O crescimento da capacidade de geração de energia que vem acontecendo no Brasil nos últimos anos deve gerar uma sobreoferta no país até 2029. Para evitar um desequilíbrio no setor, agentes, que participaram da reunião do Conselho Temático de Infraestrutura (Coinfra) da Confederação Nacional da Indústria (CNI), realizada nesta quarta-feira, 28 de junho, defenderam um concesso no segmento para resolver problemas com excesso de geração e de tarifas.
O diretor-executivo do World Energy Council no Brasil, Nelson Fonseca Leite, destacou a possibilidade de uma geração três vezes maior que o consumo nos próximos anos. Para reduzir esses impactos, o executivo defendeu a exportação do hidrogênio verde, a partir da sobra de energia, como uma possível solução.
“Poderíamos exportar hidrogênio verde. O Brasil tem uma vocação enorme para isso, pois há um excedente de energia – não há como armazenar energia eólica e solar. Trata-se de uma grande oportunidade de negócio, mas temos que nos preparar bem antes”, disse Leite.
Para ele, que é ex-presidente da Associação Brasileira dos Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), normas vigentes têm prejudicado os consumidores do mercado regulado de energia, e que pagam tarifas cada vez mais caras na conta de luz.
Outra solução sugerida por Leite para reduzir a sobreoferta e os valores cobrados nas contas de luz foi a aprovação do projeto de lei 414/2021, que trata da modernização e da abertura do mercado de energia no país. Além disso, propôs que todos os players do setor – geradores, distribuidores e consumidores – busquem um novo modelo que promova mais segurança energética e preços mais justos, o que envolveria, por exemplo, a renúncia de vantagens que alguns têm sobre os outros.
Na visão do diretor-executivo, uma das formas de alcançar essa equidade no setor elétrico seria por meio da redução dos encargos e subsídios embutidos nas tarifas de energia.
A perspectiva foi compartilhada pelo economista Cláudio Frischtak, sócio da Inter B Consultoria, que argumentou sobre alternativas mais sustentáveis para o setor, que deve buscar uma congruência setorial em busca de “um bem maior”.
Por sua vez, Edvaldo Santana, diretor-executivo na Negócios de Energia Associados (Neal) e ex-diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), disse que a principal fonte de ineficiência do setor elétrico brasileiro é a sua estrutura de governança.
“É preciso fazer um acordo, como foi feito em 2002, depois do racionamento. Seria um acordo em que muita gente vai perder, mas que adequaria o setor”, falou.
Já o diretor de Energia Elétrica da Associação Brasileira dos Grandes Consumidores de Energia (Abrace), Victor Iocca, destacou que à modernização do setor é discutida há mais de seis anos e que, de lá para cá, nada mudou.
“Regredimos no mercado de energia elétrica que está se deteriorando. Em algum momento vamos passar por uma nova ruptura. (…) A questão dos encargos setoriais é o grande ponto da distorção do preço da energia. Nós, da indústria, precisamos nos unir para evitar a expansão e/ou a criação de novos encargos suportados pela tarifa de energia”, concluiu Iocca.