A temática ESG (sigla em inglês para meio ambiente, social e governança corporativa) trouxe cuidados adicionais às instituições financeiras na avaliação de possíveis investimentos, mas ainda não tem efeitos “materiais” no custo do capital, afirmaram especialistas que participaram de um painel no evento Lefosse Energy Day, realizado pelo escritório de advocacia Lefosse.
Segundo Allan Gabriel, co-head de energia na área de project finance do Itaú BBA, “a barra aumentou” na avaliação das contrapartes, principalmente em relação à governança corporativa.
“Não vamos ainda efeitos materiais nos preços, mas começamos a ver gestores dedicados com mandatos específicos para atender mandatos ESG”, disse Gabriel. Para ele, a tendência é que, conforme o mercado cresça, os projetos que não atendam os critérios ficarão com “menos bancabilidade”, e o custo mais competitivo para quem for alinhado com ESG acabará se concretizando como consequência.
Critérios ligados à sustentabilidade também ditam repasses de fundos de desenvolvimento pelo Banco do Brasil, disse Renata Rossetti, diretora de project finance do banco estatal.
Mesmo que essas exigências ainda não tenham efeito significativo no preço do crédito, os fundos de desenvolvimento exigem critérios sociais pra priorizar os desembolsos. “É um elo necessário principalmente em regiões carentes, e o banco quer contribuir. Sempre falamos que é um caminho para priorizar acessos aos fundos”, disse Rossetti.
Enquanto os bancos comerciais priorizam as taxas de retorno na avaliação das operações, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) tem critérios ainda mais ligados à sigla ESG na liberação de seus recursos, disse Silvana Bianco, diretora de Investimentos da instituição.
“Bancos comerciais levam muito em consideração o retorno financeiro dos projetos. A nossa avaliação não, ela olha o nível de desenvolvimento que o projeto vai levar para a região que vai atender”, disse. Como são recursos limitados, os projetos são escolhidos com base nesses critérios, principalmente.
Os especialistas comentaram também o novo papel do BNDES, de facilitador de investimentos e não mais o grande bolso da infraestrutura no país. “As taxas eram subsidiadas e era difícil ter taxas mais competitivas que eles”, disse Igor Fonseca, que comanda a área de energia em project finance do Santander.
“O BNDES tem sido forçado de forma saudável a se adaptar”, comentou Fonseca, para quem isso é positivo pois assim outras instituições se movimentam para dividir os riscos dos projetos.
O aumento da taxa de juros também tem ajudado a fomentar o mercado de capitais como financiador dos projetos de energia, disse Fonseca. Segundo ele, investidores que tinham migrado para renda variável, quando a Selic estava em baixa, voltaram agora para renda fixa, e os bancos têm visto grande apetite por crédito. O desafio, segundo o especista do Santander, está no custo. “São poucos projetos, com os preços de PPAs negociados no mercado até então, que conseguem ficar de pé com uma dívida que custe IPCA mais 8%”, disse.
“O mercado de capitais se sofisticou muito, o gestor profissional trouxe bolsos importantes, e vemos apetite para estruturas de crédito mais arrojadas”, disse Allan Gabriel, do Itaú BBA.