Em 2025

Leilão experimental de baterias é ‘desserviço’ para o setor elétrico

Baterias Isa Cteep em Registro - Divulgação
Baterias na cidade de Registro (SP) | ISA Energia Brasil (Divulgação)

A desvinculação dos sistemas de armazenamento de baterias do leilão de reserva de capacidade pode gerar impacto na busca pela flexibilidade operativa necessária para segurança do sistema elétrico brasileiro, segundo Markus Vlasits, presidente da Associação Brasileira de Soluções de Armazenamento de Energia (Absae).

A entrada dos equipamentos chegou a ser discutida ao longo do ano passado, porém o Ministério de Minas e Energia (MME) ponderava que a inclusão ocorreria apenas se fosse ‘tecnicamente adequado’. Após meses adiando as regras do certame, a pasta bateu o martelo por um leilão com hidrelétricas e térmicas, e uma segunda portaria para a licitação exclusiva para baterias foi publicada. Ambos os leilões ainda aguardam a publicação do edital pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Para Vlasits, o sistema elétrico precisa de flexibilidade operativa para atender, principalmente, o déficit de potência do horário noturno. Para isso, o governo precisava pensar em um mix entre baterias e térmicas para garantir a segurança operacional.

“Uma contratação volumosa de térmicas e uma experimental de BESS [sigla para sistemas de armazenamento em baterias] faria um desserviço ao sistema elétrico brasileiro. Você vai contratar novas usinas térmicas, que permaneceram em operação até 2045, cuja duração de despacho é entre 8 e 12 horas, quando eu tenho um déficit noturno de até cinco horas”, disse o presidente ao destacar a flexibilidade de despachos das baterias durante painel do Energyear 2025.

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Além disso, o executivo destacou a dependência de suprimento de gás natural das térmicas, que podem alcançar um Custo Variável Unitário (CVU) entre R$ 600/MWh e R$ 1.500/MWh, “sendo que eu posso contratar uma tecnologia com o CVU zero, que está sendo comprovada mundialmente e traz a flexibilidade que precisamos”.

O CVU é associado aos custos variáveis de combustível e de operação e manutenção de termelétricas despachadas centralizadamente pelo Operador Nacional do Sistema (ONS). O valor é expresso em reais por MWh e é necessário para cobrir todos os custos operacionais variáveis de uma determinada usina, de acordo com a definição dada pela Portaria MME nº 203/2014.

Volume de baterias no Brasil

Para além do leilão, Luis Roberto Valer, director of solutions (Solar & BESS) for the Utility Market da Huawei Digital Power, falou sobre o potencial dos sistemas de baterias para reduzir os cortes gerações renovável e agregar soluções para os segmentos de distribuição e transmissão, bem como aplicações especificas nos setores comerciais, industriais, hotelaria e agronegócios.

Em complemento, Zilda Costa, vice-presidente da Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD), destacou o uso dos equipamentos nos projetos de geração distribuída para ajudar a controlar frequência.

“[Além disso], somos líderes em venda de bateria para distribuidores. O que isso significa? Significa que atrás do medidor as pessoas já estão usando baterias e a gente não consegue computar como o armazenamento avançou no mercado do Brasil nos últimos dois anos”, disse Costa.

Atualmente, a Absae estima cerca de 800 MWh de projetos implantados ou em via de implantação, sendo que metade são de nanorredes de eletrificação rural. O restante dos empreendimentos se divide entre clientes comerciais e industriais on-grid e consumidores off-grid, com ativos privados (irrigação) e sistemas isolados na Amazônia. Segundo o presidente da associação, o Brasil não atingiu os GWh em baterias, mas tem potencial para alcançar em 2025.

Em sua fala no painel, Cassia Pinho, CEO da Maday Energia, destacou que a empresa tem 30 MW de projetos para entregar para a indústria e comércio no primeiro trimestre de 2025, e outros 100 MW “na mesa” para estudo de construção.

Avaliação das fabricantes

Para Ricardo Marchezini, country manager Brazil da Risen Energy, apesar da implementação em alguns setores, o Brasil ainda é novo no setor e caminha para avançar.

“Nosso mercado ainda está em estágio inicial, enquanto países como Estados Unidos, Europa, Austrália e Chile já possuem um nível mais avançado de implementação. Precisamos direcionar esforços para capacitação e parcerias estratégicas, para que o Brasil possa evoluir nesse segmento”, destacou em um painel sobre as aplicações dos equipamentos no Brasil.

Para André Sá, gerente de Vendas da Canadian Solar, os sistemas podem ajudar a reduzir a dependência de fósseis em diversas cidades brasileiras, principalmente as dos Sistemas Isolados.

“Nosso objetivo é desligar os geradores a diesel e migrar para soluções mais sustentáveis. No setor de irrigação, um estudo da ANA [Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico] aponta que 55 milhões de hectares no país já têm disponibilidade hídrica para sistemas de irrigação, mas ainda não contam com a infraestrutura elétrica adequada. Cada hectare necessita de aproximadamente 1 kW de potência, o que representa um mercado potencial de 100 GWh para sistemas de armazenamento”, destacou Sá.

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