Combustíveis

Coalizão brasileira na COP27 e Jean Paul Prates não veem gás natural como combustível da transição

Tubes running in the direction of the setting sun. Pipeline transportation is most common way of transporting goods such as Oil, natural gas or water on long distances.
Tubes running in the direction of the setting sun. Pipeline transportation is most common way of transporting goods such as Oil, natural gas or water on long distances.

Diversas organizações brasileiras lançaram nesta quarta-feira, 16 de novembro, a “Coalizão Energia Limpa – Transição Justa e Livre do Gás”, durante mesa-redonda sobre transição energética realizada no Brazil Climate Action Hub, no âmbito da 27ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP27), no Egito. A aliança visa uma transição energética socialmente justa e livre do gás natural como fonte de energia para geração elétrica no Brasil até 2050.

O grupo, formado pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema), Instituto Pólis, Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Instituto Internacional Arayara, Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) e ClimaInfo, entregou para o governo de transição, no início desta semana, uma série de propostas para auxiliar o processo de transição energética no Brasil.

Segundo Ricardo Baitelo, gerente de projetos do Iema, a Coalizão Energia Limpa não quer acabar completamente com os usos do gás natural, mas promover soluções sustentáveis e estratégicas para que ele seja utilizado como preenchimento de pico, de forma a complementar o emprego de energias renováveis.

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“Queremos intensificar a comunicação que o gás não é mais um combustível para a transição, uma vez que a ‘janela de transição’ é muito curta e não podemos contratar térmicas agora, com operações até depois de 2040, com impactos ambientais, sociais e econômicos desastrosos para as próximas décadas”, disse Baitelo.

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O grupo também acredita na informação como ferramenta essencial para fazer frente ao chamado “lobby do gás”. Nesse contexto, o Inesc publicou um estudo apontando que, em 2021, foram empregados cerca de R$ 118 bilhões em subsídios aos combustíveis fósseis. Além disso, o Instituto Arayara desenvolveu uma plataforma digital de livre acesso que mapeia e aponta todos os empreendimentos fósseis no Brasil

Para Luiz Ormay Jr., coordenador de Litigância do Instituto Arayara, “um dos intuitos da formação dessa coalizão é combater essa expansão de gás natural no Brasil. Sendo assim, o acesso à informação é essencial. Estamos unindo todas essas entidades, cada uma com a sua expertise e capilaridade, justamente para obtermos e divulgarmos mais informações para vencer o ‘lobby do gás’, que é muito forte”.

A mesa-redonda sobre transição energética contou ainda com a participação do senador Jean Paul Prates (PT-RN), um dos nomes cotados para a presidência da Petrobras e selecionado pelo coordenador do governo de transição e vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), para incorporar o grupo técnico de transição do Ministério de Minas e Energia (MME).

Para ele, o gás natural não é uma solução viável para a transição energética, pois esta deve ser feita com responsabilidades ambiental e social e com a participação popular. “Transição energética e transição justa são temas tão interdisciplinares que é impossível uma pessoa só ou mesmo um grupo pequeno ser proficiente o suficiente para fazer todo o trabalho”, afirmou Prates.

Petroleiras

Com mais de 600 lobistas de combustíveis fósseis, a COP27 teve 25% a mais de representantes desse grupo do que a edição anterior da conferência, realizada em 2021, na Escócia, aponta relatório da organização Global Witness. Elaborado em parceria com a Corporate Accountability e a Corporate Europe Observatory, o documento também mostra que 29 países levaram 200 lobistas da área como parte das delegações oficiais, não incluindo representantes dos setores financeiro, petroquímico ou do agronegócio.

Frente a isto, diversas associações, organizações não-governamentais (ONGs) e grupos ambientalistas pleitearam a restrição dos representantes das indústrias de óleo e gás na COP27, com o argumento de que os interesses corporativos podem influenciar os resultados das discussões climáticas.

Entretanto, executivos do setor vêm ressaltando a importância da participação das grandes petroleiras nas discussões sobre transição energética, tendo em vista a sua relevância no setor de energia e a inserção cada vez mais forte da agenda ESG em suas operações. Além disso, essas empresas também têm buscado diversificar os seus negócios e reduzir suas emissões de gases poluentes.

Especialistas reforçam, ainda, a necessidade de identificar os tipos de empregos que serão gerados a partir do processo de transição energética dentro das petroleiras e das refinarias. Para Cloviomar Cararine Pereira, especialista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), “isso é muito importante, uma vez que o país [Brasil] possui uma das maiores reservas de petróleo do mundo e os trabalhadores do setor têm interesse em participar desse processo de transição energética, que tem que ser justa e inclusiva também para atender a esses trabalhadores”.

Sobre a Petrobras, representantes sindicais acreditam que, enquanto empresa pública, ela deve ser protagonista da transição energética no país, uma vez que possui recursos não apenas financeiros, mas também tecnológicos, humanos e técnicos para isso.

“É essencial que a Petrobras utilize a renda petrolífera para desenvolver energias renováveis no país, sem esquecer da sua função social de oferecer uma energia barata e acessível para a população brasileira”, afirmou Rodrigo Yamim Esteves, diretor do Sindipetro-RJ.