Com o fim do blecaute do Amapá, após 22 dias do primeiro apagão, o tema ainda é pauta para reportagens, análises e editoriais nos jornais desta quarta-feira (25/11).
O Valor Econômico informa que o governo e órgãos do setor tentam aprofundar a análise sobre as panes nos equipamentos, apontar os responsáveis e evitar que novas falhas no sistema atinjam o estado que é exportador de eletricidade: o Amapá consome apenas um quarto da capacidade instalada das usinas no seu território.
Dados coletados no Sistema de Informação de Geração da Agência Nacional de Energia Elétrica Aneel (Siga) indicam que o Amapá dispõe de 999,7 megawatts (MW) – quase 1 gigawatt (GW) – de potência outorgada, sendo 992,2 MW disponíveis para despacho do Operador Nacional do Sistema (ONS). O estado, no entanto, consume entre 240 MW e 270 MW.
A maior parte da energia do Amapá vem de quatro hidrelétricas. A mais potente é Santo Antônio do Jari, com 392,9 MW, na divisa com o Pará. Outras três usinas operam no município de Ferreira Gomes. São as hidrelétricas Ferreira Gomes (252 MW de potência), Cachoeira Caldeirão (219 MW) e Coaracy Nunes (78 MW). As demais representam apenas 5,7% da potência já outorgada. Entre elas, estão dez termelétricas, uma pequena central hidrelétrica (PCH) e uma usina fotovoltaica.
Conforme explica a reportagem, não fossem as limitações do sistema de transmissão projetado pelo governo, o Amapá não precisaria recorrer à contratação emergencial de termelétricas na tentativa de amenizar o impacto da entrada em colapso da subestação de Macapá, afetada por uma explosão, seguida de incêndio, em um dos transformadores na noite do dia 3 de novembro. Somente a hidrelétrica de menor capacidade, a Coaracy Nunes, pode entregar energia à população amapaense, por ter uma tensão compatível com a da distribuidora local, a Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA), em 69 kilovolt (kV).
Com apagão, distribuidora de energia do Amapá vive “situação financeira caótica”
O jornal O Estado de S. Paulo informa que o presidente da Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA), Marcos do Nascimento Pereira, enviou um ofício à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), no dia 16, para relatar os reflexos do blecaute na entrega de energia. No documento, a empresa relata que está mergulhada em uma “situação financeira caótica”, porque o consumo caiu drasticamente nos últimos 20 dias, problema que se soma à forte inadimplência, que está na faixa de R$ 200 milhões.
“O Estado do Amapá está passando por uma grave crise energética decorrente de fatos alheios à prestação de serviço de distribuição de energia, já que os fatos que originaram o apagão não são da concessão da distribuidora. Contudo, tal fato tem colocado a CEA em uma situação financeira caótica, já que além de ter de dispor de suas equipes para atendimentos, enquanto não houver o insumo a ser distribuído, inexistente é a cobrança de tarifa”.
Segundo a distribuidora, a previsão é de que o faturamento de novembro/2020 caia 30% (devido ao racionamento) e a arrecadação 47%. A CEA relata ainda que “vem amargando um desequilíbrio financeiro sistêmico de longas datas, a ponto de pôr em risco a frágil qualidade do serviço prestado”. Menciona que, enquanto houve uma redução no custo da energia de 1,56% para o consumidor residencial, entre os anos de 2017 e 2020, índices como o IGPM e o IPCA, usados para atualizar preços de aluguéis e inflação, por exemplo, cresceram 37,72% e 11,60%, respectivamente, no mesmo intervalo.
Lições do apagão no Amapá
O jornal O Estado de S. Paulo publicou hoje (25/11) um editorial sobre a crise elétrica no Amapá, no qual afirma: “Mais do que uma crise energética, que já seria grave por si só, o drama vivido pelos amapaenses tem todas as características de uma crise humanitária. A falta de energia por tempo tão prolongado comprometeu o acesso da população à água, comida e combustíveis. Diminuiu muito a capacidade de atendimento dos hospitais em meio à pandemia de covid-19. Causou enormes prejuízos aos comerciantes, em especial os do ramo alimentício. Noticiou-se que até vacinas tiveram de ser acondicionadas na geladeira de um açougue que dispunha de gerador. E provocou o adiamento das eleições na capital Macapá.”
O editorial enfatiza que “é com esta gravidade, pois, que o episódio deve ser tratado pelas autoridades estaduais e federais — além, é claro, da empresa concessionária — para que medidas sejam tomadas de modo a impedir que algo dessa magnitude volte a ocorrer não só no Amapá, mas em qualquer outro estado”.
Energia volta no Amapá, mas há instabilidade, relatam moradores
Os jornais O Globo e Folha de S. Paulo trazem reportagens que registram eventos de instabilidade e falhas no fornecimento de energia elétrica na região central de Macapá, capital do Amapá, mesmo após o anúncio feito pela Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA), a distribuidora local, de restabelecimento total do sistema no estado.
AES lança canal para ‘varejo’ elétrico
O Valor Econômico informa que a AES Brasil lançou ontem (24/11) sua plataforma digital para comercialização ao “varejo” do setor elétrico, isto é, consumidores de menor porte que estão habilitados a contratar energia diretamente de um fornecedor. O segmento se tornou alvo de grandes geradoras e comercializadoras, que estão ampliando os esforços de comercialização na área mirando o longo prazo.
Apesar de terem consumo muito inferior ao dos eletrointensivos, os “varejistas” podem representar um volume significativo no futuro. A AES, por exemplo, calcula um mercado potencial de “varejo” entre 170 mil e 200 mil novas unidades consumidoras nos próximos anos. Segundo o presidente da geradora, Ítalo Freitas, o canal da AES foi pensado para facilitar o processo de migração de consumidores para o ambiente de contratação livre (ACL). A companhia não revela suas metas para a iniciativa, mas diz buscar a liderança.
Além de comprar energia da AES, o cliente poderá contratar uma empresa de engenharia para adequar seu ponto de entrada e até financiar esses custos junto a uma fintech. Já os próprios contratos de energia foram adaptados para a realidade do “varejista”, que tem demandas distintas em relação aos grandes consumidores eletrointensivos. Os prazos são mais curtos, de 1 a 3 anos, e as cláusulas, mais flexíveis.
PANORAMA DA MÍDIA
A primeira versão do plano de imunização contra a covid-19 do Ministério da Saúde deverá ficar pronta após uma reunião na próxima segunda-feira (30/11) do grupo técnico encarregado de elaborar a estratégia, informa o jornal O Globo. A estimativa é fazer a distribuição das vacinas de forma simultânea em todo o país, mas há possibilidade de que áreas que estejam sofrendo um surto da doença possam ser priorizadas.
De acordo com a reportagem, a versão consolidada do plano deverá ser concluída antes do fim da fase de testes clínicos das principais vacinas contra a doença em desenvolvimento no Brasil e no mundo. Por isso mesmo, poderá passar por ajustes depois.
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Em plena segunda onda da pandemia de ccovid-19, o mês deve terminar com a aura de um “supernovembro” para os mercados globais, destaca o Valor Econômico. As ações do índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, subiram 13,8% no mês até agora e ontem (24;11) o índice fechou no nível mais alto da história, 30.046,24 pontos. A Bolsa de São Paulo acompanhou o desempenho e já subiu 16,85% no mês. A mesma tendência se deu nas bolsas pelo mundo. A cotação do petróleo, a principal commodity global, aumentou 25,94% desde 31 de outubro e ontem chegou a US$ 47,78 o barril, em Londres (tipo Brent), maior preço desde março.
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A Folha de S. Paulo informa que em pouco mais de oito meses de pandemia do novo coronavírus, o governo federal deixou de gastar dinheiro reserva do Orçamento para contratar médicos, reestruturar hospitais, comprar testes de covid-19 para presídios e fomentar agricultura familiar para doação de alimentos. As informações constam de relatórios da Câmara dos Deputados.
Segundo a reportagem, a consultoria de Orçamento da Câmara lista pelo menos dez ações da gestão Bolsonaro que não avançaram, apesar da abertura imediata de créditos extraordinários. Averba foi liberada por meio de MPs (medidas provisórias). Os relatórios com a execução orçamentária dos gastos previstos para o combate à covid-19 trataram, além das ações nas regiões fortemente afetadas pela pandemia, de infraestrutura de hospitais universitários, com finalidade de criação de novos leitos, e hospitais de campanha em presídios.
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A principal reportagem da edição de hoje (25/11) do jornal O Estado de S. Paulo é sobre educação. O jornal destaca que o grau de escolaridade dos pais diz muito sobre as chances de ascensão social de um cidadão no Brasil. Em um grupo de 100 pessoas com familiares sem nenhuma instrução, 70 chegam, no máximo, ao fim do ensino fundamental e só entre 4 e 5 (ou 4,7%) concluem o ensino superior. Já se os pais terminaram a faculdade, o mais provável é que os filhos também sigam esse caminho.
Os dados são de estudo do economista Paulo Tafner, fundador e diretor-presidente do recém-criado Instituto de Mobilidade e Desenvolvimento Social (IMDS). Para ele, a falta de mobilidade social no Brasil é um fator de perpetuação da pobreza, mesmo após anos de crescimento econômico e de programas de transferência de renda.