Desde o início das sanções impostas à Rússia em razão da invasão à Ucrânia, em 2022, o petróleo brasileiro ganhou espaço na Europa. “Cerca de 1,7 milhão de barris sumiu dos mercados europeus com os embargos”, diz o vice-presidente de desenvolvimento de negócios de petróleo da Argus, James Gooder, durante a conferência Argus Rio Crude, realizada nesta terça-feira, 21 de maio, no Rio de Janeiro.
Sem o suprimento do óleo russo, os países europeus precisaram encontrar um novo fornecedor, e o Brasil se posicionou entre os “três ou quatro” maiores supridores da commodity para a Europa, segundo o executivo. Os Estados Unidos, que têm aumentado a sua produção de petróleo, ainda são o maior vendedor da commodity para a Europa, mas oferece um óleo mais leve e menos adequado para a fabricação de diesel.
“Os petróleos do Brasil e dos Estados Unidos são complementares para a Europa. O americano é muito leve, não é o melhor para produzir diesel, e sim para produtos como gasolina e nafta”, explicou Gooder. Para a fabricação de diesel, o petróleo mais pesado como o do pré-sal brasileiro é melhor, “especialmente o de Búzios e também de Mero”, diz Gooder.
Segundo o executivo, boa parte do refino ocorre na área do porto de Roterdã, entre Países Baixos e Bélgica, mas a Itália e Portugal também são alguns dos principais destinos do petróleo brasileiro. “Um dos maiores importadores é Portugal. O óleo de Búzios é o principal da refinaria de Sines [da Galp], no sul de Portugal, que antes era abastecida com óleo russo”, comentou.
Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços apontam que as exportações para estes países (exceto Bélgica, que não consta nos registros do ministério para este produto) aumentaram 73,1% entre 2021 (antes das sanções à Rússia) e 2023. Considerando toda a região da União Europeia, o aumento nas exportações foi de 104,3% no período.
Outros executivos que participaram do evento avaliam que as exportações de petróleo brasileiro devem continuar aumentando. Para o presidente da Vast Infraestrutura, Victor Bonfim, este é o movimento esperado, já que a produção de óleo tem crescido no país, enquanto a capacidade de refino se mantém estável. A empresa atua no Porto do Açu, com terminais e navios carregadores por onde passam 40% de todas as exportações brasileiras.
“No ano passado, nós movimentamos uma média de quase 600 mil barris por dia, o que representa 80% da nossa capacidade. Mas acreditamos que em breve isso será algo que teremos de gerenciar”, avaliou Bonfim.