A Petrobras está focada em projetos de geração eólica onshore e já analisou cinco empresas que possuem plataformas de investimentos na modalidade, somando 3 GW de capacidade instalada, informou o diretor de Transição Energética e sustentabilidade da estatal, Mauricio Tolmasquim, em teleconferência para apresentação de resultados do segundo trimestre do ano.
Segundo o executivo, essas plataformas estão dentro da estratégia de fusões e aquisições (M&A) e foi motivada pela melhoria dos preços da eólica, tornando “interessante e mais fácil [fechar] contratos”.
Para estes projetos, a diretoria executiva já deu seu aval, segundo Tolmasquim, e apresentou ofertas não vinculantes para os possíveis parceiros, porém uma das empresas recusou a oferta e as negociações continuam para os outros projetos.
O diretor destacou ainda que a estratégia da empresa é fechar negócios em “parceria”, de modo que a estatal tenha 50% de participação nos ativos, com chance de negociação neste percentual.
“Queremos encontrar parceiros de porte, com bastante expertise, e que tenham uma carteira de projetos, eventualmente já em operação, mas tenham também empreendimentos greenfield ou em construção, para fazermos uma parceria. A ideia principal é que seja 50% de participação da Petrobras, 50% do parceiro, mas pode ser negociado”, disse Tolmasquim.
Além dessas plataformas, a estatal também está analisando outros projetos no setor e tem olhado para oportunidades “orgânicas” que envolvem quatro projetos piloto e outros dez projetos, sendo alguns de captura e armazenamento de carbono (CCUS, na sigla em inglês) e de hidrogênio.
Em maio, o executivo havia informado que a empresa avaliava projetos “robustos” de geração eólica e solar onshore, mas que não pretendia ser operadora em nenhum ativo.
Na época, Tolmasquim declarou que desde que anunciou o interesse em investir em fontes renováveis, a estatal recebeu de bancos e investidores propostas que somavam 76 GW em capacidade instalada. “É mais do que tem instalado em eólica e solar no Brasil”. O objetivo da petroleira com essas ações é implementar 5 GW em projetos de geração eólica e solar no Brasil até 2028.
Reserva de capacidade
Tolmasquim também disse que a empresa tem olhado para o leilão de reserva de capacidade e estuda inscrever nove usinas existentes, somando 3 GW, que foram descontratadas recentemente, e um novo projeto termelétrico no polo Gaslub, de 400 MW, localizado no município de Itaboraí, no Rio de Janeiro.
“Nós almejamos recontratar esses projetos descontratados, já que eles têm uma vantagem competitiva grande, porque parte do investimento já foi amortizado. Também analisamos fazer uma térmica nova para entrar neste mercado. Estamos vendo este leilão com bastante esperança e expectativa, já que temos condições de entrar de forma competitiva”, falou o diretor da empresa.
Em coletiva de imprensa realizada depois da teleconferência, Tolmasquim disse que as usinas descontratadas e a de Gaslub são de circuito aberto e tem um ramp up rápido, o que ajuda a atender a demanda de potência.
Com expectativa de que o leilão ocorra ainda neste ano, Wagner Victer, gestor de Programas Estruturante, disse que a estatal tem uma audiência pública prevista para 14 de agosto para emitir licenças para os projetos.
“Temos capacidade em linha de transmissão para absorver a energia na região de Itaboraí e temos condições de, junto com a chegada do gás da Rota 3, entrar de maneira competitiva”, completou Victer.
O parque térmico do Gaslub é composto por duas térmica movidas a gás natural, sendo a UTE GasLub I com capacidade de 1.200 MW e a UTE GasLub II com capacidade de 600 MW, totalizando 1.800 MW de capacidade no parque. As plantas serão abastecidas pelo gás da Rota 3, que tem 355 quilômetros de extensão e conecta o pré-sal da Bacia de Santos ao polo Gaslub.
Na coletiva, Magda Chambriard, presidente da estatal, anunciou que as operações do gasoduto Rota 3 serão iniciadas. Segundo a diretora de engenharia, Renata Baruzzi, o gás natural chegará na Rota 3 no terceiro trimestre do ano.
Exploração internacional para ‘sucesso’ da Petrobras
No início da teleconferência de resultados, Chambriard voltou a defender a exploração de petróleo na Margem Equatorial, destacando que a prioridade de sua gestão é “construir um caminho para uma Petrobras longeva” e que isso só será possível se a empresa continuar crescendo.
“Precisamos ser ágeis para manter o histórico de reposição de reservas, enquanto, rumo ao net zero, buscamos mais fontes de energia limpa. Sem reposição de reservas de petróleo e gás, a Petrobras estaria fadada ao insucesso.[…] Embora ainda existam oportunidades a serem exploradas nas bacias do Sudeste, não podemos renunciar à exploração das bacias da Margem Equatorial brasileira. É fundamental para a Petrobras e para o Brasil que obtenhamos licença para perfurar os poços exploratórios necessários. Isso porque, se confirmado o potencial da área, serão absolutamente incontestes para a sociedade os resultados em termos de emprego e renda”, disse.
Além do local, a presidente da estatal citou também a necessidade de se explorar a Bacia de Pelotas, já que é uma “área promissora no Sul do Brasil”, e destacou que a estatal está atenta a oportunidades em territórios estrangeiros, lembrando das potencialidades de campos da Petrobras na Colômbia, onde confirmou descoberta de gás natural no início do mês.
Reservas da estatal e ‘desconforto’ com plano de negócios
O diretor Financeiro e de Relações com Investidores, Fernando Melgarejo, disse ainda que a Petrobras tem olhado para a reposição de reservas, sendo que a nova gestão “não está confortável” com o atual Plano de Negócios, que mostra declínio de reservas a partir de 2030.
“Estamos buscando de qualquer forma reverter isso. Cada gota de petróleo nos importa, e vamos estudar todas as oportunidades que aparecerem e que sejam economicamente viáveis. Tem que trazer geração de valor para o nosso acionista”, disse o diretor.
Recompra de refinarias
O diretor Executivo de Processos Industriais e Produtos, William França, falou queas negociações com o Mubadala sobre a Refinaria de Mataripe estão “indo bem” e girando em torno de dois aspectos, sendo uma possível parceria, com recompra de participação, ou a totalidade das ações. A unidade foi vendida pela Petrobras ao final de 2021, no governo de Jair Bolsonaro, período no qual a empresa vendeu diversos ativos enquanto focava seus investimentos em campos de petróleo e gás de alta rentabilidade.
“Nós estamos terminando o processo de due diligence e valuation, evidentemente analisando toda a questão da realidade econômica do retorno, o processo de integração, a sinergia com todo o nosso refino para que a gente possa, no momento certo, então fazer a proposta para o grupo Mubadala”, afirmou França.
Distribuição de dividendos da Petrobras
O conselho de administração da Petrobras aprovou o pagamento de dividendos e de juros sobre capital próprio (JCP) de R$ 13,6 bilhões relativos ao resultado do segundo trimestre de 2024, queda de 8,9% em relação aos R$ 14,9 bilhões pagos no ano passado. O valor equivale a uma remuneração de R$ 1,05320017 por ação ordinária e preferencial.
Segundo Fernando Haddad, ministro da Fazenda, o governo federal vai receber R$ 7,7 bilhões deste montante, que devem ser usados para ajudar nas contas do governo. A União é a principal acionista da empresa e, por isso, tem direito a 28,67% do total de dividendos distribuídos pela estatal.
Para distribuir o valor aos acionistas, a petroleira informou que vai utilizar R$ 6,4 bilhões da reserva de capital, que acumulava R$ 21,9 bilhões relativos aos dividendos extraordinários de 2023.
“Vale destacar que os proventos propostos são compatíveis com a sustentabilidade financeira da companhia e já levam em consideração o valor das ações recompradas no segundo trimestre de 2024 (R$ 772 milhões), que foi descontado do total da remuneração aos acionistas, calculada conforme a fórmula da política”, diz a estatal no comunicado sobre os dividendos.
O pagamento será feito em duas parcelas iguais. Para os detentores de ações negociadas na B3, o pagamento da primeira parcela será realizado no dia 21 de novembro deste ano e o da segunda parcela, no dia 20 de dezembro de 2024. Não haverá pagamento e dividendos extraordinários para o período.
A Petrobras destacou ainda que esses proventos serão descontados da remuneração aos acionistas a ser aprovada na assembleia geral ordinária de 2025, relativa ao exercício de 2024, sendo seus valores reajustados pela taxa Selic desde a data do pagamento de cada parcela até o encerramento do exercício social corrente para fins de cálculo do desconto.
Questionado sobre possível pagamento de dividendos extraordinários ainda esse ano, o diretor Financeiro e de Relações com Investidores, Fernando Melgarejo, comentou que a distribuição “dependerá da capacidade de geração de caixa futuro e também (do caixa) presente vis a vis a financialidade de nossos investimentos no plano estratégico”.
Melgarejo comentou também na teleconferência que “pagamentos futuros de dividendos extraordinários dependem de fluxos futuros e não de reserva de remuneração de capital”.
Resultados
A Petrobras registrou vendas de 44 milhões de m³ por dia de gás natural para consumo interno no segundo trimestre deste ano, o que representa redução de 12% na comparação com o mesmo período de 2023. O montante também representa redução de 6,4% em relação ao primeiro trimestre de 2024.
A companhia atribui o encolhimento à abertura do mercado de gás natural no Brasil, que possibilitou a entrada de mais carregadores no mercado.
Para Chambriard, a “ligeira perda de market share” demonstra que que a estratégia comercial de substituição de uso do preço de paridade de importação (PPI) foi “acertada”.
“Nós estamos muito atentos à tendência dos preços internacionais e aos nossos competidores, mas quando a gente observa os últimos meses da venda de combustíveis, vemos uma ligeira perda de market share. É sutil, mas ela existe e mostra que nós estamos absolutamente certos na nossa estratégia de preços. Aumentar o preço agora seria renunciar market share, o que está longe da nossa intenção”, falou Chambriard na coletiva de imprensa.
Resultados financeiros
Em relação ao prejuízo de R$ 2,6 bilhões no segundo trimestre deste ano, frente ao lucro líquido de R$ 28,7 bilhões no 2T23, a presidente falou que os números “foram sólidos e dentro do esperado” e que os eventos não recorrentes eram de conhecimento do mercado.
“Aos nossos investidores, garantimos respeito à lógica empresarial, transparência e governança. Garantimos disciplinas de capital e alavancagem controlada. Faremos isso garantindo investimentos necessários ao crescimento da empresa e reconhecendo a demanda dos acionistas governamentais e privados pelos dividendos”, disse a presidente da estatal.
Explicação dos resultados
Em nota, o diretor técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), Mahatma Ramos dos Santos, compartilhou da mesma opinião da presidente da estatal.
“A geração de caixa segue resiliente, mesmo com queda no volume de receitas e vendas no mercado interno, a qual foi compensada pelo aumento nas exportações, em especial, de petróleo nesse trimestre”, afirmou.
Outro destaque do 2T24 foi o anúncio da redução entre 21,6% e 27% do volume de investimentos para o ano de 2024, que, para Santos: “reflete, sobretudo, uma redução no patamar de investimentos no segmento de exploração e produção, associado às incertezas quanto ao avanço ou não sobre novas fronteiras exploratórias ainda em 2024”.