Ao mesmo tempo em que o mercado se prepara para investimentos bilionários em novos projetos de geração e transmissão de energia no próximo decênio, a modernização dos ativos existentes também atrai a atenção dos agentes do setor.
O Plano Decenal da Expansão (PDE) 2030, elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), prevê a necessidade de investimentos da ordem de R$ 35 bilhões na substituição de ativos de transmissão em final de vida útil. Além disso, prevê a modernização de 4,3 GW em hidrelétricas existentes em todo o país ao longo do período.
Os valores são significativos mesmo se colocados no contexto de todos os investimentos estimados em transmissão no decênio, da ordem de R$ 89,6 bilhões. Para geração centralizada, o PDE aponta a necessidade de aportes de R$ 169 bilhões no período, com incremento de 28 GW no total.
As fabricantes e as empresas já estão de olho nas oportunidades no mercado. “Nós temos um parque gigantesco no Brasil para ser substituído. Para dar um exemplo, espero pelo menos mais de 4 mil disjuntores de 500 kV até 2023, assim como chaves seccionadoras, sistemas de proteção. Tão logo estejam definidas as regras de remuneração e para substituição dos bens, acho que será um caminho sem volta”, disse Glauco de Freitas, Vice-Presidente de Marketing e Vendas na Hitachi ABB Power Grids.
Segundo Marcos Farinha, consultor técnico da Superintendência de Transmissão de Energia da EPE, a estatal de planejamento tem uma preocupação grande com a vida útil das instalações, até porque o sistema brasileiro é muito grande.
Os R$ 35 bilhões estimados em transmissão pelo PDE 2030 se referem à vida útil regulatória dos ativos. “A vida útil física pode se prolongar além da regulatória dependendo do cuidado com o equipamento. E, assim, acabamos podendo postergar ou escalonar os investimentos. Por isso, é importantíssimo que as informações sejam repassadas à EPE pelas concessionárias e elas são chamadas a participar dos estudos de planejamento com a EPE”, explicou.
A estatal trata a questão com muita atenção, uma vez que a disponibilidade dos equipamentos é fundamental para que o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) possa operar o sistema. “Essas indicações de troca, substituição, nos são dadas pelas empresas transmissoras. Toda vez que abrimos os estudos de planejamento, as transmissoras tem necessidade de alertar sobre a necessidade de determinada troca”.
Apenas o tempo de uso de um equipamento não é suficiente para decidir se está obsoleto ou não. “Só um fabricante ou empresa muito especializada consegue afirmar se um transformador de 40 anos está obsoleto ou não, depende da carga dele ao longo da vida”, disse Freitas. Segundo ele, se o equipamento não estiver obsoleto, pode ser, por exemplo, repotencializado e funcionar por mais 5 a 10 anos. “Essa clareza que ainda falta, o regulador precisa definir o procedimento adequado”, afirmou, se referindo à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Uma das empresas mais antigas do setor elétrico brasileiro, fundada em 1957, Furnas dá atenção especial à modernização dos seus parques de geração e transmissão de energia. Segundo Fábio Lacerda, superintendente de Engenharia e Manutenção da companhia, o procedimento de modernização dos seus ativos de transmissão é comandado pelo Plano Geral de Empreendimentos de Transmissão em Instalações de Operação, que busca a excelência operacional consolidando as ações a serem realizadas nos ativos.
Até novembro do ano passado, o sistema já tinha investido R$ 4,15 bilhões na modernização de ativos de transmissão, com instalação de novos transformadores, bancos de capacitores, disjuntores, entre outros. “Para os próximos anos, os investimentos no sistema de transmissão de Furnas incluem a instalação de 2730 equipamentos e investimentos da ordem de R$ 1,87 bilhão”, disse o executivo.
A controlada da Eletrobras também investe na modernização das suas hidrelétricas. Segundo Lacerda, recentemente a companhia contratou o projeto básico para a modernização das usinas Funil (RJ), Porto Colômbia (MG/SP) e Marimbondo (MG/SP). Como as usinas são enquadradas no regime de cotas, os recursos investidos serão provenientes da GAG melhoria,
Os recursos para modernização das UHE Funil, UHE Porto Colômbia e UHE Marimbondo são provenientes da GAG melhoria, parcela associada ao Custo da Gestão dos Ativos de Geração (GAG). “Somente para o projeto básico destas três usinas, o orçamento elaborado por Furnas foi de R$ 2,9 milhões”, disse Lacerda.
Como são ativos muito antigos, Furnas tem planos que envolvem técnicas de manutenção preditivas e sistemas de monitoramento para monitorar os equiopamentos. Esses testes indicam as condições técnicas reais e permitem que o planejamento adequado das substituições necessárias seja feito.
Quando as empresas fazem os testes, a EPE recebe as indicações de troca e substituições de equipamento. “Toda vez que abrimos os estudos de planejamento, as transmissoras tem necessidade de alertar sobre a necessidade de determinada troca”, afirmou Farinha.
Para Freitas, da ABB, ainda que a solicitação parta dos concessionários, é importante que a regulação seja efetiva. “A Aneel precisa regulamentar a substituição de equipamentos obsoletos pois quem paga é o consumidor”, afirmou.