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Galp planeja ser operadora em energia renovável no Brasil

Parceira minoritária da Petrobras em campos do pré-sal, a portuguesa Galp pretende estrear como operadora no Brasil no próximo ano, mas não em exploração e produção de petróleo e gás natural, onde está presente no país desde 1999, e sim na geração de energia renovável. “Construir esse portfólio de renováveis no Brasil faz parte da nossa estratégia de descarbonização”, afirma o presidente global da Galp, Andy Brown. O executivo, que esteve na última semana no Brasil, para participar da Rio Oil & Gas, e que deixará o cargo no fim deste ano, conversou com a MegaWhat sobre os planos da companhia. Com a meta de reduzir em 40% as emissões de gases de efeito estufa até 2030 e atingir a neutralidade de emissões até 2050, o grupo quer alcançar 12 gigawatts (GW) de capacidade instalada de fontes renováveis até 2030 e possui uma carteira de 5,4 GW de projetos de fontes solar e eólica onshore no Brasil, adquirida de empresas locais.   Leia abaixo os principais trechos da entrevista. MegaWhat: Qual é o papel do Brasil no plano de negócios da Galp para os próximos anos? Andy Brown: Investimos US$ 5 bilhões [no Brasil] nos últimos 20 anos até agora. E montamos uma posiçã

Galp planeja ser operadora em energia renovável no Brasil

Parceira minoritária da Petrobras em campos do pré-sal, a portuguesa Galp pretende estrear como operadora no Brasil no próximo ano, mas não em exploração e produção de petróleo e gás natural, onde está presente no país desde 1999, e sim na geração de energia renovável. “Construir esse portfólio de renováveis no Brasil faz parte da nossa estratégia de descarbonização”, afirma o presidente global da Galp, Andy Brown.

O executivo, que esteve na última semana no Brasil, para participar da Rio Oil & Gas, e que deixará o cargo no fim deste ano, conversou com a MegaWhat sobre os planos da companhia. Com a meta de reduzir em 40% as emissões de gases de efeito estufa até 2030 e atingir a neutralidade de emissões até 2050, o grupo quer alcançar 12 gigawatts (GW) de capacidade instalada de fontes renováveis até 2030 e possui uma carteira de 5,4 GW de projetos de fontes solar e eólica onshore no Brasil, adquirida de empresas locais.

 

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Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

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MegaWhat: Qual é o papel do Brasil no plano de negócios da Galp para os próximos anos?

Andy Brown: Investimos US$ 5 bilhões [no Brasil] nos últimos 20 anos até agora. E montamos uma posição particularmente no pré-sal. Somos o terceiro maior produtor [de óleo e gás] no país. Provavelmente investiremos US$ 5 bilhões novamente nos próximos, dez, 15 anos. Porém, mais da metade desses US$ 5 bilhões serão em projetos renováveis. Construir esse portfólio de renováveis no Brasil faz parte da nossa estratégia de descarbonização. Ainda é cedo para dizer, mas o Brasil tem uma grande oportunidade para contribuir com a transição energética. E a Galp está bem-posicionada para fazer parte dela.

 

MegaWhat: Qual é a participação do Brasil no total de investimentos da Galp?

Brown: Nosso net capex [global] é da ordem de 1 bilhão de euros (cerca de R$ 5,1 bilhões) por ano. Então, em dez, 15 anos, nesse ritmo, nós vamos investir de dez a 15 bilhões [de euros]. Você pode ver que o Brasil responde por uma grande parte do nosso portfólio global. Já era assim no passado. E acreditamos que continuará sendo.

MegaWhat: Qual é o objetivo da Galp em exploração e produção de óleo e gás no Brasil? Vocês se veem como operadores no futuro?

Brown: Não. Somos operadores em algumas concessões de exploração no mundo. O que estamos buscando no Brasil é ter um grande portfólio de projetos. Mas nós também temos alguns projetos para desenvolver, como Sépia, Tupi, e também tem um FPSO em Atapu [campos localizados no pré-sal e que a Galp tem participação minoritária]. Há muito ainda a ser desenvolvido como não-operador no Brasil.

MegaWhat: A Galp pretende investir na aquisição de novas áreas de petróleo, como não-operadora, nos próximos leilões?

Brown: Queremos reduzir gradualmente as novas fronteiras de exploração. Ainda temos ótimos prospectos exploratórios. Mas estamos diversificando a forma de investir, de upstream para renováveis. É disso que se trata a transição. Não estamos esquecendo [o óleo e gás], continuamos investindo, continuamos crescendo no upstream, mas nosso foco nas próximas décadas será mais em renováveis do que descobrir mais petróleo.

MegaWhat: Quando a Galp pretende iniciar a geração de energias renováveis no Brasil?

Brown: Por volta do fim do ano, nós tomaremos a decisão sobre onde vamos construir os primeiros projetos. Alguns desses projetos vão começar a ser construídos no próximo ano. Tivemos um encontro com todo o nosso time [no Brasil] sobre como garantir que comecemos esses projetos de forma segura. Porque nós não somos operadores offshore em petróleo [no Brasil], mas seremos operadores em termos de renováveis, o que demanda muita construção, muitas atividades. Temos que garantir a segurança das pessoas. É algo novo para a Galp ser operadora no Brasil. É uma grande transição.

MegaWhat: É interessante porque o primeiro projeto da Galp como operadora no Brasil não será em óleo e gás, mas em renováveis.

Brown: Sim. Já operamos 1,3 GW de capacidade de usinas solares na Ibéria, principalmente na Espanha. Temos um time muito experiente em operações com painéis solares. Vamos trazer essa oportunidade para o Brasil. Ser operadores em energia solar não é algo novo para a Galp, mas é novo para a Galp no Brasil.

MegaWhat: A Galp possui uma meta de alcançar 4 GW de capacidade instalada de renováveis globalmente, em 2025, e 12 GW, em 2030. Quanto desse total pode ser gerado no Brasil?

Brown: Provavelmente, a maior parte desses 4 GW será na Ibéria, porque atuamos em renováveis na Iberia há mais tempo do que no Brasil. Ainda veremos quanto dos 4 GW nós teremos no Brasil. Mas, não sei se, em 2030, o Brasil será maior que a Ibéria.

MegaWhat: Durante sua apresentação na Rio Oil & Gas, você demonstrou preocupação com relação à escassez de oferta de minerais críticos para garantir a transição energética. Como lidar com essa questão?

Brown: Foi um comentário geral que fiz sobre transição energética. Um dos problemas é o tempo entre a descoberta dos depósitos de minerais até o início da atividade de extração. São quase 15 anos. A mineração nos países precisa se antecipar ao que será a demanda futura. Isso é um ponto importante para que a transição energética seja rápida o suficiente para atingir as metas dos compromissos firmados no Acordo de Paris. É um problema real.

MegaWhat: Você enxerga isso como um fator de risco para que a Galp alcance suas metas de descarbonização?

Brown: Não. As companhias precisam investir nas commodities para as quais haverá grande demanda no futuro. Por isso, fomos atrás de unidades de conversão de lítio. Enquanto a demanda por cobre vai dobrar até 2035, a demanda de lítio vai crescer entre seis e dez vezes até 2030. [A Galp vai investir 700 milhões de euros na construção de uma refinaria de lítio em Portugal, em parceria com a Northvolt, com início de operação comercial em 2026]. Se você olhar o website da Northvolt, eles dizem que vão construir as baterias mais renováveis do mundo. E podemos fazer isso no contexto europeu. Acredito que não só haverá demanda para o que estamos fazendo em lítio, mas que as fabricantes de veículos vão exigir baterias que tenham certificado de baixa pegada de carbono. E este é um papel que podemos exercer.

MegaWhat: Com relação ao portfólio de projetos de fontes renováveis no Brasil, onde eles devem ser construídos?

Brown: Estamos fazendo estudos em três estados: Bahia, Ceará e Pernambuco.

MegaWhat: A Galp planeja fazer alguma aquisição no Brasil para crescer o volume de negócios em vendas de gás natural no país?

Brown: No momento, temos nossa própria produção de óleo e gás, a partir das nossas parcerias com a Petrobras. E, desde a liberalização do mercado, nós podemos vender [gás]. Desenvolvemos essa capacidade, de construir um portfólio de contratos em todo o Brasil. E asseguramos a compra da produção [de gás] da Repsol. Estamos estudando outros acordos do tipo com outros não-operadores. Queremos crescer mais. Este é um caminho para participar do mercado de gás. O outro caminho é importar gás. A Galp tem um portfólio de projetos de GNL [gás natural liquefeito].

 

MegaWhat: Quais são os planos para a comercialização de energia elétrica no Brasil?

Brown: Estamos montando um time de comercialização de energia. Vimos uma oportunidade em gás, temos um time de comercialização de gás muito efetivo. Realmente demonstramos o que nós fazemos, quando estamos focados. E quero fazer o mesmo com energia elétrica. Estamos iniciando uma jornada emocionante aqui. E nós teremos nossa própria energia para vender.

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