O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) avalia que as mudanças implementadas desde janeiro nos modelos computacionais de formação de preço e operação, incluindo o Newave Híbrido e os critérios mais rigorosos de aversão ao risco, representam o cenário que a operação enxerga. “É muito aderente às necessidades que a gente está enxergando no dia a dia”, diz o gerente de programação diária do ONS, Diogo Cruz.
Durante participação no evento Agenda Setorial, organizado nesta quinta-feira, 13 de março no Rio de Janeiro, pelo Grupo Canal Energia e Informa Markets, Diogo Cruz explicou que o período úmido, que teve um bom começo em outubro de 2024 e deveria se estender até o fim de abril, dá sinais de um final antecipado desde o início de fevereiro. “É um sinal de que a gente está vivendo um momento bastante complexo. Atrelado a isso, a carga estourou, com sucessivos recordes”, disse Cruz.
Apesar da maior complexidade, a operação tem ocorrido conforme o necessário e apontado pelos modelos, com acionamento de mais recursos quando necessário para atender a carga. “O ONS está em operação normal porque o modelo entregou uma quantidade térmica que tem ajudado na operação”, disse Cruz.
Descontratação de térmicas e preço dos despachos
Ao mesmo tempo em que considera que a operação está controlada, Cruz brincou ser uma “viúva da Norte Fluminense”, se referindo à termelétrica da EDF que não está operando desde que o contrato expirou em dezembro de 2024 e que ofereceria quase 700 MW a um preço de despacho abaixo de R$ 250/MWh. Com o vencimento dos contratos e conjunturas como aumento do dólar e do preço de combustíveis, o despacho térmico disponível para o sistema encareceu, reconhece o gerente de operações do ONS.
Nesta quinta-feira, por exemplo, o PLD médio dos submercados Sudeste/Centro-Oeste e Sul está em R$ 359,90/MWh, muito acima da média de R$ 120/MWh vista até o fim de fevereiro.
“Não vou fazer juízo de valor, se R$ 350 (por MWh) é alto ou é baixo. O que eu posso dizer é que a quantidade termelétrica que está sendo despachada está ajudando muito a operação, em todas as condições que a gente está enxergando daqui para a frente”, avalia Cruz.
Agentes criticam volatilidade, mas reconhecem que modelo está mais alinhado à realidade da operação
Ao antecipar o despacho térmico a partir das previsões de afluência, as mudanças nos modelos têm ajudado a poupar os reservatórios, mas a volatilidade dos preços cresceu significativamente.
“O modelo ficou menos sensível às condições do mercado e reservatório e muito mais [sensível] à projeções de hidrologia. Isso já trouxe um aumento de preço, porque hoje a gente está com uma situação de reservatório melhor que o ano passado, mas com preços já acima”, avaliou Patrick Hansen, sócio da empresa de informações de mercado Dcide, em outro painel do evento.
Para ele, a adoção de cenários hidrológicos tornou muito complexa a previsão dos preços. “Derivou uma variável caótica, porque a gente incorporou justamente essa característica caótica do clima. E o que muita gente está se perguntando se vale a pena pagar esse custo por preservar a água”, continuou o executivo, que acredita que essa menor previsibilidade já está sendo incorporada nos preços de mercado.
Apesar da maior volatilidade, outros agentes avaliam que a maior proximidade dos modelos computacionais com a realidade da operação é positiva. “Se há o despacho, mas não tem o preço, a diferença vira encargo”, lembrou o diretor-geral da Volt Robotics, Donato Filho. “É aquele sobrecusto que é socializado para todo mundo: quem foi precavido e contratou com antecedência recebe a conta, e quem não foi precavido vai receber a conta também, mas ele vai ter o preço baixo”, disse.
Para Donato, apesar de o despacho térmico na casa de R$ 350/MWh ser “bom” por trazer mais segurança para o sistema, o ideal seria ter usinas menores a despachos mais baratos, que pudessem aumentar a participação e o custo das térmicas de forma mais gradual.
Para o conselheiro da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) Ricardo Simabuku, a aproximação dos modelos com a realidade traz mais segurança para o mercado e aumenta a credibilidade do consumidor com o mercado livre.