O que é: redes de distribuição e transmissão de energia elétrica que contam em suas arquiteturas com avançados recursos de tecnologia da informação e elevado grau de automação para monitorar e gerenciar o transporte de eletricidade, a partir de todas as fontes de geração, de forma a ampliar de forma significativa a eficiência operacional.
Como funciona: embora sejam semelhantes a redes tradicionais, as smart grids são estruturas que contam com equipamentos dotados de processadores, que automatizam processos e permitem fluxo da energia elétrica e de informações em duas direções. Uma smart grid permite que uma distribuidora possa monitorar em tempo real o consumo dos clientes que contam com medidores inteligentes, além de armazenar os dados de consumo, permitindo análises apuradas de demanda e planejamento mais eficiente da rede.
As empresas podem identificar rapidamente onde ocorrem quedas no fornecimento e realizar remotamente manobras necessárias para reestabelecer a energia. E num cenário mais amplo, os consumidores podem gerar sua própria energia e ceder ou vender excedentes para a rede.
Histórico: a Europa e os Estados Unidos são as regiões em que se vê as maiores evoluções das redes inteligentes. Pioneira, a Europa implementou o embrião das redes inteligentes por meio do estabelecimento da “Estratégia de Lisboa”, que determinava a liberação e regulamentação dos monopólios; inovação e competitividade; preços baixos e eficiência (esses primeiros no âmbito do mercado interno); disponibilidade de energia renovável; confiabilidade, qualidade, capacidade (estes na seara da segurança de fornecimento) e preservação da natureza e da vida selvagem, mudanças climáticas e poluição (dentro da questão de meio ambiente).
No Brasil, as iniciativas na direção da digitalização das redes começam a surgir na esfera de governo no final da década de 2000. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou a Resolução Normativa 375/2009, que regulamenta o uso de instalações de distribuição como meio de transporte para a comunicação digital ou analógica de sinais. Naquela época, debatia-se o uso da internet via rede elétrica, tanto é que a resolução trata do Power Line Communications (PLC), sistema de telecomunicações que utiliza a rede elétrica como meio de transporte de sinais como internet, vídeo e voz, entre outros.
A resolução impedia as distribuidoras de desenvolver atividades comerciais com a chamada “internet via rede elétrica”, mas abria espaço para “fazer uso da tecnologia PLC nas atividades de distribuição de energia elétrica, ou aplicação em projetos sociais, com fins científicos ou experimentais, observadas as prescrições do contrato de concessão ou permissão e da legislação específica”.
No ano seguinte, duas iniciativas foram mais diretas no desenvolvimento de smart grids: a Aneel realizou a chamada pública 011/2010, para o projeto estratégico de P&D “Programa Brasileiro de Rede Elétrica Inteligente”, que tinha como objetivo elaborar uma proposta para o Plano Brasileiro de Redes Inteligentes – política pública voltada para a modernização das redes elétricas. O projeto teve a Cemig como empresa proponente e coordenação do Instituto Abradee.
Entre os resultados do projeto, concluído em um ano, nove projetos-piloto foram realizados, com investimentos previstos de R$ 8,138 milhões (valores históricos, segundo a Aneel).
- Cidades do Futuro (Cemig) – Cidade de Sete Lagoas/MG
- Cidade Inteligente Búzios (Ampla/Endesa Brasil – atual Enel Distribuição Rio) – Cidade de Búzios/RJ
- Smart Grid Light (Light) – Cidade do Rio de Janeiro/RJ
- Parintins (Eletrobras Amazonas Energia) – Cidade de Parintins/AM
- Smart Grid (Eletropaulo) – Barueri e outras localidades, São Paulo/SP
- InovCity (EDP Bandeirante – atual EDP São Paulo) – Aparecida/SP
- Cidade Inteligente Aquiraz (Coelce/Endesa – atual Enel Distribuição Ceará) – Cidade de Fortaleza/CE
- Paraná Smart Grid (Copel) – Curitiba/PR
- Arquipélago de Fernando de Noronha (Celpe) – Fernando de Noronha/PE
Ao mesmo tempo, o Ministério de Minas e Energia (MME) editou a Portaria 440/2010, que criou o “Grupo de Trabalho com o objetivo de analisar e identificar ações necessárias para subsidiar o estabelecimento de políticas públicas para a implantação de um Programa Brasileiro de Rede Elétrica Inteligente.
Além do projeto de P&D, a Aneel previu a possibilidade de uso de medição remota unidades consumidoras do grupo B (baixa tensão) em 2012, com a edição da Resolução Normativa nº 502/2012: “na hipótese do sistema de medição ser provido de sistema de comunicação remota, a distribuidora deve adotar procedimentos e tecnologias que assegurem a segurança dos dados trafegados e, especialmente, das informações de caráter pessoal coletadas das unidades consumidoras”.
Outra medida, que aparentemente é sem relação com o tema, mas tem repercussão na expansão das smart grid foi a introdução da micro e minigeração distribuída no país, a partir da Resolução Normativa Aneel 482/2012, que regulamentou a modalidade, com previsão de uso de medição específica, de modo que se permita calcular a compensação dos excedentes que eventualmente forem injetados na rede. A Resolução 482 foi atualizada com a Resolução Normativa 687/2015.
Desde então, distribuidoras vêm realizando aquisições de equipamentos de rede com algum tipo de automação, como religadores (equipamentos que são comandados remotamente para restabelecimento da energia).
A inserção da tarifa branca, em vigor a partir de janeiro de 2018, também é parte de um processo de modernização das redes, ainda que a adesão seja voluntária, pois o consumidor terá que contar com um medidor de energia que permita a leitura do consumo de energia em tempo real, o que exigirá equipamentos automatizados (medidores inteligentes).
É bom saber também: as smart grids estão envolvidas no conceito de Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês), que é o uso de processadores em equipamentos, como se fossem computadores ou smartphones, capazes de receber e enviar dados. Com isso, os consumidores podem, por exemplo, contar com recursos de gestão de energia, ou seja, podem acionar aparelhos de ar condicionado (ligando ou desligando) à distância, por exemplo, ou programar o uso da iluminação em função do horário e do número de pessoas na residência.