Atraso no Brasil

Serena defende fim do 'curralzinho' em leilões de capacidade para competitividade entre fontes

Martelo leilão de transmissão/ Crédito: Ricardo Botelho (MME)
Martelo leilão/ Crédito: Ricardo Botelho (MME)

O diretor da Plataforma de Energia, Regulação e Institucional da empresa Serena, Bernardo Bezerra, defendeu nesta quinta-feira, 15 de agosto, o fim do que chamou de “curralzinho” nos leilões de reserva de capacidade, numa alusão à contratação de fontes específicas, e a inserção dos sistemas de baterias nos certames do tipo.

Durante teleconferência com investidores para divulgação dos resultados do segundo trimestre, o executivo lamentou o atraso do Brasil em relação aos outros continentes e aproveitou para destacar o aumento da inserção dos sistemas de armazenamento de energia nos Estados Unidos nos últimos anos, que ajudou a reduzir as tarifas de energia dos consumidores.

Segundo executivo, na última década, o custo nivelado para sistemas de armazenamento caiu mais de 80%, fazendo com que “elas sejam recursos competitivos frente às termelétricas”. Na opinião de Bezerra, o Brasil precisa incluir os sistemas de armazenamento no leilão de reserva de capacidade, sem precisar fazer um “curralzinho”, ou seja, sem preparar um certame para cada fonte.

“O ganho de competitividade ocorre porque no Brasil não temos tanta demanda para absorver o excesso de geração solar, principalmente no horário do almoço. Podemos aproveitar esse excesso para atender à demanda no horário de ponta. Precisamos botar essas fontes para competir e, quem tiver mérito econômico, atenderá a demanda”, afirmou o diretor, destacando que solução alternativa às termelétricas pode gerar uma redução de 30% nas contas de energia dos brasileiros, com base em projeções do mercado norte-americano. 

Movimentação de geradoras para o fim dos cortes

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Sobre a perda de 61,5 GWh na geração da empresa devido a incidência de curtailment, que causou uma redução de cerca de R$ 8,1 milhões, Bezerra disse que o aumento na exportação de energia do Nordeste pode causar uma redução nos cortes, por conta da expansão da capacidade de transmissão e da movimentação de geradores para entregar modelos de simulação, que podem fazer com que o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) retire uma série de restrições internas ao submercado, “que também está ocasionando essas restrições”.

“Essas contingências serão retiradas e, com isso, projetamos valores mais baixos de Curtailment até o final do ano. Para 2025, teremos novas linhas de transmissão também, que vão aumentar essa capacidade de exportação do Nordeste. Além disso, está previsto uma nova linha de transmissão, que vai entrar possivelmente em setembro deste ano, e pode aumentar a capacidade de intercâmbio para 13 mil MW de exportação, voltando aos patamares de antes do famoso blackout de 15 de agosto”, falou o executivo.

curtailment acontece quando o ONS determina a interrupção da geração desses empreendimentos por razões não relacionadas às usinas, como impossibilidade de alocação da geração na carga, disponibilidade indisponibilidade da rede de transmissão ou atendimento a requisitos de confiabilidade elétrica.

Após o apagão que afetou o país em agosto do ano passado, os eventos de corte ficaram mais frequentes, depois que o ONS adotou uma operação mais conservadora da rede, limitando a energia exportada do Nordeste ao Sudeste. Mesmo após a normalização do uso das linhas de transmissão, os cortes continuam acontecendo, principalmente à noite e nos finais de semana, quando a demanda é menor.

Serena segue conservadora no Brasil e otimista nos EUA

Com 96% de suas produções contratadas pelos próximos dez anos, a Serena tem buscado aumentar os níveis de contratações com transações com margem maior do que a sua média, segundo o presidente da companhia, Antonio Bastos.

“Por isso, no Brasil ainda somos conservadores em relação à capacidade do preço voltar para níveis mais próximos do custo marginal de expansão nos próximos três anos. E, por isso, nós estamos muito contratados e com pouca exposição aos preços. Tivemos uma recuperação de preço de curto prazo no Brasil este ano, mas a gente acha que não é estrutural ainda”, destacou Bastos.

Para o presidente, a recuperação estrutural no país acontecerá em 2027, em decorrência de novas demandas e do crescimento natural de consumo. Enquanto aguarda uma melhora nos preços, a empresa não vê sentido em projetos greenfield e segue fazendo operações que otimizem margem e criem valor.

Por outro lado, a Serena apostará em projetos greenfield nos Estados Unidos no curto prazo, dada a flutuação maior dos preços no mercado.

Presente no estado americano do Texas, a empresa passou por semestre de baixa nos preços de curto prazo, em consequências das temperaturas mais amenas na região, e prevê preços de longo prazo elevados nos próximos meses. De acordo com Bezerra, a Serena tem visto preços 20% acima do que observou em 2023.

“Se pegarmos esses preços praticados para 2025 até 2034, o valor médio está 20% maior. O que é uma resposta para o aumento da demanda observada pelo crescimento de data centers”, destacou Bernardo Bezerra.

Na visão da Serena, a demanda por energia renovável para computação e inteligência artificial no mercado norte-americano será significativamente maior do que no Brasil nos próximos cinco anos. Atualmente, a empresa tem trabalhado com vários clientes sediados nos EUA para desenvolver modelos de fornecimento de energia renovável que atendam às suas necessidades.

A companhia também espera ultrapassar 150 MW médios de energia contratada para processamento de dados e inteligência artificial no Brasil, combinando contratos de energia novos e existentes, até o final do ano.