Clarissa Sadock começou a sua carreira no setor de energia em 2004 no segmento de distribuição. Desde janeiro deste ano, Sadock assumiu a presidência da AES Brasil, onde ocupava o cargo de vice-presidente financeira e de relações com investidores.
Da faculdade às salas de reuniões, teve que se acostumar com ambientes predominantemente masculinos, condição que para ela não deve ser normalizada. Por isso, na AES Brasil, tenta colaborar com essas mudanças no mercado de trabalho, com parcerias como a feita com o Senai Bahia, para a formação de 30 mulheres para operação de parques eólicos.
Confira a nossa entrevista especial com a executiva em razão do Dia Internacional da Mulher:
MegaWhat: Como você começou no setor?
Clarissa Sadock: Comecei no setor em 2004, na distribuição de energia. E, já em 2006, comecei a ver também geração, o grupo AES nessa época tinha geração e distribuição. De lá para cá, foram mais de 16 anos vendo muita coisa… muita coisa mudou, o setor era bastante regulado e hoje em dia, ele está se abrindo bastante.
MW: Quais as principais conquistas da sua carreira?
CS: Bom, eu diria que nos mais de 20 anos de trabalho, estive à frente de muitas situações que me desafiaram, seja em processos de aquisições e fusões, seja em processos de estruturação financeira, para crescer ou mesmo para ultrapassar situações de grande desafio financeiro. Recentemente, acho que posso citar o desafio de colocar em pé e executar o plano estratégico para venda da Eletropaulo em 2017. Teve também todo esse processo de crescimento da AES Tietê dos últimos anos, e mais recentemente, no ano passado, a oferta hostil que a AES Tietê recebeu.
MW: Tem alguém que te inspira/inspirou nessa trajetória?
CS: Olha, eu tive muitos líderes que me inspiraram, cada um do seu jeito, cada um com a sua forma. Outro dia estava tentando lembrar quantos líderes diretos eu tive nesses últimos 20 anos, e com certeza passa de 20. Posso dizer que sempre cresci muito quando trabalhei com pessoas por quem eu tinha grande admiração, pessoas que me desafiaram. Eu gosto de trabalhar num ambiente colaborativo, num ambiente onde as pessoas são empoderadas para fazer e desempenhar bem o seu trabalho.
MW: E hoje, como é estar à frente de um cargo de diretoria?
CS: Olha, é realmente fascinante estar à frente da AES Brasil neste momento, um momento tão especial onde tem tanta transformação acontecendo no setor elétrico. Acho que a gente está num momento, de fato, de revolução do setor e num momento muito importante de transformação no papel da sustentabilidade. Nós temos planos ambiciosos de crescimento e o momento do mercado não poderia ser melhor para poder entregar esse nosso plano.
MW: Qual foi a sua principal colaboração para o setor?
CS: Muita coisa aconteceu nesses últimos 16 anos e, sem dúvida, a resolução do GSF, que ocorreu ao longo de 2020 foi um marco muito importante pro setor de geração.
MW: Como é ser mulher num ambiente tão masculino?
CS: Olha, seja no setor elétrico e até em outros setores que eu trabalhei, eu sempre trabalhei com muito mais homem do que mulher. É estranho dizer, mas eu acho que a gente se acostuma, passa a achar normal muitas vezes ser a única mulher numa sala de reunião, numa discussão. Acho que eu passo por essa situação, na verdade, desde a faculdade de Economia que eu fazia e, muitas vezes, eu era a única mulher na sala de aula. Essa situação nunca me intimidou, mas também não posso achar isso normal. Então, eu acredito que o setor elétrico está evoluindo, assim como os demais setores, mas nós precisamos acelerar esse processo.
MW: A luta por igualdade de cargos e salários ainda é uma realidade para mulheres no setor?
CS: Na minha experiência na AES, posso dizer que eu vejo igualdade de salários. O que ainda é mais difícil é ter as mesmas oportunidades pra mulheres e homens. Eu diria que aqui é muito importante a gente lembrar constantemente daquela questão do viés inconsciente. Muitas vezes os gestores acabam optando por pessoas com quem tenham mais afinidade pessoal. Então é muito importante a gente relembrar da importância de você não usar o seu – esse viés – durante um processo de seleção, de escolha de candidatos. Além disso, é importante darmos um empurrão nesse processo, colocar metas efetivas. Recentemente, fechamos uma parceria com o Senai da Bahia para formar mulheres para a área operacional, porque a área operacional é onde temos um contingente maior de homens. Temos uma turma de 30 mulheres sendo treinadas, sendo formadas para operar parques eólicos e a nossa intenção é contratar metade dessa turma para operar o nosso parque eólico de Tucano, que vai começar a gerar energia no começo do ano que vem.
MW: Em 2021, o seu trabalho deve estar pautado em cima de quais discussões?
CS: São muitos os temas importantes e que estamos discutindo. Antes de mais nada, eu acho que a gente precisa fechar a discussão do GSF, assinar a extensão do contrato de concessão. Depois o foco passa para as discussões da evolução do mercado livre. Nós montamos a plataforma digital Energia +, focados nessa abertura do mercado. Também temos questões como a separação de lastro e energia, de maneira que a gente avalie e valorize os atributos de cada fonte de energia de forma correta, e discussões interessantíssimas com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) no que diz respeito a projetos híbridos, sobre como a gente pode passar a ter plantas híbridas de energia eólica e solar, principalmente, e por aí vai.