A pandemia do covid-19 trouxe reflexos na economia global e, principalmente nos mercados emergentes, resultando na redução dos investimentos em energias renováveis. Segundo o Climatoscope, pesquisa anual BloombergNEF, o aporte para esses empreendimentos em países em desenvolvimento ficou pouco acima de U$D 20 bilhões no terceiro trimestre de 2020, sendo o menor nível de aporte trimestral desde 2013.
O Climatescope não contém outros dados abrangentes deste ano, mas aponta que as interrupções relacionadas à pandemia atrasaram os fluxos de investimento e estão dando aos investidores motivos para parar.
“Pela primeira vez desde 2016, a BloombergNEF registrou trimestres nos quais os fluxos de capital em mercados desenvolvidos excederam os fluxos em mercados em desenvolvimento. Embora a covid-19 não seja o único fator a impactar estes números, a inclinação e consistência da queda ao longo dos três trimestres de 2020 sugerem que os números cairão acentuadamente em relação a 2019”, diz trecho do relatório.
Por isso, o relatório aponta que o volume de investimento em energia limpa vinda do exterior não passa, agora, de uma “garoa fina”, já que muitos investidores estão buscando oportunidades mais seguras e locais. Em países desenvolvidos, que mostram uma maior volatilidade trimestral de aportes, os investimentos em 2020 ficaram próximos a U$D 30 bilhões.
Dos países em desenvolvimento, o Chile ficou no topo do ranking entre os mercados mais atrativos para investimento em energia renovável. O país conseguiu cumprir com a meta de ter 20%, até 2025, de sua energia gerada proveniente de fonte renovável e agora tem como objetivo alcançar 60% até 2035.
Em 2019, o apoio de instituições financeiras de desenvolvimento ficou no patamar de cerca de U$ 4 bilhões de dólares, mas sua participação no total de investimento estrangeiro direto (IED) em energia renovável caiu para 11%, o menor número em dez anos.
Considerando o IED total em mercados emergentes, o maior volume de investimentos foi registrado em 2019, com U$ 32 bilhões, significando um salto sobre o pico do ano anterior, de U$ 24 bilhões. Segundo a BNEF, 84% do montante de 2019 veio de desenvolvedores de projetos internacionais, empresas de serviços de utilidade pública, bancos comerciais e outras fontes privadas
Ainda no período de 2008 a 2019, os Estados Unidos e a França foram os principais investidores em energias renováveis, com aportes de U$ 23,72 bilhões e U$ 17,2 bilhões, respectivamente. Já Brasil e Índia foram os países a receberem o maior volume de investimentos para fontes renováveis, com U$ 24,68 bilhões e U$ 20,8 bilhões, respectivamente.
Entre as fontes a receberem a maior parcela dos investimentos, o destaque foi para a energia eólica (offhore e onshore), que em 2019 atingiu U$ 89 bilhões, maior nível do histórico, e que foram aplicados na construção de projetos em 30 mercados emergentes.
Em relação à capacidade instalada, o principal destaque de 2019 foi a fonte solar, principalmente fotovoltaica, que atingiu 325 GW frente a 1 GW registrado há uma década. De acordo com a BNEF, a energia solar está se tornando onipresente, com três em cada dez mercados em desenvolvimento instalando mais capacidade solar do que qualquer outra fonte.
No entanto, o carvão continuou sendo a principal fonte da matriz energética global em 2019, com participação de 1.570 GW, seguido por gás natural, com 745 GW, e grandes hidrelétricas, com 615 GW de capacidade instalada.
Outro destaque da pesquisa é que pela primeira vez as renováveis (incluindo hidro) representam a maioria da nova capacidade adicionada em 106 mercados emergentes (excluindo a China continental e a Índia).
“2019 foi um ano de ‘primeiras vezes’ – na maior parte, positivas”, disse Luiza Demôro, principal autora do Climatescope. “O aumento de capital que vimos fluir para os mercados emergentes sugere que os investidores se tornaram bastante confortáveis com os riscos envolvidos no financiamento de novos projetos de energia eólica ou solar.”