A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) insistirá em buscar medidas para “conter a escalada tarifária” prevista para 2021, observou ontem (30/03) o diretor-geral do órgão regulador, André Pepitone. Segundo ele, já existe uma agenda de trabalho “bem sucedida” para atenuar o aumento das contas de luz, mas será preciso fazer mais.
O Valor Econômico informa que, durante a reunião da diretoria, Pepitone informou que chegou a ser projetado no setor um aumento de 18,5% referente à “média Brasil” a ser verificada nos reajustes tarifários deste ano. Atualmente, o percentual médio de aumento é estimado em 13,5%. De acordo com o diretor da Aneel, a queda na projeção de aumento nas contas de luz ocorreu após o setor acessar um empréstimo bancário, para socorrer as empresas e atenuar as tarifas na pandemia.
Ele destacou, também, a aprovação da Medida Provisória 998/20 (atual Lei 14.120/21), que entre outros ajustes revisou a política de incentivo a fontes renováveis e garantiu acesso a recursos “represados” no programa de financiamento de projetos de inovação e eficiência energética. Ontem, a diretoria da Aneel confirmou que haverá o repasse de R$ 2,23 bilhões dos programas de inovação e eficiência energética para a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), onde o setor elétrico contabiliza as despesas repassadas para a conta de luz.
Ao fixar o valor das despesas, cada distribuidora saberá a parcela que deverá assumir e, por sua vez, repassar para a fatura do consumidor através dos reajustes. Além disso, em 2021, a Aneel conta com a disponibilidade de crédito tributário em favor das distribuidoras para conter o aumento da tarifa.
Apesar da pandemia, elétricas esperam menor nível de inadimplência este ano
Reportagem publicada hoje (31/03) pelo Valor Econômico destaca que, mesmo em meio ao endurecimento das medidas de restrição a atividades para o combate da pandemia de covid-19, as distribuidoras de energia elétrica avaliam ser improvável um forte aumento da inadimplência no pagamento de contas de luz,
A previsão é que os índices de inadimplência sejam menores do que em 2020, inclusive entre clientes de baixa renda. “Todas as distribuidoras têm cuidado para tratar situações especiais”, diz o presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), Marcos Madureira.
O sócio-diretor de energia e infraestrutura da consultoria Roland Berger, Daniel Martins, aponta que em 2020 a inadimplência foi, em parte, conjuntural, pois muitas pessoas tiveram dificuldades em pagar as contas com as casas lotéricas fechadas. A situação é diferente do momento atual, em que as distribuidoras adaptaram os métodos de faturamento e algumas, inclusive, aderiram ao sistema de pagamento instantâneo PIX.
Segundo o presidente da Companhia Paranaense de Energia (Copel), Daniel Slaviero, por ora, os índices de inadimplência não preocupam. No quarto trimestre, a taxa da distribuidora paranaense fechou em 1,37%, abaixo da média histórica pré-pandemia, de 2%. Para Slaviero, diante da piora da pandemia, é possível que o setor elétrico volte a discutir medidas pra aliviar o peso sobre os consumidores de energia, principalmente devido aos ajustes tarifários.
A Energisa, que distribui energia a cerca de 8 milhões de clientes em 11 estados, afirma que suas concessionárias também têm registrado níveis de inadimplência abaixo da média nacional. Em conferência com analistas realizada recentemente, executivos atribuíram os números aos avanços da digitalização. A companhia viu 70% das requisições de clientes serem atendidas por canais digitais em janeiro, um crescimento de dez pontos percentuais em relação ao período anterior à pandemia.
AES Brasil ganha mais fôlego para investir
A AES Brasil, uma das maiores geradoras de energia renovável do Brasil, entrou em nova fase ao concluir, nesta semana, a migração para o Novo Mercado da B3 e uma reestruturação societária que lhe permitirá triplicar a capacidade de investimento em novos projetos.
“O mercado já nos vê como uma empresa na vanguarda do ‘ESG’ (sigla em inglês para temas ambientais, sociais e de governança), temos um histórico inegável. Começam a nos valorizar também como uma empresa de crescimento, enxergando nossa capacidade de atender os clientes e trazer novos produtos”, disse ao Valor Econômico Clarissa Sadock, que assumiu a presidência da geradora neste ano.
As mudanças começaram em meados do ano passado, quando a controladora americana AES Corporation adquiriu a fatia do BNDESPar na antiga AES Tietê, que era o veículo de crescimento do grupo AES no país até então. Logo depois de aumentar sua posição na Tietê, os controladores propuseram a migração da companhia ao Novo Mercado. Oito meses depois, nesta semana, a elétrica começou a negociar ações ordinárias de uma nova holding, a AES Brasil, sob o código “AESB3”, no nível mais alto de governança da B3.
PANORAMA DA MÍDIA
Em um movimento inédito na história do Brasil, o presidente Jair Bolsonaro se antecipou à renuncia coletiva dos comandantes das Forças Armadas e demitiu, ontem (30/03), Edson Leal Pujol (Exército), Ilques Barbosa (Marinha) e Antônio Carlos Bermudez (Aeronáutica). Com reportagens, editoriais e análises, a demissão dos três comandantes é o principal destaque na edição de hoje dos jornais de circulação nacional.
Os três comandantes militares haviam sinalizado que colocariam os cargos à disposição como protesto pela demissão do general da reserva Fernando Azevedo do Ministério da Defesa, na segunda-feira. As mudanças nas Forças Armadas deixaram até aliados receosos e geraram manifestações que reiteraram a necessidade de respeito à democracia. Generais da ativa e o próprio vice-presidente da República, Hamilton Mourão, também manifestaram apoio às instituições. (Valor Econômico)
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Militares da reserva acreditam que a crise que levou à saída do ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, e dos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica contribuirá para o isolamento do presidente Jair Bolsonaro diante do comando das Forças Armadas. O episódio também deve levar o Exército, força com mais quadros da reserva em postos no Planalto, a se distanciar do governo. (O Globo)
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O ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Sérgio Etchegoyen afirmou na terça-feira (30/03), que as Forças Armadas não serão “fator de instabilidade no país”. “Independentemente de quem estiver no comando, elas nunca vão deixar de ser instituição de Estado.” Ele disse conhecer os generais do Alto Comando do Exército. “Sei do que estou falando.” E concluiu que, se algum setor do governo estiver pensando em golpe, “a frustração será grande”. Em entrevista à Rádio Gaúcha, Etchegoyen expôs um sentimento comum a outros generais ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo. Nos últimos dois dias, a reportagem ouviu oito oficiais-generais do Exército e da Força Aérea e dois coronéis da ativa e da reserva sobre o momento atual. De forma unânime, todos rejeitaram qualquer “aventura”.
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A cúpula das Forças Armadas, felizmente, dá sinais de que compreende o dano sofrido com a associação ao governo Bolsonaro – e o fiasco do general Eduardo Pazuello na pasta da Saúde, que ameaça se transformar em ações na Justiça, é apenas o exemplo mais vistoso. Com alguma habilidade, a crise militar pode se desfazer sem tensões adicionais. (Folha de S. Paulo – editorial)