A Voltalia informou que os curtailments em seus parques no Brasil podem impactar seu Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de 2024 em 40 milhões de euros, se o câmbio e os atuais parâmetros para cortes na produção forem mantidos.
Segundo a empresa, os cortes no primeiro semestre foram baixos e ficaram em linha com o esperado, mas para o segundo semestre as restrições podem ter maior impacto em função da sazonalidade da produção, que é tradicionalmente maior no segundo semestre, e porque os recursos eólicos e solares devem ficar acima da média neste ano, de acordo com projeções meteorológicas e com os níveis de radiação e vento observados desde o início de julho.
Em comunicado divulgado nesta segunda-feira, 19 de agosto, a Voltalia avalia que Operador Nacional do Sistema (ONS) está “impondo uma redução pronunciada em certas partes da rede”.
De acordo com a Voltalia, após o blecaute de agosto de 2023, que atingiu o abastecimento em 25 estados e no Distrito Federal, o ONS passou a limitar uma quantidade “anormalmente alta” da produção para minimizar os riscos de instabilidade. Na ocasião, a Voltalia também sofreu com atrasos nas conexões ao grid, com prejuízos estimados em 10 milhões de euros.
Com a demonstração de segurança na rede, o curtailment ficou em níveis “marginais” no fim de 2023, mas estaria voltando a crescer em 2024. “Organizações profissionais que reúnem produtores de eletricidade, como a Voltalia, consideram que a extrema cautela aplicada pelo operador de rede não seria tecnicamente necessária. A perda do potencial de produção de eletricidade, em última análise ruim para a economia brasileira, seria, portanto, evitável”, diz o comunicado.
Segundo a empresa, sua geração no Nordeste do Brasil pode ser impactada por “vários meses” em função de “atrasos na construção de novas linhas de transmissão para fortalecer a rede” na região.
Compensações financeiras
Por avaliar que os cortes são desnecessários, a Voltalia informa que está realizando ações para reduzir o nível dos curtailments e ser compensada financeiramente pelas interrupções. A empresa diz que tem feito encontros com o ONS e menciona “várias ações judiciais” em busca de compensação financeira aos produtores pelos cortes na geração.
A companhia também informa que há discussões entre geradores, o ONS e outras autoridades “a fim de acelerar pelo menos uma parte da compensação financeira e reduzir a duração do atual limite”.
Em dezembro de 2023, geradores eólicos e solares obtiveram liminar que previa uma compensação financeira pelo constrained-off, mas a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) conseguiu derrubar a decisão em julho deste ano.
O constrained-off ocorre em situações de corte de geração (curtailment) deliberada, ou seja, quando há eventos que levam o ONS a interromper ou reduzir a geração de energia elétrica por razões não relacionadas às usinas, como impossibilidade de alocação da geração na carga, indisponibilidade da rede de transmissão, ou atendimento a requisitos de confiabilidade elétrica.
Apesar da preocupação com as limitações na sua geração,a Voltalia reafirmou seus objetivos de Ebitda de 475 milhões de euros para 2027 e 3,3 GW em operação e construção ao fim de 2024, dos quais 2,5 GW estariam em operação. “Embora estejamos surpresos com o anúncio de um nível anormalmente alto de curtailment no Brasil, estamos confiantes na eficácia das ações coletivas e específicas da Voltalia para minimizá-lo e compensá-lo financeiramente”, declarou no comunicado o presidente da Voltalia, Sébastien Clerc.