Curtailment

Sobra vento e corte de geração de energia em inauguração da Enel

Enel inaugura eólica Pedra Pintada, na Bahia
Enel inaugura eólica Pedra Pintada, na Bahia

A Enel Green Power inaugurou no sábado, 7 de junho, o parque eólico Pedra Pintada, com 194 MW de capacidade instalada, na cidade de Ourolândia, Bahia. Contudo, durante a cerimônia, o parque não estava gerando energia, a partir de decisão do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).

O parque da Enel tem uma média de 11% de cortes de geração. Com a redução da carga aos fins de semana, os cortes no sábado e domingo são frequentes. “É falta de demanda. Não é somente um tema de transporte de energia, mas também que o sistema não precisa. Então, o fenômeno de natureza dobra [a necessidade do corte], disse Bruno Riga, presidente da Enel Green Power no Brasil, em conversa com jornalistas no evento.

A cerimônia contou a presença do governador do estado, Jerônimo Rodrigues (PT), do senador Jacques Wagner (PT-BA), do deputado João Carlos Bacelar (PV-BA), além prefeitos e vereadores da região.

“O estado onde temos o maior impacto é a Bahia, porque temos 1,6 GW de capacidade instalada, e que representa 40% de toda a nossa capacidade instalada no Brasil”, disse Riga, complementando que os cortes nas usinas solares na Bahia chegam a até 35%.

Enel: curtailment posterga retorno em cinco anos

Com os cortes de geração nos projetos eólicos e solares, a Enel estima que o retorno dos investimentos tem sido postergado, em média, em cinco anos, a partir da projeção inicial, que gira em torno de dez a 15 anos.

“Obviamente que depende do parque, de onde a usina está localizada, do nível do curtailment. Então, precisa mais tempo. Isso também pode chegar a colocar em risco a sustentabilidade financeira no imediato e em toda a vida útil da usina. Tem empresa que pode chegar ao fim da vida útil da usina e não ter recuperado o investimento”, disse o head da Enel Green Power.

Avaliando que o momento é de discussão no setor, o executivo reforça que a empresa está preocupada em realizar novos investimentos em geração, dado o risco de os cortes impactarem diretamente a receita dos projetos.

“Hoje, com as condições de preço, já é muito complicado fechar novos projetos. O curtailment ‘mata’ completamente os projetos para o próximo ano. Então, precisamos de uma solução”.

MMGD e inflexibilidade nos cortes

Além da defasagem da infraestrutura de transmissão para o escoamento dessa energia aos pontos de consumo, a Enel vê na expansão acelerada da micro e minigeração distribuída (MMGD) a evolução do curtailment.

“Também é uma consequência do desenvolvimento muito forte da geração distribuída, que, por sua natureza, passa na frente da demanda, antes da oferta da geração centralizada. É algo [o corte] que, sem dúvida, precisa de uma solução, tanto técnica quanto econômica”, disse o CEO da Enel Brasil, Antonio Scala.

Bruno Riga ainda alerta para o acionamento inflexível, antes do despacho eólico e solar, perdendo, de um ponto de vista do sistema, um recurso que já seria disponível e a custo marginal zero.

“Gera um risco relevante para os investidores do setor, tanto para os empreendimentos já executados, mas também para todos os futuros investimentos (…). Não significa que o sistema está somente funcionando com hidrelétrica. Não, está funcionando com térmica inflexível. Isso também é um ponto de atenção”, disse, reforçando que a discussão deve tratar do equilíbrio para o sistema, não por opções de fonte.

Eólica Pedra Pintada

A construção de Pedra Pintada envolveu um investimento de cerca de R$ 1,8 bilhão. A empresa possui nove parques eólicos e dois solares desenvolvidos na Bahia. O estado representa a segunda maior capacidade instalada da Enel no Brasil, com 1,9 GW em operação, de um total de 6,6 GW.

Durante a fase de implantação da usina, foram gerados mais de 2.100 empregos, com 51% das vagas abertas ocupadas por trabalhadores locais. Composto por 43 aerogeradores, o parque eólico Pedra Pintada tem capacidade para gerar mais de 894 GWh por ano, o equivalente à energia necessária para abastecer cerca de 435 mil residências.

A produção de energia da usina tem potencial para evitar a emissão de 374
mil toneladas de CO2 na atmosfera anualmente.

* A jornalista Natália Bezutti participou da cerimônia de inauguração a convite da Enel