O Amapá tem uma capacidade instalável da ordem de 56 GW para projetos solares e estuda a produção do combustível sustentável de aviação (SAF) a partir do caroço do açaí. As informações foram apresentadas nesta segunda-feira, 26 de agosto, durante o evento de entrega do primeiro Atlas Solar do estado e do lançamento do Instituto Margem Equatorial.
O mapeamento das potencialidades do estado surgiu em um contexto de busca por soluções para a instabilidade energética no âmbito do apagão de 2020, em uma parceria entre o governo estadual, o Instituto Senai de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER) e o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Ao todo, foram investidos R$ 5 milhões no levantamento.
Para realizar o investimento, emendas parlamentares do do ex-senador Jean Paul Prates e do senador Davi Alcolumbre (União-AP) foram destinadas ao Atlas e ao Instituto da Margem Equatorial.
Os apagões e o potencial solar do Amapá
Com áreas de geração, transmissão e distribuição de energia ditas como desafiadoras, o estado do Amapá possui capacidade instalada de 1 GW, o que equivale a 0,49% da existente no Brasil.
Do volume,96,74% são oriundos de hidrelétricas e pequenas centrais hidrelétricas. Outros 2,85% são produzidos em termelétricas e apenas 0,41% são provenientes de usinas fotovoltaicas.
Mesmo com os números baixos, o Atlas, que abarca dados georreferenciados, aponta que o Amapá tem uma capacidade instalável da ordem de 56 GW. Conforme dados do levantamento, a produção anual de energia com o uso de menos de 1% do território do estado pode chegar a 87 GWh, com potencial de expansão da geração solar em cerca de 426 TWh.
Para o senador Alcolumbre, o Atlas demonstra que o estado tem um potencial de geração de energia solar “abundante” e pode contribuir com o direcionamento das melhores áreas para novos investimentos. Já para o ex-senador e articulador do projeto, Jean Paul Prates, o Atlas pode ajudar o estado sair da “crise dos apagões”, dada a sua relevância para redução da dependência de uma única fonte.
“Não tenho a menor dúvida de que sairemos de uma situação de ‘estado apagado’ para a condição de estado exportador de energia a partir do sol, assim como aconteceu com o Rio Grande do Norte nos últimos anos com a energia eólica”, completou Rodrigo Mello, diretor do Senai Rio Grande do Norte e do Instituto Senai de Inovação em Energias Renováveis, no evento.
O SAF do açaí no Instituto Margem Equatorial
Além do mapeamento, o ISI-ER está implementando no estado o Instituto Margem Equatorial (IMEQ), que tem inauguração prevista para 2025, em meio a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), a ser realizada em Belém, no Pará.
O investimento na infraestrutura será de R$ 14,3 milhões, com recursos do MCTI e de emenda parlamentar do senador Davi Alcolumbre. As instalações do centro serão feitas em uma área cedida pela Eletrobras em Santana, Região Metropolitana da capital amapaense, Macapá.
Durante o evento, foi anunciado que uma das frentes principais de trabalho dos pesquisadores será o desenvolvimento do combustível sustentável de aviação (SAF) a partir do caroço do açaí.
Rodrigo Mello explicou que a produção de polpa do açaí é uma das principais atividades econômicas do Amapá e que o descarte do caroço no leito dos rios tem dificultado o movimento das águas e gerado consequências como alagamentos, sendo que a ideia com o projeto é dar uma destinação adequada ao produto.
“Nós já identificamos que o caroço é uma excelente fonte de carbono de origem biológica, com ótimas perspectivas de destinação para a área de combustíveis. Dessa forma, nós buscamos agregar vários fatores importantes para a região”, disse Mello
Pesquisa em rede do centro
O Instituto Margem Equatorial, segundo o executivo, deverá adotar um modelo de operação multi institucional, agregando universidades, institutos de pesquisa externas e de Inovação do Senai, além de empresas que tenham interesse no investimento e no resultado voltados à sociedade.
Antonio Medeiros, coordenador de Pesquisa & Desenvolvimento do ISI-ER, acrescentou ainda que a expectativa é que o centro seja “um ponto de conexão” entre diversos pesquisadores do Brasil e do mundo para viabilizar o desenvolvimento de toda a região da Margem Equatorial brasileira.
“Como resultado esperado, a gente quer contribuir com uma transição energética justa, que garanta o desenvolvimento e a melhoria da vida”, disse o pesquisador.
A lista de investimentos previstos no instituto inclui plantas-pilotos de hidrogênio e de bioprocesso para aproveitar o potencial da biomassa da Amazônia para a transformação em combustíveis do futuro.Também estão programadas unidades para produção de bio óleo e biogás e de um programa educacional.