Com 95% da produção entre 2024 e 2026 já contratados a um preço médio de R$ 160/MWh, a Auren reconhece que há uma sobreoferta de energia no mercado brasileiro, mas entende que isso não significa, necessariamente, preços baixos.
Em teleconferência com investidores sobre o resultado no terceiro trimestre, o diretor-presidente da companhia, Fabio Zanfelice, explicou que “o sistema se transformou ao longo do tempo” e que a intermitência das renováveis tem reflexos na dinâmica de preços. Para o executivo, outro fator relevante está na mudança para precificação horária. “A gente está representando melhor o setor e essa representação melhor do setor também nos ajuda a dar o sinal de preço correto”, disse Zanfelice.
O executivo também entende que a volatilidade faz parte do sistema, que tende a ter preços mais baixos em cenários de melhora na hidrologia. Assim, após um período de poucas chuvas que levaram a preços mais altos, o cenário deve voltar a “preços baixistas” com a hidrologia convergindo para a média histórica. “A forma de agregar valor é ter uma comercializadora atuante, investir muito em inteligência de mercado para aproveitar essas janelas e realmente converter isso em valor para a companhia, como foi feito nesse trimestre”, disse.
Por isso, a companhia teria optado a preservar parte de sua produção a partir de 2027. “Liquidez não faltou, é que parte da estratégia da companhia, a gente sabe que vão existir outros momentos como esse. E aí quando estiver mais próximo, a gente consegue capturar mais valor dessas posições a partir de 26”, explicou Zanfelice.
A um dia de concretizar a integração com a AES, a Auren entende que a combinação do portfolio das empresas também possibilitará o cumprimento dos contratos “praticamente” apenas com recursos próprios.
Curtailment
A Auren registrou no trimestre um curtailment de 5,7% de sua geração – o que foi considerado um bom resultado, já que a média de cortes no Sistema Interligado Nacional (SIN) foi de 12,9%, segundo a companhia. Para a empresa, o bom desempenho se explica pela alta disponibilidade dos parques eólicos, entre 97,6% e 99%.
Apesar disso, Fabio Zanfelice entende que os geradores que foram impactados pelo atraso nas linhas de transmissão devem ser indenizados. “Seria justo o ressarcimento deste valor. Os geradores não tinham como ter gerência sobre essa restrição”, disse ele, que entende que, os valores dos ressarcimentos devem ser calculados pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
Por outro lado, a Auren está confiante que o cenário do curtailment pode melhorar, com melhor distribuição dos cortes a partir das novas regras de operação. “Naturalmente, esse curtailment vai cair agora, porque a safra de ventos começa a se encerrar. Então, nós temos aqui essa discussão para ser feita até maio, junho do ano que vem, que é quando os ventos fortes começam a soprar de novo”, propõe Zanfelice.
Integração com AES
Em relação à integração de negócios com a AES, que passa a ser vigente a partir desta sexta-feira, 1º de novembro, Zanfelice explicou que a Auren já mapeou todas as “sinergias” que podem ser capturadas pelo novo negócio. A resposta foi dada a uma pergunta sobre “redundâncias” do negócio e planos de demissão voluntária (PDV).
Ainda em relação ao mapeamento de sinergias e oportunidades, Zanfelice explicou que há um mapeamento dos ativos da AES por aerogerador. “Não é por parque, é por aerogerador. A gente sabe qual é o problema de cada um”, garantiu. Segundo o executivo, o processo de transição contou com a contratação de consultorias especializadas em filosofia de operação e manutenção.
O processo inclui planos para diferentes prazos da combinação, desde o primeiro dia até o primeiro ano de operação conjunta.
Resultados
No terceiro trimestre de 2024, a Auren registrou lucro líquido de R$ 270,8 milhões, revertendo prejuízo de R$ 838,1 no mesmo período do ano passado. A receita líquida superou R$ 2 bilhões, com aumento de 25,8% na base anual.
O Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês) foi de R$ 633,6 milhões, o que corresponde a um crescimento de 81% na base anual. O Ebitda ajustado avançou 6,9%, a R$ 484,3 milhões.
A Auren entende que o bom resultado foi fruto da performance da comercialização, que soube aproveitar bem o momento de volatilidade do mercado.
Além disso, o período foi marcado pela entrada em operação de um novo parque da companhia, Sol de Jaíba, em Minas Gerais, com 500 MWac de capacidade instalada. O ativo começou a produzir comercialmente em setembro.
A geração eólica da Auren no período foi de 656 MW médios, com avanço superior a 6,5% na comparação anual. A geração hídrica na usina Porto Primavera foi de 822,8 MW médios, com recuo de 8,7% na base anual, em função do cenário hidrológico desfavorável.