A vitória de Donald Trump (Republicanos) nas eleições presidenciais dos Estados Unidos não surtirá efeitos na estratégia de entrada da Aeris Energy no país. Para Alexandre Negrão, CEO da fabricante de pás eólicas, o retorno de Trump à Casa Branca pode levar a três cenários igualmente benéficos para a empresa, que tem esperado a entrada de novos pedidos do Brasil e estuda o início de movimentos internos para começar a abastecer o mercado de eólicas offshore brasileiro.
Na visão do executivo, a volta de Trump pode ser vantajosa para a Aeris devido ao aumento de restrições ou das barreiras tarifárias aos produtos chineses, bem como da possibilidade de crescimento econômico e da queda da curva de juros, caso as projeções e expectativas do mercado sobre o presidente se concretizem. Outro aspecto apontando seria o desmonte dos pacotes de incentivos às renováveis por Trump, entre eles o Inflation Reduction Act (IRA), um dos principais planos de incentivos para renováveis do governo de Joe Biden (Democratas).
Segundo Negrão, a situação pode levar a uma espécie de corrida do ouro nos EUA, com empresas tentando obter incentivos para seus projetos antes do fim dos estímulos.
“A vitória do Trump pode trazer uma demanda acelerada para os Estados Unidos nos próximos anos. O crescimento da demanda em 2027 e 2028, talvez aconteça em 2025 e 2026, de uma forma mais acelerada”, disse o CEO da fabricante em teleconferência para divulgação dos resultados do terceiro trimestre de 2024.
O executivo também aponta que o fim dos incentivos não depende apenas do presidente eleito, mas também da escolha do congresso norte-americano. No momento, o Senado caminha para ser formado em sua maioria por Republicanos, enquanto a composição da Câmara está indefinida.
“Apesar de não ser a favor de eólicas declaradamente, ele precisa do Congresso para desmontar. Os programas afetam positivamente muito estados republicanos, o Texas, por exemplo. Uma mudança na regra de eólica faria com que, nas regras dos benefícios do IRA, os próprios estados dele fossem afetados. Além de precisar do Congresso para fazer isso, não será uma tarefa fácil, pois pode prejudicar os seus próprios estados”, disse.
Uma possível entrada da fabricante brasileira nos Estados Unidos foi anunciada em maio deste ano, como uma forma de barrar a queda na demanda do Brasil e suprir as demais voltadas à descarbonização no exterior nos próximos cinco anos. Meses depois do anúncio, o executivo declarou que os EUA seriam um “grande triunfo” para a fabricante.
Com uma alta de 15,4% no prejuízo e queda de 44,1% na receita do terceiro trimestre, Negrão disse que a Aeris tem feito ajustes estruturais para se adaptar à redução da demanda no Brasil. Entre as estratégias, a empresa tem o intuito de olhar para o mercado de exportações “de uma forma consistente”, com chance de, nos próximos cinco anos, ter “crescimento significativamente orientado pelo mercado internacional, sendo possível estimar que representará 50% da nossa receita total”.
Inicialmente, a fabricante pensa em exportar seus equipamentos do Brasil para os Estados Unidos, aproveitando as “sobras” da sua fábrica brasileira.
Renováveis nos Estados Unidos
Ao longo da corrida à presidência norte-americana, Trump criticou a agenda energética e ambiental do atual presidente do país e prometeu uma reversão das regras da administração atual para aumentar a exploração de petróleo e gás, e reduzir créditos fiscais para veículos elétricos e eólicas. Segundo análises da Wood Mackenzie, antes do resultado, o desfecho das eleições presidenciais dos Estados Unidos pode colocar em risco US$ 1 trilhão em investimento para as fontes renováveis e levar à emissão de 1 bilhão de toneladas de dióxido de carbono até 2050.
Analise mais recente da entidade apontam que as expectativas de crescimento de curto prazo para energia eólica, solar, armazenamento de bateria e veículos elétricos dependem de incentivos do IRA.
“Mesmo que o Congresso não acabe com esses créditos, vários elementos do IRA – incluindo cronogramas de crédito fiscal, mecanismos de financiamento ou acréscimos de bônus – serão provavelmente removidos ou modificados”, diz trecho da análise.
Novos produtos da Aeris
Além das perspectivas externas, Alexandre Negrão foi questionado sobre a inserção da empresa em novos mercados, incluindo do hidrogênio. Conforme o executivo, a empresa tem uma área específica sobre o assunto e tem estudado a entrada de novos produtos, esfera com chance de restruturação para elevar o potencial de venda.
“É uma área pequena dentro da empresa, mas acreditamos em um crescimento expressivo dentro dos próximos três anos, porque por mais que a gente inicie um novo produto ou um novo negócio, obviamente, tem uma curva de maturação. Então, o nosso foco atual é a área de serviço, enquanto a gente passa por um momento mais difícil no mercado de venda de pás”, disse.
>> Aeris aposta na receita da divisão de serviços na espera de novos projetos.
Ele também falou que a empresa tem realizado cotações de outros mercados, como a Argentina, México, Chile, Colômbia e Guatemala.
“Esperamos uma renda dolarizada mais forte e uma fonte de receita mais capitalizada em outros países, assim como diferentes produtos. Temos novos produtos para fazer nos próximos cinco anos. Então, estamos apostando no mercado americano e olhando para o Latam [países da América Latina], principalmente a América do Sul”, afirmou.
Marco da eólica offshore
Em relação a eólica offshore no Brasil, Negrão espera que a aprovação do marco ocorra no próximo ano, com chance de entrada no portfólio de produtos da Aeris apenas no futuro.
“São projetos de longo prazo, sendo provavelmente comissionados em 2031. Por aqui, falamos de produção em 2028, porque o offshore é um produto mais complexo e os contratos devem ser fechados em 2026. Provavelmente, no segundo semestre do próximo ano ou no começo de 2026, vamos começar a ter alguns movimentos internos, com clientes, para começar a abastecer esse mercado”, destacou.
Resultados da Aeris
A fabricante de pás eólicas registrou prejuízo líquido de R$ 56,7 milhões no terceiro trimestre de 2024, alta de 15,4% ante o prejuízo reportado no mesmo período de 2023, de R$ 49,1 milhões.
Uma queda de 44,1% foi registrada no período na receita líquida, que chegou aos R$ 367,4 milhões contra R$ 656 milhões do terceiro trimestre do ano passado.
O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, da sigla em inglês) ajustado também contabilizou queda de 49,1%, a R$ 27,4 milhões.
A alavancagem, medida pela relação entre dívida líquida e Ebitda, alcançou 3,2 vezes, maior que as 3 vezes verificadas na mesma fase de 2023.
Já as potenciais ordens cobertas por contrato de longo prazo totalizaram 2.452 sets de pás com potência equivalente de 10,8 GW. Os contratos de longo prazo da companhia totalizaram R$ 9 bilhões.
Durante o trimestre, também houve o descomissionamento de duas linhas de produção e o ramp-up de outras duas novas, resultando em um portfólio final de dez linhas, com oito consideradas maduras e duas com status de não maduras.
Segundo Negrão, diante da desaceleração do mercado no Brasil, a Aeris tem implementado ajustes estruturais para se adaptar à redução da demanda, um processo que vem se intensificando ao longo de 2024. Entre as estratégias elaboradas, o executivo destacou as expectativas para o mercado estrangeiro e o desempenho do segmento de Serviços, que na etapa teve um crescimento de 37,8% quando comparado ao período homólogo.