A Casa dos Ventos, que tem projeto de produção de hidrogênio verde na Zona de Processamento de Exportação (ZPE) do Porto do Pecém, no Ceará, avalia que o Brasil também precisa ter políticas para o consumo interno da molécula.
“A lei do hidrogênio foi um passo importante, mas ela precisa ser mais específica não só para exportação, mas também para uso dentro do país”, disse o líder de Novos Negócios da empresa, José Augusto Campos, em painel realizado nesta terça-feira, 24 de setembro, na ROG.e (antiga Rio Oil & Gas). Para ele, os incentivos devem vir por meio de regulação, com uma “extensão deste programa de incentivos”, com maior clareza sobre quais são os incentivos e as contrapartidas para os empreendedores.
Apesar do caráter voltado para exportação da planta na ZPE de Pecém, a empresa já monitora oportunidades internas, segundo Campos. “Nós estamos conversando com vários players. A gente não está esperando a regulação vir”, disse o executivo. Um possível resultado destas conversas pode ser a criação de um ‘case’ para ser apresentado aos reguladores, demonstrando as oportunidades que o mercado de hidrogênio pode representar para o consumo interno do país.
Decisão final de investimento sobre planta no Pecém em 2025
O projeto da Casa dos Ventos na ZPE do Pecém prevê uma planta de 2,4 GW para produção de 960 toneladas por dia de hidrogênio verde. Segundo Campos, o projeto está em fase de aprovação de orçamento para estudos sobre engenharia do projeto – etapa avaliada em “dezenas de milhões de dólares”, disse o executivo.
Esta fase deve ser concluída em 2025, para quando é esperada a decisão final de investimento do projeto. Enquanto isso, a empresa tem conversado com fornecedores e possíveis clientes para as moléculas verdes. “A gente está falando de fornecedores de eletrolisadores, fornecedores de equipamentos de síntese de amônia, operadores de gás. Estamos conversando com todo mundo”, disse o executivo.
Outra ponta em diálogo são os bancos, para financiamento do projeto. O principal interlocutor é o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), mas também há negociações com outras instituições, como agências multilaterais e bancos comerciais. Segundo Campos, as instituições demonstram interesse, mas pedem que o ‘case’ esteja pronto para avançar nas avaliações.
Se o projeto for aprovado, as primeiras encomendas de amônia da Casa dos Ventos devem chegar à Europa em 2029. O destino deve ser o Porto de Roterdã, nos Países Baixos, impulsionada pela legislação europeia que determina que o hidrogênio consumido no bloco, para ser considerado verde, deve ser produzido em submercado em que pelo menos 90% da eletricidade venha de fontes renováveis.
Até por isso, no painel, Campos disse ser necessário ter cautela com a expansão de térmicas no país. “Tem que tomar cuidado para não sujar o que está limpo. Queremos ser uma potência verde? Então temos que encontrar outras formas de aumentar a capacidade instalada no país sem sujar, porque sujando a gente está jogando fora um diferencial importante do país”, avaliou o executivo.