A crise hídrica que atinge em cheio o setor elétrico tem se agravado e autoridades do governo já consideram a necessidade de criar um “comitê de crise” para pensar estratégias que possam afastar o risco de corte de carga (blecaute) por déficit na oferta de energia pelo sistema brasileiro.
Fontes oficiais ouvidas pelo Valor Econômico informaram que o assunto dominou a reunião de ontem (27/05) do Conselho de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE). O comunicado oficial, divulgado após o encontro, reconhece que o setor enfrentou o pior regime de chuvas, entre setembro e maio, em 91 anos. Porém, não trouxe detalhes sobre o que precisará ser feito para evitar uma crise de abastecimento.
A fonte oficial do Valor afirmou que o governo trabalha com todos os cenários, até mesmo o regime de racionamento. Esta foi a saída traumática adotada em 2001 que marcou o fim do governo de Fernando Henrique Cardoso. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) já deverá destacar uma equipe técnica, a partir da próxima segunda-feira (31/05), para trabalhar as estratégias de forma reservada.
Como medida mais extrema, poderá ser adotado não só um racionamento de energia, mas também de água para poupar os reservatórios das hidrelétricas. A restrição no consumo poderia começar em julho, de forma pontual e não para todos os estados. Outras medidas drásticas também são consideradas, tais como suspender a emissão de autorização para irrigantes.
Autoridades do setor dizem que o ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque ficou irritado ao ser surpreendido sobre a gravidade da crise, que pode não ser contornada com o acionamento de térmicas. A pressão recai sobre o Operador Nacional do Sistema (ONS), responsável por monitorar a situação.
Comitê de energia aprova medidas para reter água nos reservatórios
Diante da situação crítica e da falta de chuvas nos próximos meses, o governo reconheceu a importância de flexibilizar restrições hidráulicas em usinas localizadas nas bacias dos rios Grande e Paraná. Na prática, serão adotadas medidas para “segurar” água nos reservatórios das hidrelétricas, evitando que seja liberado um volume usado, por exemplo, para assegurar a navegação em rios e garantir água potável para a população de alguns municípios onde a força dos rios que desaguam no mar evita o retorno da água salgada.
A decisão foi anunciada ontem (27/05) à noite, após reunião extraordinária do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), presidido pelo Ministério de Minas e Energia (MME). No encontro, o colegiado foi informado da situação hidrológica crítica vivenciada na bacia do rio Paraná, onde estão localizadas usinas hidrelétricas com os principais reservatórios do Sistema Interligado Nacional (SIN).
De acordo com reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, a situação vai levar o governo a emitir nesta sexta-feira (28/05), alerta de emergência hidráulica de junho a setembro em cinco estados brasileiros – Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná. Todos estão na bacia do Rio Paraná. Na região, a situação é classificada como “severa” e a previsão é de pouco volume de chuvas para o período.
Governo alerta para a pior seca dos 111 anos
Ainda sobre o alerta de emergência hídrica que o governo deve emitir hoje (28/05), para o período de junho a setembro em cinco estados brasileiros, o jornal O Estado de S. Paulo ressalta que a situação é classificada como ‘severa’ nos estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná. A previsão é de pouco volume de chuvas para o período.
É o primeiro alerta dessa natureza em 111 anos de serviços meteorológicos do país. A medida corrobora as declarações do presidente Jair Bolsonaro e do ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, de que o Brasil enfrenta a maior crise hídrica dos últimos tempos.
O alerta será divulgado de forma conjunta, pelo Sistema Nacional de Meteorologia (SNM), órgãos federais ligados à meteorologia, a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e o Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden). No documento, as instituições reforçam que a emergência hídrica é associada à escassez de precipitação na região hidrográfica e a previsão de que o cenário persista até setembro.
De acordo com o SNM, o déficit de precipitação na bacia do Paraná está provavelmente relacionado à influência de dois fenômenos atmosféricos de grande escala. O primeiro é La Niña, de outubro de 2020 a março de 2021. O fenômeno traz resfriamento das águas do Oceano Pacífico, diminui a temperatura da superfície do mar, altera o padrão de circulação global e, entre as características do período, reduziu chuvas no Sul do Brasil.
O segundo é a Oscilação Antártica (OA), responsável por alterar o padrão de pressão atmosférica na região. Desde outubro de 2020 a OA tem atuado para impedir que sistemas causadores de chuvas se desloquem sobre as regiões continentais da América do Sul.
Equatorial deve assumir gestão da CEEE-D em junho
O Jornal do Comércio (RS) informa que, com a revogação da liminar que barrava a homologação da venda da Companhia Estadual de Distribuição de Energia Elétrica (CEEE-D) na quarta-feira (26/05), o governo do Rio Grande do Sul prevê até o final de junho “fazer a troca das chaves” com o Grupo Equatorial, que arrematou a empresa por R$ 100 mil em leilão realizado em 31 de março.
Com a finalização dos últimos trâmites burocráticos e internos, o secretário extraordinário de Parcerias do Estado, Leonardo Busatto, ressalta que em julho a companhia já deverá estar sob nova administração.
PANORAMA DA MÍDIA
Reportagem do Valor Econômico ressalta que, com o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores, perto de suas máximas e o ciclo de alta dos juros, os investidores têm optado por mudanças em suas carteiras. Enquanto as aplicações diretas em bolsa e em fundos de ações perdem força, a renda fixa volta a atrair. O fluxo tem sido direcionado para alternativas que seguem a Selic ou o CDI e para portfólios com crédito privado. Títulos bancários e compra de dívida corporativa também ganham atratividade à medida que os emissores oferecem taxas melhores.
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O principal destaque da edição de hoje (28/05) dos jornais Folha de S. Paulo e O Globo é o depoimento do diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI da Covid), no Senado. Ele afirmou que o governo Jair Bolsonaro desprezou em outubro de 2020 uma oferta de 100 milhões de doses da Coronavac que seriam entregues até maio deste ano.
Covas disse à comissão no Senado que a oferta não foi fechada em outubro por entraves políticos e burocráticos e que falas de Bolsonaro resultaram na paralisação por três meses do processo de compra da vacina produzida pelo Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac. De acordo com Covas, após o fracasso da negociação, nova proposta foi feita ao Ministério da Saúde em dezembro, mas não era mais possível entregar o total de doses até maio, e sim por volta de agosto. Por fim, o primeiro contrato assinado com o governo federal foi fechado em dezembro e previu a entrega de 46 milhões de unidades até abril deste ano.
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O jornal O Estado de S. Paulo informa que o Tribunal de Contas da União (TCU) exige do governo federal documentos ocultos do orçamento secreto, esquema montado, de acordo com a reportagem, para garantir apoio no Congresso ao governo do presidente Jair Bolsonaro. Na decisão, o TCU exige a entrega de ofícios a parlamentares, papeis mantidos sob sigilo que formalizaram o direcionamento de bilhões de reais em emendas a redutos eleitorais. O prazo para entrega dos documentos é de cinco dias.