Transmissão

ISA Cteep foca em manter disciplina financeira e já estuda leilões de 2025

Rui Chammas, diretor-presidente da ISA Cteep/ Divulgação
Rui Chammas, diretor-presidente da ISA Cteep/ Divulgação

Depois de participar ativamente dos leilões de transmissão realizados nos últimos anos, a ISA Cteep não pretende entrar no segundo leilão da modalidade deste ano, previsto para 27 de setembro. Em teleconferência dos resultados do segundo trimestre do ano, Silvia Diniz Wada, diretora-executiva de Estratégia e Desenvolvimento de Negócios da transmissora, explicou que a decisão foi pensada para manter a disciplina financeira da empresa.

Em reunião para falar dos resultados do trimestre anterior, a executiva havia afirmado que a empresa estudava uma eventual entrada, mas a decisão final levaria em conta o nível de endividamento da companhia. O mesmo motivo afastou a empresa do primeiro leilão de transmissão de 2024, realizado em março.

Atualmente, a companhia possui 35 concessões e uma carteira de aproximadamente R$ 15 bilhões de investimentos previstos até 2028, sendo por volta de R$ 5 bilhões para a modernização do parque instalado, com cerca de 250 projetos de reforços e melhorias já autorizados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), e aproximadamente R$ 10 bilhões para a construção de sete projetos novos.

Com investimentos expressivos para os próximos anos, a participação no certame poderia pressionar o nível de alavancagem medida pela relação entre dívida líquida e Ebitda (sigla em inglês para lucro antes juros, impostos, depreciação e amortização), da transmissora, que hoje está em 2,6 vezes.

ISA Cteep: Oportunidades em baterias

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Sobre o leilão de reserva de capacidade, previsto inicialmente para acontecer em agosto deste ano, Wada destacou que, como o edital ainda não foi publicado, a perspectiva da transmissora é que aconteça no final de 2024, já que o cronograma está “apertado”.

“Entretanto, tudo indica que não haverá baterias nesse primeiro leilão. Mas, já tivemos uma indicação do Ministério de Minas e Energia de que haveria uma licitação em 2025, que seria incluída a possibilidade de as baterias participarem”, afirmou a executiva.

Sem entrar nos leilões de transmissão deste ano e aguardando a inserção das baterias em certames, Rui Chammas, diretor-presidente da ISA Cteep, destacou que a transmissora está focando sua estratégia na disciplina financeira, no crescimento rentável e no pagamento de proventos aos acionistas.

“A partir do próximo ano, nós continuaremos buscando novas concessões, que apareçam em leilões, e/ou apostando em um crescimento sustentado na nossa carteira de reforços e melhorias. Seguiremos crescendo, porém, sempre respeitando esse tripé de disciplina financeira, crescimento rentável, que não é um crescimento só pelo crescimento, mas em busca de rentabilidade. E o nosso time de projetos tem isso como meta fundamental o pagamento de proventos aos nossos acionistas”, falou o diretor-presidente da ISA.

Fim do RBSE na ISA Cteep

A estratégia da empresa busca compensar as perdas com Rede Básica Sistema Existente (RBSE), cujo pagamento vai até 2028. O RBSE é a sigla para a indenização devida às transmissoras por investimentos feitos em ativos antigos ainda não amortizados e que tiveram a concessão renovada nos termos da Lei 12.783/2013, de conversão da MP 579.

Um possível recálculo dos valores a serem pagos voltou a ser discutido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) neste ano e pode trazer perdas econômicas relevantes para as transmissoras a depender do cenário que prevalecer. O relator do processo na autarquia, diretor Fernando Mosna, entendeu que há um erro no modelo vigente e votou para mudar a forma de cálculo da indenização bilionária por considerar que havia ilegalidades no formato original que beneficiam nove transmissoras. A sessão foi encerrada quando a diretora Agnes Costa pediu vista para analisar o assunto.

“Hoje, a nossa estratégia já vem considerando [o fim do RBSE], e estamos nos preparando. Nós temos sete empreendimentos licitados em leilões, que vão gerar, conforme esses lotes entrarem operação, uma RAP de R$ 1 bilhão. Estamos diminuindo a dependência”, disse Wada.

Resultado do trimestre

A transmissora encerrou o segundo trimestre de 2024 com o lucro líquido regulatório de R$ 425,6 milhões, crescimento de 62,9% no comparativo com o mesmo período de 2023.

A receita líquida alcançou R$ 1,1 bilhão na etapa, um aumento de 24,7% na mesma base de comparação.

O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) regulatório somou R$ 891 milhões, um incremento de 29,7% frente ao mesmo período de 2023.

O resultado regulatório é considerado pelas empresas de transmissão e pelos analistas de mercado como mais aderente ao retrato financeiro atual do segmento. Nesse tipo de contabilização, a receita representa os recebimentos da companhia, refletindo no seu fluxo de caixa, e os investimentos são reconhecidos no balanço patrimonial como ativo imobilizado.

As transmissoras também reportam os resultados financeiros de acordo com as regras contábeis internacionais, conhecidas pela sigla em inglês IFRS. Nessa contabilização, os investimentos são reconhecidos no balanço patrimonial como ativo financeiro. A distribuição de proventos aos acionistas leva em conta o IFRS.

Nesse critério, o lucro da companhia caiu 10,7% no trimestre, a R$ 536,4 milhões, enquanto a receita operacional líquida subiu 12,8%, a R$ 1,662 bilhão.

“No último trimestre, os resultados financeiros apresentaram evolução importante em comparação ao mesmo período em 2023, principalmente pela recomposição da receita do componente financeiro da Rede Básica Sistema Existente (RBSE), pela atualização da Receita Anual Permitida (RAP) entre ciclos e pela energização dos projetos licitados -Itaúnas, no Espírito Santo, e Triângulo Mineiro, em Minas Gerais- , além de 67 projetos de reforços e melhorias nos últimos 12 meses”, justificou Wada.

Em complemento, Chammas, destacou como outro fator importante para o desempenho no período redução do custo médio dos financiamentos, que em conjunto com o menor IPCA, indicador da inflação.

Investimentos 

No segundo trimestre, a companhia investiu R$ 640,2 milhões, alta de 69,6%, em projeto. Do total, R$ 299,8 milhões foram aplicados na execução de projetos arrematados em leilões – em especial, os empreendimentos Piraquê (MG/ES), Riacho Grande (SP) e Minuano (RS), arrematados em 2019 e 2021.

Cerca de R$ 340,4 milhões foram usados na renovação do parque instalado (reforços e melhorias.

A ISA Cteep contou com a Revisão Tarifária Periódica (RTP) de sua principal concessão, o contrato  059, que contempla ativos da empresa em São Paulo, estabelecendo um novo patamar de Base de Remuneração Regulatória (BRR) dos investimentos feitos em projetos de reforços e melhorias entre os anos de 2018 e 2022. 

“Os principais componentes que passaram pela RTP foram, a revisão da RAP de operação e manutenção, parâmetro na qual mantivemos a companhia com benchmark, ou seja, recebendo um prêmio de 18% sobre os nossos custos de operação e manutenção. Segundo, a incorporação dos projetos de reforço e melhorias energizados entre 2018 e 2022, cujo investimento histórico contábil foi 89%. O terceiro ponto é a atualização da BRR, que atingiu R $ 6,6 bilhões, um crescimento de 2%, quando comparado com a mesma base de 2018, após a movimentação da base de ativos blindada e a incorporação dos ativos incremental”, finalizou Chammas.