O aumento dos cortes de geração de projetos eólicos e solares (conhecidos como curtailment) tem impacto limitado no fluxo de caixa de grandes grupos. A análise é Fitch Ratings, em avaliação sobre os ativos da Auren Energia, Serena Geração, Engie Brasil, Copel e CPFL.
Apesar da perspectiva de agravamento nos cortes até 2028, quando novas linhas de transmissão devem elevar a confiabilidade do Sistema Interligado Nacional (SIN), a agência de classificação de risco destaca que a diversificação de negócios dos grandes grupos dilui o efeito financeiro.
Considerando os grupos mais expostos no terceiro trimestre de 2024, o cálculo leva a um impacto inferior a 7% de seu Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) consolidado.
Efeitos do curtailment
Os cortes atingiram 14,2% da geração eólica e solar da Auren (incluindo o portfólio da AES Brasil) e 12,9% da Engie Brasil no terceiro trimestre. Esses níveis estão próximos à média verificada para o SIN, de 13%.
“A Engie Brasil também atua em transmissão de energia e distribuição de gás, o que atenua ainda mais o impacto dos cortes na geração em seu Ebitda consolidado”, escreve a agência.
A Fitch continua com sua avaliação sobre a Serena Geração, que teve menos cortes no trimestre, equivalentes a 5,6% de sua geração eólica.
“Alguns parques da companhia, que representam 36% de sua capacidade instalada, são isentos do risco de curtailment por estarem conectados diretamente à rede de distribuição ou mais protegidos por estarem fora da região Nordeste”.
Na última terça-feira, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) negou, por maioria, um pedido de medida cautelar apresentado pela Serena que pedia reclassificação dos cortes de geração para um enquadramento como “indisponibilidade externa”, no qual há ressarcimento limitado da energia não gerada.
Outros grupos e pressão sobre a tarifa
Outros grupos, como a CPFL e a Copel sofreram cortes superiores a 20% de sua geração renovável, mas o impacto financeiro nesses casos foi minimizado pela alta diversificação de negócios.
Além de geração, as empresas possuem ativos nos segmentos de distribuição e transmissão de energia.
“Uma eventual ampliação das restrições passíveis de ressarcimento beneficiaria as geradoras, mas aumentaria a pressão sobre as tarifas de consumidores cativos, com potencial impacto em perda de energia e inadimplência para as distribuidoras”, avaliou a Fitch.
>>> Curtailment: Aneel e geradores podem chegar a acordo
Em janeiro, o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro Herman Benjamin, julgou procedente o pedido da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e suspendeu a liminar obtida por geradores eólicos e solares determinando ressarcimento dos cortes de geração centralizada, conhecidos pelo nome em inglês curtailment, que foi concedida pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) no fim de 2024.
A decisão foi publicada poucos dias depois que a Aneel ajuizou o recurso, em que argumentou que os consumidores de energia podem ter que arcar com mais de R$ 1 bilhão por meio da conta de luz.