A energia eólica continua performando muito bem no país, ainda mais agora, em que a chamada “Safra dos Ventos” bate recordes quase que diários de produção média e instantânea de geração. Mas com o amadurecimento da fonte no Brasil, especialistas e empreendedores que participaram do 13ª Fórum Nacional Eólico apontam que as mudanças regulatórias podem gerar novos problemas para o que chamaram de “ecossistema” eólica.
No momento, os desafios de curto prazo para os executivos estão na gestão dos parques, de forma a alinhar as obras da geração ao PLD horário, bem como no aumento do custo dos insumos, como o aço, para a cadeia de fornecimento. Entretanto, no longo prazo, os desafios devem ser ainda mais complexos a partir de 2026, quando ocorre uma transição única de um ambiente com 50% de desconto no fio, para sem desconto, somado a uma possível falta de equipamentos para demanda futura.
Segundo Gabriel Luaces, executivo de Desenvolvimento de Negócios, o preço dos parques arrematados nos certames regulado tem crescido muito, e “podemos culpar a taxa de câmbio, mas tem muito mais coisa acontecendo”.
Para o executivo, o ecossistema eólico tem sido afetado pelo valor de mercado dos metais, como o do aço acabado que é produzido na China, impactando o custo de construção de novos projetos e pressionando drasticamente o valor de implementação. Como base para o argumento, Luaces apresentou a evolução do preço do aço em julho de 2020, em cerca de US$ 400 por tonelada, para atuais US$ 1.000 por tonelada em julho de 2021.
Quanto aos desafios regulatórios, os participantes do debate ainda falaram sobre a falta de previsibilidade com o fim do desconto na Tarifa de Uso do Sistema de Transmissão (Tust) a partir de 2026, e que pode gerar impacto nos próximos leilões de energia, com projetos entrando em operação comercial neste período.
Reconhecendo a necessidade do fim do desconto com o amadurecimento dos projetos, somado à evolução tecnológica da cadeia, Marcos Meireles, CEO da Rio Energy, indica que o custo a ser absorvido pela cadeia eólica é cerca de 40% a 50% menor do que para a fonte solar. Entretanto reforçou que a mudança será feita de forma drástica.
“O fim da fase de transição não é gradativo, é único, e pode estressar o mercado. Cada empreendedor tem que verificar seu risco e fazer suas análises de competitividade. Nós estamos olhando para isso”, disse Meireles.
Ainda foi colocado em debate a previsão de 10 GW em térmicas a gás natural, que de certa forma, deixa de ser uma oferta possível a ser ocupada pela eólica nos próximos leilões e levam à insegurança de empreendedores.
Essa falta de clareza, também pode gerar outros impactos, como o da previsão de entrega de equipamentos a partir de 2025, justamente próximo do fim do incentivo da Tust.
Gabriel Luaces mostrou dados do mercado brasileiro que mostram uma capacidade de produção anual de aerogeradores de 5 GW. Por sua vez, a capacidade atual leva a uma necessidade de abastecimento da demanda descontratada em 15 GW entre 2023 e 2025, mas que com base nos pedidos de outorga dos últimos dois anos (30,7 GW), seria insuficiente para atender a demanda de novos aerogeradores.
Isso, para Marcos Meireles, culmina numa orientação da indústria brasileira em capacidade de produção destinada para o conteúdo local no mercado cativo, sem o devido incentivo para que ela ocorra com competitividade global. “Precisamos pensar na cadeia global e como se inferir nela de forma competitiva”, finalizou o CEO da Rio Energy.