhão no segundo trimestre deste ano, alta de 186,5% em relação ao mesmo período de 2023. O desempenho positivo foi um reflexo, entre outros fatores, do maior despacho termelétrico da empresa para atendimento a picos de carga e retorno das exportações para a Argentina, dois aspectos que devem “coexistir” nos próximos meses, afirmou o presidente da companhia, Lino Cançado, durante apresentação dos resultados do período.

As exportações para o país vizinho foram retomadas pela empresa no final de maio depois do fim de reparos na infraestrutura de transmissão e da conversora de Garabi, danificadas pelas enchentes no Rio Grande do Sul, atingindo recorde mensal em julho devido a queda nas temperaturas na região.

“Com a redução das temperaturas, a partir do final de junho, a demanda de energia da Argentina ganhou força, atingindo em julho um recorde mensal para o volume de energia exportado pela Eneva, alcançando o total de 500 GW hora gerado para o país vizinho em um único mês. Essa tendência segue de forma ininterrupta até o momento”, destacou o executivo.

A expectativa do presidente da Eneva é que o envio de energia para a Argentina siga até outubro deste ano. Caso este cenário se concretize, Lino afirma que o atendimento aos argentinos poderia ocorrer fora do horário das 17h às 23h, já que neste período o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) tem solicitado o despacho das plantas para atendimento à ponta.

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“O operador tem endereçado no Brasil um problema de ponta, sendo possível que as duas modalidades de despacho devem continuar coexistindo nos próximos meses, provavelmente até outubro. Isso aconteceu em julho e está se repetindo em agosto. O operador solicitou a geração das térmicas para o Brasil no período a partir das 17h até 23h e, fora deste horário, ele libera as termelétricas para exportarem para a Argentina. Isso deve se repetir nos próximos meses, enquanto a Argentina tiver demanda”, falou o executivo.

Em maio, o porta-voz da Argentina, Manuel Adorni, disse, na sua conta no X (antigo Twitter), que o país passava pelo outono mais frio desde 1980, o que aumentou a procura de gás natural.

“Também temos situações excepcionais, como a limitação da importação de energia do Brasil e a liberação de reservatório, sendo necessária a incorporação de volumes de GNL a preços de mercado” falou na época.

Eneva ganha ‘poder de fogo’ com compra de térmicas do BTG

Uma das alternativas para o atendimento na ponta no Brasil é o leilão de reserva de capacidade, previsto para ocorrer neste ano. Para o certame, a Eneva tem estudado duas térmicas compradas do BTG em julho, já que elas ficarão descontratadas após o fim do contrato de energia de reserva fechado no Procedimento Competitivo Simplificado (PCS), de acordo com o diretor de Marketing, Comercialização e Novos Negócios da empresa, Marcelo Cruz Lopes.

“O plano da Eneva é trabalhar de forma firme para que elas possam ser recontratadas. Caso não sejam, avaliaremos o tempo que elas hibernarão até ter uma próxima oportunidade de recontratação”, disse Lopes.

Ao todo, a Eneva comprou de quatro térmicas, somando 862 MW de potência instalada, do BTG, operação que deve ser concluída no quarto trimestre do ano, assim como a contratação de bancos para coordenar uma oferta pública de ações primária (follow on) para aumentar o capital da Eneva em até R$ 4,2 bilhões, informou Cançado.

“[A aquisição] propiciará uma sólida geração de valor para a companhia e seus acionistas, e abrirá espaço para a Eneva seguir utilizando suas competências na busca de novas oportunidades de crescimento. Esses ativos trazem um fluxo de caixa substancial, concentrado no período que compreende o ano corrente até o início de 2026, justamente quando os gastos com os projetos de capital da companhia serão mais elevados”, destacou sobre a compra.  

Cançado também afirmou que, com um Ebitda total de R$ 1,8 bilhão em 2023, proveniente majoritariamente das receitas fixas por disponibilidade, os projetos devem reforçar o balanço da Eneva e aumentar “o seu poder de fogo para futuras oportunidades de alocação de capital e crescimento orgânico e inorgânico”.

Aversão ao risco do Newave Híbrido

Em relação a adoção do modelo Newave Híbrido na operação do sistema e na formação do PLD em janeiro de 2025, o diretor de Marketing, Comercialização e Novos Negócios da empresa, Marcelo Cruz Lopes, opinou que o modelo deve colocar uma aversão ao risco, que o Operador Nacional do Sistema Elétrico adota na prática durante a operação do sistema.

“O impacto no despacho não deve ser tanto, até porque hoje o ONS, mesmo que o modelo de preço não indique a necessidade, acaba despachando térmica fora do modelo, por razão elétrica ou para garantir a segurança do sistema. Acredito que não deve ocorrer um aumento significativo do despacho em relação ao que temos hoje. Mas deve fazer com que o preço responda melhor à aversão a risco do operador. Pode ser que tenha uma puxada nos preços, já que o despacho tende a ser elevado caso o cenário hidrológico fique desfavorável”, disse Lopes.

Resultados Eneva

No segundo trimestre deste ano, a Eneva registrou lucro líquido de R$ 1,06 bilhão, alta de 186,5% em relação ao mesmo período de 2023.

Por outro lado, a receita líquida caiu 23%, a R$ 1,943 bilhão. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado teve redução de 9,9% no período, para R$ 1,1 bilhão.

A dívida líquida da companhia aumentou 2,3% no segundo trimestre, para R$ 17,8 bilhões.Com isso, o indicador de alavancagem financeira, medido pela dívida líquida/Ebitda ajustado, ficou em 4,36 vezes, alta de 0,10 ponto percentual em relação ao mesmo período de 2023.

Na teleconferência, Marcelo Habibe, diretor de Finanças da Eneva, afirmou que o resultado financeiro também foi impactado pela variação cambial no período, com efeito não caixa, devido ao arrendamento da unidade flutuante de processamento de gás natural (FRSU) do hub Sergipe.

Impactos da geração da Eneva no lucro líquido

Lino Cançado destacou que o resultado positivo do período foi impulsionado pelo despacho termelétrico para atendimento a picos de carga, flutuações da geração de energia renovável no Sistema Interligado Nacional e pelo retorno das exportações para a Argentina.

O presidente da Eneva também ressaltou o crescimento de R$ 46,3 milhões no Ebitda da UTE Jaguatirica II, com maior volume de energia gerada e menores deduções de receita, refletindo a estabilização da usina e melhora da disponibilidade de 82% no 2T23 para 97% no 2T24.

A disponibilidade de 98,5% do complexo Futura em junho de 2024, maior patamar desde o início da operação comercial, com crescimento de R$ 19,6 milhões no Ebitda, também foi citada como um fator para o aumento do resultado do trimestre pelo executivo.

“Nossos esforços em gestão de custos e despesas também seguem produzindo resultados. Registramos, no trimestre, reduções nominais de 8% nos custos fixos com operação e manutenção e de 15% no SG&A, se comparados ao mesmo período do ano anterior, o que representa uma economia de mais de R$ 30 milhões frente aos custos registrados pela companhia no segundo trimestre de 2023”, disse o presidente da companhia.