Energia nuclear

Geração nuclear deve bater recorde em 2025 e pequenos reatores avançam

Com políticas atuais, geração nuclear em pequenos reatores deve chegar a 40 GW em 2050; com mais incentivos, potência poderá ser de 120 MW, diz IEA

Usina nuclear de Krsko, na Eslovênia
Usina nuclear de Krsko, na Eslovênia

Em 2025, a geração nuclear no mundo deve ter 420 reatores em operação, entre projetos existentes, novos projetos e plantas que tiveram sua vida útil estendida – como foi o caso de Angra 1, no Brasil, que em novembro recebeu aval para operar por mais 20 anos. Assim, a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) projeta que este será o ano com maior geração nuclear da história.

“Ainda que alguns países saiam da energia nuclear ou aposentem plantas mais cedo, a geração global de usinas nucleares está aumentando à medida que o Japão reinicia a produção, trabalhos de manutenção são concluídos na França e novos reatores iniciam operações comerciais em vários mercados, incluindo China, Índia, Coreia e Europa”, diz relatório da IEA divulgado nesta quinta-feira, 16 de janeiro.

Segundo a agência, a fonte nuclear está voltando ao centro das atenções depois da tragédia em Fukushima, no Japão, em 2011, quando houve o acidente com a usina nuclear como consequência de um terremoto seguido de um tsunami na região. Um indício desta tendência estaria no financiamento para a energia nuclear, que aumentou cerca de 50% entre 2020 e 2023, superando US$ 60 bilhões. O valor considera tanto novos reatores quanto extensões da vida útil de equipamentos existentes.

Atualmente, há 63 reatores nucleares em construção, que ultrapassam os 70 GW de capacidade, “um dos níveis mais altos desde a década de 1990”, diz o estudo. Outros 60 reatores, que representam cerca de 15% da capacidade de geração nuclear global, tiveram sua vida útil alongada nos últimos cinco anos.

‘Renascimento’ da geração nuclear: China

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE Minuto Mega Minuto Mega

O “renascimento” da energia nuclear vem com mudanças no cenário da fonte: a China deve se tornar o país com maior capacidade de geração nuclear em 2030, superando a União Europeia e os Estados Unidos. Além disso, países de economia avançada, que tradicionalmente lideravam na fonte, estão com tecnologia obsoleta – nestes países, a idade média dos equipamentos é de 36 anos, duas vezes superior à média de idade dos equipamentos em outras regiões.

Segundo o relatório, fazer a renovação destes equipamentos não tem sido fácil, com países antes liderem em energia nuclear, como França e Estados Unidos, enfrentando atrasos em projetos e aumento nos custos para reatores de larga escala.

Mesmo com o cenário positivo, a fonte nuclear atualmente responde por cerca de 10% da geração global, segundo o relatório. A expansão da fonte pode ser uma solução para o desafio da descarbonização com aumento da demanda, já que a geração nuclear é firme e tem a segunda menor emissão de gases de efeito estufa, atrás apenas da geração hídrica.

Pequenos reatores modulares podem reduzir custo e prazo de projetos

Para a IEA, os pequenos reatores modulares (SMR, na sigla em inglês) podem ser um catalisador da adoção da fonte e podem responder à demanda crescente de energia para data centers. Para que os equipamentos deslanchem, a IEA aponta como importantes o apoio governamental e novos modelos de negócios para a fabricação dos SMR.

“Sob as políticas atuais, a capacidade total de SMR alcançará 40 GW em 2050, mas o potencial é muito maior. Em um cenário em que políticas direcionadas para nuclear e regulamentações simplificadas para SMRs se alinham com a entrega robusta da indústria em novos projetos e designs, a capacidade de SMR é três vezes maior em meados do século, atingindo 120 GW, com mais de mil SMRs em operação”, diz o relatório.

Neste cenário, o investimento necessário em SMRs passaria dos atuais menos de US$ 5 bilhões hoje para US$ 25 bilhões até o final desta década, com investimento acumulado de US$ 670 bilhões até 2050.

Para a IEA, os SMRs podem reduzir ‘dramaticamente’ os custos de projetos de geração nuclear, que podem ser equivalentes aos de grandes hidrelétricas ou de plantas eólicas offshore. Além disso, o prazo para o break-even (recuperação do investimento) de projetos com SMRs pode acontecer até 10 anos antes de projetos com reatores tradicionais. De acordo com o relatório, os primeiros projetos comerciais de SMR devem entrar em operação por volta de 2030.

Apoio governamental e interesse da indústria

Tanto para SMRs quanto para reatores de maior escala, a IEA aponta como fundamentais o apoio governamental e o engajamento da indústria para produzir os equipamentos com inovação e maior eficiência. A produção em série de reatores poderá reduzir os prazos dos projetos, aumentar a confiabilidade e incentivar o surgimento de uma cadeia de fornecimento e de mão de obra qualificada para o setor.

O setor privado também é fundamental no financiamento dos projetos. “O financiamento público não será suficiente para construir uma nova era para a energia nuclear: financiamento provado será necessário para escalar os investimentos”, diz o estudo.

A atuação do poder público ocorre tanto na elaboração de políticas e regulamentações que impulsionem os projetos, quanto no financiamento, já que inciativas nucleares  necessitam de capital intensivo e têm prazos de construção longos e grande complexidade técnica, entre outros desafios.

Outros importantes desafios para a fonte nuclear estão na concentração de tecnologia – a maior parte dos projetos hoje usa a tecnologia chinesa ou russa – e na concentração de fornecedores de urânio e de serviços de enriquecimento do elemento. Atualmente, 99% da capacidade de enriquecimento de urânio está concentrada em quatro países, sendo que 40% está

Matéria bloqueada. Assine para ler!
Escolha uma opção de assinatura.