A Folha de S. Paulo traz, na edição deste domingo (30/05), uma reportagem que analisa o decreto editado pelo presidente Jair Bolsonaro na semana passada, para regulamentar o leilão de reserva de capacidade – uma nova modalidade de contração no setor de energia, criada no final de 2020.
De acordo com a análise de especialistas ouvidos pela reportagem, o decreto abre caminho para a contratação das térmicas a gás previstas na medida provisória (MP) de privatização da Eletrobras. A inclusão dessas térmicas na MP alimenta polêmica no setor de energia e há mobilização para que o Senado retire do texto a previsão dos empreendimentos.
Especialistas estabeleceram relação do decreto com a MP da Eletrobras porque o texto especifica que as térmicas a gás serão contratadas por essa nova modalidade. A térmica de reserva de capacidade tem a função de garantir potência para o sistema, ou seja, evitar oscilações que possam provocar blecautes. Elas são diferentes das térmicas que fornecem energia de reserva, responsáveis por garantir abastecimento.
A previsão é que o primeiro leilão de reserva de capacidade ocorra em dezembro deste ano, com entrega prevista para 2026 – ou seja, essas usinas a gás não vão conter a crise atual de desabastecimento. Ainda de acordo com a reportagem, os defensores das térmicas a gás aproveitam o momento de crise energética para atender interesses privados e políticos. Logo após o decreto, foi liberada também uma portaria, para o encaminhamento dos próximos ajustes desse tipo de leilão.
O Ministério de Minas e Energia (MME) ainda irá definir o montante que poderá ser contratado. Os custos dessa compra serão rateados e cobrados dos usuários finais de energia elétrica. Em nota, o MME afirmou que o decreto “visa regulamentar a contratação de reserva de capacidade para atendimento à necessidade de potência requerida pelo Sistema Interligado Nacional (SIN)”. A Secretaria-Geral da Presidência disse que a contratação é necessária pela dificuldade de modular a geração de energia por novas fontes (como das usinas eólicas ou solares).
É a emergência hídrica
O comentarista de economia Celso Ming, do jornal O Estado de S. Paulo, analisa o “alerta de emergência hídrica” decretado pelo governo na última sexta-feira (28/05), para os meses de junho a setembro em cinco estados das regiões Sudeste e Centro-Oeste, que compreende Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná. Segundo ele, é o primeiro reconhecimento de que o país passa por grave crise hídrica.
Celso Ming ressalta que choveu menos, o que sempre acontece quando prevalece o fenômeno meteorológico La Niña no Oceano Pacífico. Nesse sentido, diz ele, essa crise era previsível e só não aconteceu em 2020 porque a pandemia de covid-19 derrubou a atividade econômica em 4,1% e, com ela, o consumo de energia elétrica em 1,6%. Em sua análise, o comentarista descreve as medidas que, no seu entender deveriam ser adotadas pelo governo.
Leilões prometem viabilizar energia do lixo
O jornal O Globo informa que, previsto para começar em setembro deste ano, um cronograma de leilões de projetos de geração de energia a partir do lixo traz boas perspectivas para o Brasil. No país, 96% dos resíduos vão para aterros sanitários, sem qualquer tipo de tratamento. Além dos riscos ao meio ambiente e à saúde pública, isso também significa uma oportunidade perdida na geração de energia.
Segundo o primeiro mapeamento do setor elaborado pela Associação Brasileira de Recuperação Energética de Resíduos (Abren), quase 80 milhões de toneladas de lixo por ano poderiam funcionar como fonte de energia, como é feito em vários países.
Pelo levantamento, há no Brasil um potencial de instalação de 120 unidades geradoras de energia a partir do lixo nas 28 regiões metropolitanas com mais de 1 milhão de habitantes. Juntas, teriam potência instalada de 2.358 megawatts (MW), em condições de suprir 3% da demanda nacional de energia. Esses empreendimentos também poderiam gerar empregos, com investimentos de R$ 75 bilhões nos próximos anos. A associação calcula que, apenas durante a construção, as usinas gerariam 24 mil vagas, com outros 9 mil na operação.
Brasil precisa de energia solar
Em artigo publicado no Correio Brasiliense e no portal EPBR, a deputada federal Renata Abreu (Podemos-SP) defende a expansão da fonte solar no Brasil, que “além de estimular o empreendedorismo, gerar empregos e ajudar o sistema elétrico a economizar água das hidrelétricas, evita a emissão de CO2 e protege o meio ambiente. E o melhor: como fonte geradora de energia, o sol permite que o consumidor, também na condição de produtor, tenha maior controle sobre a sua conta de luz”.
A deputada cita pesquisa Ibope realizada em 2020, por encomenda da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel), a qual apontou que 90% dos brasileiros gostariam de gerar sua eletricidade, seja por meio de painéis solares seja por outras fontes renováveis. Em 2014, esse índice era de 77%. A médio e longo prazos, argumenta Renata Abreu, “nenhum país poderá prescindir do uso de energia solar, e o Brasil precisa desse avanço estratégico agora para impulsionar a economia, principalmente no pós-pandemia”.
PANORAMA DA MÍDIA
Com sinais de recuperação do Produto Interno Bruto (PIB), empresas anunciam este ano R$ 164 bilhões em investimentos, diz a manchete da edição deste domingo (30/05) do jornal O Globo. A reportagem ressalta que o investimento no Brasil começa a esboçar reação, depois da queda história de 4,1% da economia em 2020 provocada pela pandemia. Já foram anunciados R$ 164,5 bilhões em projetos de investimento este ano até meados de maio, de acordo com o Boletim de Investimentos do Bradesco. Em 12 meses, o montante chega a R$ 235 bilhões.
Um novo ciclo de alta das commodities, puxando as exportações da agroindústria e da mineração, leilões de portos, ferrovias, aeroportos, energia e saneamento, transformações digitais e uma economia mais aquecida do que se pensava meses atrás explicam o movimento. Em um mês, as projeções para o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) subiram de pouco acima de 3% para perto de 5%.
*****
O principal destaque da edição de hoje (30/05) da Folha de S. Paulo são as manifestações de rua contra o presidente Jair Bolsonaro, que reuniram ontem milhares de pessoas em várias cidades do país. Houve atos em todas as 27 capitais brasileiras, com grandes concentrações em São Paulo e no Rio de Janeiro. Lideradas por centrais sindicais, movimentos sociais e partidos de esquerda, as manifestações foram alvo de críticas por acontecerem presencialmente em meio à pandemia da covid-19, num momento em que o país ultrapassa 450 mil mortes pela doença – e cerca de 2 mil em 24 horas. Pelo menos nove capitais, além do Distrito Federal, têm ocupação acima de 90% dos leitos de unidade de terapia intensiva (UTIs).
*****
O jornal O Estado de S. Paulo traz como principal destaque uma reportagem sobre a transformação por que passam cidades de praia para se adaptar às novas demandas de consumidores, em tempos de pandemia de covid-19. Com o trabalho a distância, muita gente tem passado temporadas no litoral ou em municípios do interior em busca de um lugar para trabalhar e, ao mesmo tempo, apreciar a natureza. Isso tem aquecido a economia dessas cidades. Prefeituras, empresas de telefonia e até aplicativos de delivery estão investindo para atrair um novo tipo de turista: o dos profissionais digitais.