
O abrangente pacote de tarifas de importação anunciado pelo presidente Donald Trump na última quarta-feira, 2 de abril, deve levar a renegociação de contratos de energia, paralisação de projetos e forte aumento nos custos nos Estados Unidos. As projeções são da consultoria Wood Mackenzie, que realizou um webinário sobre o tema com seus especialistas nesta segunda-feira, 7 de abril.
Segundo o líder de Transição Energética, Energia e Renováveis da Wood Mackenzie, Chris Seiple, é provável que projetos de data centers e inteligência artificial sejam “renegociados ou reconsiderados” diante do aumento nos custos. O especialista ainda pontua que o aumento na demanda por eletricidade nos Estados Unidos encontra limitações no lado da oferta.
Com o aumento nos custos, Seiple avalia que as concessionárias podem passar por uma revisão dos seus contratos, pois as tarifas alteram premissas muito sensíveis dos modelos de negócios que são aplicados pelas empresas em seus planejamentos. “As pessoas vão querer passar por esse processo de novo? Elas vão atrasar projetos que estavam avançando?”, questiona.
Ainda sobre as concessionárias, o especialista prevê desafios em relação ao custo da eletricidade, uma vez que as concessionárias norte-americanas já estavam enfrentando resistência para reajustas tarifários antes do aumento de custos que as novas tarifas de Trump trouxeram.
Tarifas reduzem efeitos do IRA
Na cadeia de suprimentos de energia renovável, os impactos também devem ser relevantes, já que boa parte dos materiais e equipamentos é importada. O especialista Benjamin Boucher avalia que os impactos também devem ser sentidos nos equipamentos manufaturados internamente nos EUA, considerando que muitos componentes vêm do exterior.
Segundo Boucher, em 2024 as baterias fabricadas na China atenderam a 89% da demanda norte-americana para este tipo de armazenamento, em um fluxo de comércio de US$ 16 bilhões. Com base nestas informações, ele calcula que as baterias devem ter um aumento tributário de 48% nos Estados Unidos, principalmente em função dos impostos sobre produtos chineses, já que Donald Trump anunciou impostos de 54% sobre todas as importações vindas da China. Assim, os preços das baterias devem subir entre 20% e 25%, puxados pelas baterias de íons de lítio, segundo o especialista.
Além disso, Boucher informou que, em 2024, 84% da demanda norte-americana de módulos de energia solar fotovoltaica foi atendida por países do Sudeste Asiático, região que concentra seis dos sete maiores produtores destes equipamentos e que também recebeu taxas extras de impostos por Donald Trump. Assim, ele avalia que estes produtos devem passar a ter uma taxa real de importação de 37%, que devem levar a um aumento de 10% a 12% nos preços de equipamentos.
“Em relação a equipamentos específicos, cerca de 80% da demanda dos EUA de transformadores de energia é atendida por importações atualmente”, disse Boucher. O especialista pondera que muitos dos transformadores vêm do México, que não recebeu tarifas adicionais nos impostos, o que poderá proporcionar algum alívio nos custos, assim como isenções para alguns materiais, como cobre, polissilício de lítio e outros metais raros.
Com isso, os impactos de subsídios como o Inflation Reduction Act (IRA), a política de incentivos à geração renovável anunciada no governo de Joe Biden, devem ficar limitados. Os especialistas da Wood Mackenzie calculam que custo de instalação de um projeto solar nos Estados Unidos é agora 50% maior do que na Europa, e que o país está se tornando um local de alto custo para a produção deste tipo de energia.
Preços de gás devem subir até 2026
Em relação a gás natural, o especialista Massimo Di Odorado avalia que os preços devem subir, na medida em que a Europa precisa repor suas reservas de gás estocado. “E nossa avaliação é que a Europa terá dificuldade em atingir os mesmos níveis de gás estocado que eram confortáveis nos últimos anos”, disse. Por outro lado, pode sobrar mais gás para a Europa caso a demanda asiática não se mostre tão forte.
Apesar da previsão de preços altos nos próximos meses, em 2026 é possível que a molécula se torne mais barata com aumento da oferta.