Com os preços do petróleo em queda, pela primeira vez um projeto de óleo e gás da Petrobras que já estava em estágios avançados para desenvolvimento voltou à fase inicial para melhoria da eficiência financeira, disseram as executivas da companhia nesta sexta-feira, 6 de agosto, em teleconferência com investidores e coletiva de imprensa sobre os resultados da companhia no segundo trimestre de 2025.
“Nós tivemos projetos que estavam previstos para migrar da fase três para quatro e, no novo patamar de preços, voltaram para o portão dois pra serem otimizados exatamente por conta do preço do petróleo”, disse a presidente da companhia, Magda Chambriard.
O esforço é refazer cálculos para que os projetos se tornem mais atrativos: “Nós não vamos largar esses projetos para trás, eles continuam sendo rentáveis. Mas a rentabilidade que eles estavam nos apresentando num nível de preços de petróleo a menor fez que nós decidíssemos que eles voltassem para otimizá-los um pouquinho mais”, explicou.
Segundo a diretora de Engenharia, Tecnologia e Inovação, Renata Baruzzi, o recálculo está acontecendo nos projetos de revitalização dos campos de Marlim Sul e Leste, que previa a contratação de equipamentos, incluindo uma nova plataforma, P-86. Com a revisão no projeto, as contratações foram canceladas.
Apesar dos desafios de rentabilidade a um preço de petróleo mais baixo, cenário que já tinha sido abordado pela companhia no trimestre anterior, a Petrobras descarta postergar projetos. “Temos oportunidades de negócio extremamente relevantes em exploração e produção numa companhia cujo principal foco é a exploração e produção. Postergar esses projetos é destruir valor”, avalia a presidente da companhia, Magda Chambriard.
Outros esforços da companhia para aumentar sua rentabilidade é a busca por novos fornecedores e novos modelos de contratação. “A simples abordagem ao mercado com vistas a escutar mais o mercado e a implementar a partir disso, reduções e simplificações de projeto estão nos trazendo resultados expressivos”, disse Chambriard.
Mesmo assim, a companhia não descarta a adequação do Capex em seu próximo planejamento estratégico, que deve abranger o período de 2026 a 2031. “No próximo plano de investimento estratégico, a gente vai incorporar esse novo cenário. E aí, por ocasião da financiabilidade, da capacidade de financiamento da companhia com preço e quantidade, aí sim a gente vai avaliar o tamanho do Capex ajustado à nova realidade de preço que a gente vai ter no cenário dos próximos cinco anos”, disse o diretor Financeiro da Petrobras, Fernando Melgarejo.
O próximo planejamento também deve refletir uma redução de custos na parte operacional da companhia, incluindo pessoal, equipamentos e “gastos transversais”, explicou Melgarejo.
Aumento na produção
Além da busca por custos mais eficientes, a Petrobras também apostou no aumento da produção para mitigar os preços mais baixos de petróleo. Para isso, contou com a entrada em operação de novas plataformas e novas estratégias de gestão dos ativos.
A tendência, entretanto, deve ser atenuada com a parada programada de “algumas plataformas grandes”, adiantou a diretora de Exploração e Produção, Sylvia dos Anjos. Mesmo assim, a produção deve ficar dentro da média planejada, “e na banda superior”, avalia a executiva.
Resultados
No segundo trimestre de 2025, a Petrobras teve lucro líquido de R$ 26,65 bilhões, revertendo prejuízo de R$ 2,6 bilhões registrado há um ano. A melhora foi sustentada, principalmente, por uma variação cambial positiva no período e por um conjunto de eventos exclusivos, como o Acordo de Indenização Provisória (AIP) de Jubarte, reversões de contingências e outros fatores não recorrentes.
Em relação ao primeiro trimestre de 2025, houve queda no lucro na ordem de 24,3%, refletindo a queda de 10,4% no preço do Brent no período. Em um ano, os preços do petróleo recuaram 20,2%.
Assim, as receitas de vendas foram de R$ 119,13 bilhões no segundo trimestre de 2025, com recuo de 3,3% em relação ao trimestre imediatamente anterior e de 2,6% em relação ao segundo trimestre de 2024.
Os preços mais baixos foram compensados por um aumento na produção de óleo e gás, puxado pela entrada em operação de novos sistemas de produção e por melhorias na eficiência dos campos.
O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado do período foi de R$ 52,26 bilhões, com recuo de 14,5% em relação ao primeiro trimestre do ano, e avanço de 5,1% na base anual.
No segundo trimestre de 2025, o lifting cost no Brasil sem afretamento e sem participação governamental ficou em US$ 5,96 por barril de óleo equivalente, com redução de 12,3% em relação ao primeiro trimestre de 2025 e de 1,5% na base anual.
Segundo a empresa, a melhor eficiência ocorreu por fatores como menores gastos em intervenções em poços, redução nos gastos com inspeções submarinas e queda nos gastos com apoio logístico. O aumento da produção também contribuiu para a redução do indicador. “Todavia, esses efeitos foram parcialmente compensados pela valorização de 3% do real frente ao dólar”, diz o relatório da Petrobras.
No segmento de gás e energias de baixo carbono, houve lucro de R$ 504 milhões no trimestre, revertendo prejuízo de R$ 130 milhões registrado no trimestre imediatamente anterior. Na comparação anual, entretanto, houve queda de 45,2% no indicador, que somou R$ 920 milhões à época.
A companhia alega ter aumentado sua participação no mercado livre de gás ao longo deste ano, “atuando com um portfólio de produtos mais competitivos e buscando a fidelização da carteira de clientes”. Também contribuiu para o melhor resultado em relação ao primeiro trimestre o aumento no processamento de gás natural, em função da operação do gasoduto Rota 3. Ao processar mais gás nacional, a companhia conseguiu reduzir os custos com gás importado.
No trimestre, a companhia investiu US$ 4,43 bilhões, com avanço de 9% em relação ao primeiro trimestre do ano e de 30,6% em relação ao mesmo período de 2024. O segmento de gás e energias de baixo carbono teve investimentos de US$ 66 milhões no período, contra US$ 55 milhões no primeiro trimestre do ano (+20,5%) e US$ 93 milhões no segundo trimestre de 2024 (-28,7%).