O curtailment de geração eólica e solar fotovoltaica cresceu em dezembro de 2024 na comparação com novembro, refletindo, principalmente, o aumento das restrições por razão energética – quando a oferta instantânea supera a demanda instantânea.
Os números foram calculados pelo Itaú BBA com base em dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), de acordo com relatório assinado pelos analistas Fillipe Andrade, Marcelo Sá, Luiza Candiota e Victor Cunha.
Os cortes representaram 9,5% da geração eólica em dezembro, acima dos 8% do mês anterior, devido ao aumento expressivo dos cortes por razão energética (quando a geração não pode ser alocada para atendimento à carga). Os cortes por razão energética representaram 8,3% da geração no último mês do ano, contra 3,9% em novembro.
Na fonte solar fotovoltaica, os cortes foram ainda mais representativos, e chegaram a 17,8% da geração em dezembro, sendo 16,4% por razão energética. Em novembro, os cortes tinham somado 11,5%, sendo 6,6% por razão energética.
Os patamares ainda são inferiores ao curtailment de setembro, que chegou a 15,5% na fonte eólica e 20,6% na solar fotovoltaica. Nesse período, a maior parte dos fortes foi por razão de confiabilidade.
O que é o curtailment?
Os cortes de geração, conhecidos pelo termo em inglês curtailment, ocorrem quando o ONS determina a interrupção da geração por questões técnicas.
A Resolução Normativa 1.030 de 2022 da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) divide os cortes em três categorias: indisponibilidade externa (problemas na rede de transmissão, por exemplo), atendimento a requisitos de confiabilidade elétrica (problemas em equipamentos em instalações fora da usina) e por razão energética (quando o consumo nao é suficiente para alocar a geração).
>> Entrevista: Luiz Barroso, da PSR, explica tudo sobre curtailment
Essas interrupções têm gerado custos significativos para os geradores, principalmente as fontes intermitentes. A regra só prevê ressarcimento ao gerador em caso de restrição por indisponibilidade externa, mas ainda assim apenas quando ultrapassam as franquias estabelecidas pela regulação.
Esses geradores sofrem pelo aumento da exposição ao mercado de curto prazo de energia, pois geram menos do que o esperado, e pela redução da sua garantia física, revisada anualmente com base na geração média verificada.
Após um pico nos cortes em setembro, que coincidiu com aumento do preço da energia, agravando os efeitos da exposição desses geradores, reforços em transmissão entraram em operação a partir de outubro e ajudaram a minimizar a situação.
O ONS também alterou a metodologia dos cortes, primeiro no Ceará e no Rio Grande do Norte, e depois na Bahia, a fim de distribuir de forma mais equilibrada as restrições de geração.
Esses estados, contudo, continuam liderando os cortes registrados nos últimos meses do ano.
Ceará, Rio Grande do Norte, Bahia e Minas Gerais
Na distribuição regional dos cortes, o Ceará continua liderando em relação ao curtailment da fonte eólica, com 15%, seguido pelo Rio Grande do Norte, com 14%. Na fonte solar fotovoltaica, os cortes se concentraram em Minas Gerais, com 21%, e pela Bahia, com 20% da energia gerada.
O Itaú BBA também contabilizou, a partir de dados do ONS, o curtailment no quarto trimestre de 2024, e chegou a 8,8% para a fonte eólica, abaixo da redução de 13,5% na geração vista no terceiro trimestre, mas acima dos 5% computados no segundo trimestre.
Na fonte solar fovoltaica, o movimento foi parecido. Nos últimos três meses de 2024, os cortes somaram 13,9% da geração, abaixo da taxa de 17,5% do trimestre imediatamente anterior, mas acima dos cortes do segundo trimestre, que chegaram a 7,8%.
Em relação às empresas da cobertura do Itaú BBA, os cortes foram menos representativos no quarto trimestre do ano passado em relação ao trimestre anterior. Na Auren, os cortes chegaram a 306 GWh, abaixo dos 576 GWh do período anterior. Na Copel, foram 279 GWh, contra 604 GWh, e na Equatorial foram 268 GWh, ante 652 GWh no período anterior.