
O Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) aprovou nesta quarta-feira, 10 de abril, uma série de medidas com potencial para mitigar os efeitos dos cortes de geração renovável – o chamado curtailment – principalmente durante os meses da safra de ventos no Nordeste, entre julho e setembro.
As medidas incluem uma determinação para que o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) apresente nos próximos meses estudos sobre a flexibilização nos critérios de operação do sistema, a exemplo do que foi feito na crise hídrica de 2021, permitindo maior envio de energia elétrica do Nordeste para o Sudeste.
O comitê discutiu também aprimoramentos em Sistemas Especiais de Proteção (SEP), com potencial para ampliar o limite de intercâmbio do Norte/Nordeste ao Sudeste/Centro-Oeste em quase 2 mil MW, apurou a MegaWhat.
A expectativa é que, com ajustes operacionais e uso mais eficiente da infraestrutura de transmissão já existente, seja possível aumentar o escoamento da energia gerada na região para os centros de carga do país, especialmente Sudeste e Sul.
Flexibilização na operação: menos cortes
O ONS deve apresentar até junho um estudo sobre a adoção de critérios de operação mais flexíveis, em caráter excepcional e temporário, para o período da safra dos ventos. A medida remete ao que foi feito em 2021, durante a crise hídrica, quando o ONS flexibilizou o critério de segurança N-2 para N-1, ampliando a capacidade de intercâmbio entre subsistemas.
O objetivo, agora, é permitir que parte da geração eólica que hoje é cortada por limitações operativas seja, de fato, aproveitada no restante do país, aliviando os impactos financeiros sobre os geradores, contribuindo ainda com a preservação dos reservatórios do Sudeste e Sul, algo importante especialmente num segundo semestre que promete maior estresse hídrico.
Além do estudo de operação mais flexível, o CMSE reconheceu a importância de aprimorar os Sistemas Especiais de Proteção (SEPs) – esquemas automatizados que atuam em situações críticas da operação do sistema elétrico – para ampliar os limites de intercâmbio entre os subsistemas.
Mais flexibilidade contra o curtailment
A MegaWhat apurou que três SEPs, pertencentes a instalações das transmissoras ISA Energia, Taesa e State Grid, já apresentaram bons resultados em estudos preliminares conduzidos pelo ONS e poderão ser ajustados para permitir o envio adicional de cerca de 1,8 mil MW da região Nordeste ao Sudeste, sem necessidade de obras adicionais.
As medidas são especialmente relevantes no atual contexto de adiamento do leilão de reserva de capacidade, que previa a contratação de disponibilidade para o segundo semestre de 2025. Sem o certame, o sistema terá que contar com recursos de curto prazo, tornando ainda mais importante o uso eficiente da infraestrutura existente e o melhor aproveitamento da geração já instalada.
Governança dos modelos de preços
O CMSE determinou ainda a abertura de uma consulta pública sobre a governança da definição da aversão ao risco nos modelos computacionais que formam os preços da energia.
A medida é uma resposta à extinção da Cpamp (Comissão Permanente para Análise de Metodologias e Programas Computacionais do Setor Elétrico) e à necessidade de formalizar os novos caminhos para mudanças nas premissas dos modelos.
A proposta será discutida em consulta por 15 dias, com a expectativa de que uma eventual alteração nos critérios possa ser aprovada até o final de julho e entre em vigor em janeiro de 2026.
A mudança nos critérios de aversão ao risco, que passou a valer este ano, tem sido alvo de críticas por priorizar projeções de afluência em detrimento do nível dos reservatórios, um dos motivos da alta do PLD vista nos últimos meses.