A paralisação de parte da indústria e do comércio por causa das medidas de contenção do surto do novo coronavírus deve levar a uma onda de renegociação de contratos no mercado livre de energia (ACL), ambiente no qual grandes consumidores contratam energia diretamente do fornecedor. Nos bastidores, existe o temor de que a situação evolua para inadimplência e judicialização, já que ainda não se sabe a dimensão da crise.
A análise é do jornal Valor Econômico, em sua edição desta segunda-feira (30/03). Especialistas e agentes do setor ouvidos pela reportagem preferem evitar discursos alarmistas e apontam que é de interesse das empresas resolver qualquer problema amigavelmente. Com a redução de suas operações, indústria e varejo devem ficar com sobras contratuais de energia, abrindo espaço para a devolução de parte do montante contratado.
Paulo Mayon, consultor, professor da Fundação Instituto de Administração da Universidade de São Paulo (FIA USP) e conselheiro de empresas do setor elétrico, defende que o ambiente de contratação livre (ACL) possui mecanismos para se ajustar e tem a participação de bancos, grandes companhias integradas de energia e comercializadoras independentes com patrimônio líquido robusto. Na mesma linha, Luiz Barroso, presidente da consultoria PSR, afirma que a crise pode ser discutida bilateralmente, com soluções de mercado, “deixando para o governo atuar onde já tem que atuar”.
Gasolina segue mais competitiva que etanol, que só é vantajoso em SP e GO
Na semana passada, os preços médios do etanol eram mais vantajosos ante os da gasolina apenas em São Paulo e em Goiás. Levantamento feito pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) considera que o etanol de cana-de-açúcar ou de milho, por ter menor poder calorífico, tenha um preço limite de 70% do derivado de petróleo nos postos para ser considerado vantajoso. Em Goiás, o hidratado é vendido, em média, por 67,44% do preço da gasolina e em São Paulo, por 69,39%.
Na média dos postos pesquisados no país, a paridade é de 71,34% entre os preços médios de etanol e gasolina, desfavorável ao biocombustível. (Fonte: Brasil Agro)
PANORAMA DA MÍDIA
Levantamento feito pelo Centro de Estudos de Mercado de Capitais da Fipe e Economática, com 245 companhias, revela que metade das empresas de capital aberto tem recursos para aguentar até três meses sem faturar. Com o dinheiro disponível em caixa, conta corrente e aplicações financeiras, elas conseguiriam pagar fornecedores, folha de salários e outras despesas operacionais no período, destaca o jornal O Estado de S. Paulo.
O Valor Econômico informa, em sua edição de hoje (30/03), que tecnologias semelhantes às que ajudaram a China a desacelerar a escalada da covid-19 (o número de novos casos diários caiu de quase 15 mil em 13 de fevereiro para 45 no último sábado) estão disponíveis no Brasil. Criadas por empresas brasileiras, já foram testadas em condições locais e estão sendo oferecidas de graça a governos e empresas.
Segundo a reportagem, a empresa In Loco, do Recife, por exemplo, concluiu os testes de um algoritmo que permite a autoridades de saúde avisar às pessoas que elas estiveram no mesmo local por onde passou alguém infectado, orientando sobre o que fazer em seguida. A companhia trabalha com geolocalização, sistema que ajuda a encontrar um ponto no mapa.
Em seu portal de internet, o Valor Econômico destaca que a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), grupo de países ao qual o Brasil pretende aderir, pede ao governo Jair Bolsonaro que “assuma firmemente a dianteira” no combate ao coronavírus e adote “medidas apropriadas de confinamento” para conter o avanço da pandemia em território brasileiro. O documento preliminar, ainda reservado e ao qual o Valor teve acesso, faz parte de um panorama global em elaboração pela OCDE sobre as ações tomadas por cada país no enfrentamento à covid-19.
O principal destaque dos jornais O Globo e Folha de S. Paulo é a atitude tomada ontem (29/03) pela manhã, pelo presidente Jair Bolsonaro, que saiu do Palácio da Alvorada para um passeio por cidades-satélites de Brasília. Na véspera, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, havia afirmado que a orientação do governo federal era para que os brasileiros permaneçam em casa, respeitando distanciamento social para evitar a rápida propagação do covid-19.
O jornal O Globo destaca, ainda, que uma estimativa do Ministério da Saúde, registrada em documento interno de 27 de março, mostra que 17 unidades da federação têm mais de 70% dos seus leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) ocupados, no momento em que eles são necessários para tratar pacientes graves com covid-19. O ministério também avalia que é preciso criar mais de 1,6 mil leitos de UTI e mais de 22 mil leitos de enfermaria na primeira etapa de enfrentamento à doença, nos próximos 30 dias.