
No primeiro trimestre de 2025, a Engie Brasil Energia teve 19% de sua geração impactada pelos cortes de geração (curtailment), sendo que 12% da frustração ocorreu por indisponibilidade externa e podem receber ressarcimento, e 7% por outras razões. O principal fator foi a indisponibilidade do bipolo de Belo Monte, no começo do ano, que restringiu a transmissão de energia do Norte e Nordeste para o Sudeste/Centro-Oeste.
Por se tratar de indisponibilidade externa, a Engie espera receber este ressarcimento ainda em 2025.
Os altos níveis de corte na geração também foram parcialmente compensados por ventos excepcionalmente favoráveis nas regiões em que a Engie opera usinas eólicas, ainda que boa parte do recurso tenha sido vertido, explicou o diretor Financeiro e de Relações com Investidores da companhia, Eduardo Takamori. Mesmo assim, o executivo avalia que o ressarcimento por indisponibilidade externa e o aumento da oferta eólica tornam o curtailment do período “administrável”.
Administrar os cortes é uma postura que a Engie “abraçou” para suas operações no país. “Curtailment acontece em todos os países que têm uma penetração significativa de fontes intermitentes. E, no Brasil, a gente tomou uma série de decisões que geraram essa sobreoferta, era uma certa tragédia anunciada”, avalia o executivo.
Para ele, a geração renovável avança numa velocidade muito maior do que a infraestrutura de transmissão. Assim, a redução no curtailment depende de maior disponibilidade de linhas de transmissão, o que só deve ocorrer entre 2029 e 2030, com o linhão Graça Aranha. “É esperado que a gente tenha níveis de curtailment elevados por mais três, quatro anos. Seria irresponsável da nossa parte achar que a coisa vai se resolver sem ter fisicamente condições de isso acontecer”, concluiu.
Entretanto, a recalibragem dos parâmetros de aversão ao risco por parte do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) pode trazer algum alívio aos geradores, na medida em que pode liberar que mais energia renovável entre no sistema. Takamori avalia que há “um esforço bastante grande” do operador, do governo e dos agentes para aumentar o transporte de energia pelas linhas de transmissão.
“Dependendo da solução que for adotada, pode reduzir o curtailment entre 1 mil e 2 mil MW, mesmo sem ter um aumento muito significativo ou específico de risco de operação do sistema”, acredita. Ainda não há previsão de quando haverá uma decisão, mas Takamori acredita que ela pode vir “em poucos meses”, dependendo da conclusão de um grupo de trabalho sobre o tema criado em março deste ano pelo Ministério de Minas e Energia (MME).
A solução pode tornar o curtailment mais “administrável”, mas Takjamori não espera uma solução definitiva, já que mesmo que a questão da transmissão seja resolvida, ainda há a estagnação de carga no país. “Nos finais de semana, por exemplo, mesmo com capacidade justa de transmissão, você ainda tem algum corte que pode ser expressivo. Então, a gente não consegue mais imaginar um país sem ter curtailment físico”, disse.
Curtailment e escassez de chuvas reduzem geração da Engie em 16%
A produção bruta de energia da Engie Brasil Energia no primeiro trimestre de 2025 foi de 5,4 mil MW médios, uma redução de 15,7% em comparação com o mesmo período de 2024, apesar da entrada em operação de novos ativos ao longo do último ano.
Apesar dos altos níveis de curtailment das fontes eólicas e solares, boa parte desta redução na geração está relacionada às hidrelétricas, que correspondem a 64,3% da capacidade instalada com participação da companhia, e que encerraram o período com geração 26,3% menor na comparação anual, a 9,5 mil GWh.
Segundo a empresa, a queda na geração hídrica está relacionada aos menores volumes de chuva no trimestre, o que impactou a disponibilidade hídrica para a produção de energia. A produção da UHE Estreito também foi afetada pelo desabamento da ponte Juscelino Kibutschek de Oliveira.
Resultados
A Engie Brasil Energia fechou o primeiro trimestre de 2025 com lucro líquido de R$ 826 milhões, contra R$ 1,6 bilhão há um ano. O Ebitda (Lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) foi de R$ 2 bilhões, com retração de 35,4% em um ano. A receita operacional líquida foi de R$ 3 bilhões, montante 15,5% superior ao do mesmo período de 2024.
A produção bruta de energia foi de 5,4 mil MW médios, com uma redução de 15,7% na comparação anual. A venda de energia atingiu 4,4 mil MW médios, com avanço de 12,1% em um ano.
A Engie também destacou a evolução de sua divisão de comercialização de energia, que fechou o trimestre com o atendimento a 3,8 mil unidades consumidoras, contra 1,8 mil há um ano. Desde o começo de 2024, todos os consumidores de média e alta tensão podem solicitar a migração para o mercado livre de energia.