Vencedora de três lotes do leilão de transmissão realizado em junho deste não, a ISA Cteep tem investimentos planejados de R$ 10 bilhões para os próximos cinco anos em projetos licitados, além de outros R$ 5 bilhões planejados para reforços e melhorias. Em teleconferência realizada nesta terça-feira, 31 de outubro, para comentar os resultados da empresa do terceiro trimestre do ano, o CEO da transmissora, Rui Chammas, disse que a Cteep não deve participar do leilão de transmissão de dezembro de 2023 e ainda não decidiu se participará dos leilões de 2024.
Inicialmente, a Cteep tinha arrematado os lotes 7 e 9 no leilão em questão, envolvendo investimentos somados de cerca de R$ 2,5 bilhões. O vencedor do lote 1 – Consórcio Gênesis – foi desclassificado, e a ISA Cteep, que tinha sido a segunda colocada na disputa, aceitou assinar o contrato, assumindo o compromisso adicional de investimentos estimados em R$ 3,1 bilhões.
“Quando ganhamos o lote 1, não aceitamos de forma automática, fizemos estudos porque a concentração de dois megaprojetos poderia nos trazer riscos e uma rentabilidade não adequada. Fizemos estudo com nossos fornecedores e nossas equipes de operação para garantir que os dois projetos aconteçam defasados e com menor risco de execução. Vamos continuar muito rigorosos antes de entrar em leilão”, disse Chammas.
Para a diretora financeira da ISA Cteep, Carisa Cristal, a alavancagem da empresa está “confortável”. Ao fim do terceiro trimestre de 2023, o índice de alavancagem medido pela relação entre dívida líquida e Ebitda (sigla em inglês para resultados antes de juros, impostos, depreciação e amortização) estava em 2,4 vezes. “A companhia entende que tem sim condições de fazer frente a todos os investimentos que temos que fazer mantendo uma alavancagem adequada, que pode ser que chegue a 4 vezes, mas não é fonte de estresse para a gente”, garantiu.
Apesar dos altos investimentos previstos para os próximos anos, no terceiro trimestre de 2023 os investimentos de capital em projetos greenfield da companhia recuaram 26,6% nos primeiros nove meses de 2023 em comparação com 2022. De acordo com a empresa, o movimento se explica pela energização de sete projetos em 2022.
“Transição energética obrigou a repensar a transmissão”
Na teleconferência, Chammas, comentou que a transição energética representa uma grande oportunidade para o setor de transmissão. “Em 2018, muitas pessoas diriam que o setor de transmissão seria de baixo crescimento, que continuaria existindo como manutenção e atualização. A transição energética, junto com a geração eólica, solar e geração distribuída nas casas obrigaram a repensar a transmissão. Um setor que tinha perspectivas de crescimento relativamente baixa hoje é fundamental e tem perspectivas de crescimento gigante e com adoção de novas tecnologias”, avaliou.
Segundo ele, o “sistema de transmissão muito bem estruturado” do Brasil será valioso para a produção de hidrogênio.
Resultados do trimestre
No terceiro trimestre de 2023, a transmissora teve lucro líquido regulatório de R$ 474,5 milhões, crescimento de 18,8% em relação ao mesmo período do ano anterior. A empresa apresentou também seus resultados de receita líquida total de R$ 1,09 bilhão, aumento de 18,8% em relação a 2022.
O resultado regulatório é considerado pelas empresas de transmissão e pelos analistas de mercado como mais aderente ao retrato financeiro atual do segmento. Nesse tipo de contabilização, a receita representa os recebimentos da companhia, refletindo no seu fluxo de caixa, e os investimentos são reconhecidos no balanço patrimonial como ativo imobilizado.
As transmissoras também reportam os resultados financeiros de acordo com as regras internacionais, conhecidas pela sigla em inglês IFRS. Nessa contabilização, os investimentos são reconhecidos no balanço patrimonial como ativo financeiro. A distribuição de proventos aos acionistas leva em conta o IFRS.
Nesse tipo de contabilização, a companhia teve lucro de R$ 470 milhões, redução de 1,45% em relação ao mesmo período do ano anterior. O resultado regulatório é considerado pelas empresas de transmissão e pelos analistas de mercado como mais aderente ao retrato financeiro atual do segmento. Nesse tipo de contabilização, a receita representa os recebimentos da companhia, refletindo no seu fluxo de caixa, e os investimentos são reconhecidos no balanço patrimonial como ativo imobilizado.
A novela do RBSE
Em relação às expectativas da companhia sobre a conclusão do processo que questiona o pagamento de indenizações por ativos antigos não amortizados e que tiveram as concessões renovadas nos termos da Lei 12.783/2013, conhecido pela sigla RBSE e que estava na pauta da reunião ordinária da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) desta terça-feira, Chammas disse que não espera grandes mudanças na regra atual e que a empresa já considera recebimentos até 2028. “Não nos preocupa o fim desse fluxo, temos outros fluxos que vêm crescendo e que devem garantir criação de valor sustentada”, disse.
A recomposição integral dos pagamentos da RBSE ajudou no crescimento da receita da companhia no trimestre, ao adicionarem R$ 205 milhões. Desconsiderando essas indenizações, houve redução de 6% na receita total do trimestre. Segundo a CFO da companhia, Carisa Cristal, a redução é explicada pela variação entre as parcelas de ajustes das receitas anuais permitidas (RAPs) dos ciclos 2022-2023 e 2023-2024.
“No ano de 2022, ocorreu um evento de parcela de ajuste positivo que não se repete em 2023. Se desconsiderarmos o impacto da parcela de ajuste, a variação da receita liquida sem RBSE teria sido positiva em 7%, com crescimento de R$ 495 milhões para R$ 527 milhões em 2023, refletindo a entrada em operação de novos projetos greenfield, reforços e melhorias no período, além do reajuste da inflação”, explicou a executiva.
(Atualizado em 01/11/2023 para correção de informação sobre os lotes arrematados pela ISA Cteep no leilão de junho de 2023)