Apesar da aceleração da implantação de novos projetos de geração de energia eólica e solar, o consumo mundial de carvão apresenta forte crescimento em 2021, levando as emissões de dióxido de carbono (CO2) para seu segundo maior aumento anual na história. A análise consta no novo relatório da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), que indica que o progresso da energia limpa ainda é muito lento para zerar as emissões globais de CO2.
O World Energy Outlook 2021 (WEO-2021) foi elaborado como um manual para a COP26 em Glasgow e reúne alertas sobre a direção que as políticas mundiais estão tomando em relação ao cenário atual.
O relatório enfatiza que o investimento adicional para zerar as emissões até 2050 é menos oneroso do que a manutenção do cenário atual. Mais de 40% das reduções de emissões exigidas virão de medidas que se pagam por si mesmas, como melhorar a eficiência, limitar o vazamento de gás ou instalar eólica ou solar em locais nos quais a tecnologia já apresenta competitividade.
Um mercado bem-sucedido de eólicas, painéis solares, baterias de íon-lítio, eletrolisadores e células de combustível levaria a um retorno de mais de US$ 1 trilhão por ano até 2050, comparável ao tamanho do mercado de petróleo atual. Mesmo em um sistema de energia muito mais eletrificado, permanecem grandes oportunidades para os fornecedores de combustível produzirem e distribuírem gases com baixo teor de carbono.
Considerando um cenário denominado de políticas declaradas, com as medidas implementadas pelos governos até o momento e em desenvolvimento, o estudo aponta que quase todo o crescimento líquido da demanda de energia até 2050 é atendido por fontes de baixas emissões, não apresentado alterações de emissões em relação aos níveis atuais, com aumento das temperaturas médias globais em torno de 2,6 °C acima dos níveis pré-industriais.
Já no cenário das medidas que foram anunciadas pelos governos – e que ainda não estão em desenvolvimento – a demanda por combustíveis fósseis atinge o pico até 2025 e as emissões globais de CO2 caem 40% até 2050. Todos os setores observam um declínio, principalmente o de energia, e o aumento da temperatura média global é mantido em torno de 2,1 °C.
Nesta edição do WEO-2021, a demanda de petróleo entra em declínio em todos os cenários examinados, em diferentes momentos e velocidade. Se as atuais promessas climáticas forem cumpridas, o consumo alcançaria 75 milhões de barris de petróleo por dia em 2050 – cerca de 100 milhões abaixo do que é consumido atualmente.
Essa redução significa, consequentemente, uma queda de 25 milhões das emissões líquidas até 2050. A demanda por gás natural aumenta em todos os cenários nos próximos cinco anos, mas há divergências depois desse período.
Depois de décadas de crescimento, as perspectivas para a energia a carvão também apresentam redução nesse cenário, principalmente após o recente anúncio da China para encerrar seu apoio à construção dessas usinas no exterior. Se confirmado, esse movimento poderia resultar no cancelamento de projetos planejados que economizariam cerca de 20 bilhões de toneladas em emissões cumulativas de CO2 até 2050 – uma quantidade semelhante à economia total de emissões da União Europeia atingindo zero líquido em 2050.
“As promessas climáticas de hoje resultariam em apenas 20% das reduções de emissões até 2030, que são necessárias para colocar o mundo no caminho do net-zero até 2050”, disse o diretor da IEA, Faith Birol.
“Alcançar esse caminho requer investimentos em projetos de energia limpa e infraestrutura para mais do que triplicar na próxima década. Cerca de 70% desses gastos adicionais precisam acontecer nas economias emergentes e em desenvolvimento, onde o financiamento é escasso e o capital permanece até sete vezes mais caro do que nas economias avançadas”, completou Birol.