Como soluções tecnológicas estão avançando no Brasil, em meio a mais um debate sobre atualização regulatória que terá início em breve
As mudanças tecnológicas que vêm ocorrendo nos últimos anos no setor de energia estão cada vez mais rápidas, o que exige das empresas cada vez mais adaptação e esforço para acompanha-las. Tecnologias que eram consideradas distantes da vida real energética estão ganhando espaço no Brasil, cada uma a seu ritmo.
Essas tecnologias são realidade no país e em alguns casos já estão largamente implementadas e o setor elétrico deve voltar a debater a revisão de seu marco regulatório, depois da paralisia da Consulta Pública 33 – que tinha entre seus objetivos alinhar-se com o que há de mais novo no front energético.
Fontes renováveis, veículos elétricos, sistemas de armazenamento, smart grid, entre outras tecnologias, vivem estágios diferentes na rotina de empresas de energia, indústrias, consumidores e no meio acadêmico. A MegaWhat faz uma análise de como anda cada uma delas no cenário brasileiro.
Geração solar
A produção de energia solar já chegou a quase 2,8 GW de capacidade instalada e deve alcançar um total de 6,5 GW até 2022 com a entrada em operação de projetos licitados em leilões de energia até 2017, segundo dados divulgados pela Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). Em paralelo, a fonte lidera de forma absoluta o número de instalações de geração distribuída, impulsionada pelas regras em vigor desde 2012, que permitem compensação da geração na conta de luz.
No entanto, a geração solar ainda se ressente da falta de políticas para a formação de uma base industrial que a torne mais competitiva em relação a outras tecnologias de geração. A seu favor pesa a elevação dos preços da energia, que fazem com que empresas de diversos segmentos recorram à solar para reduzir despesas com eletricidade, e a crescente pressão pela descarbonização da atmosfera, que incentiva a busca de novas soluções para atender à demanda energética.
Geração eólica
A mais disseminada entre as fontes renováveis de energia vive uma fase peculiar: ao mesmo tempo que comemora a marca de 15 GW de capacidade instalada, a fonte vive um momento de reflexão sobre como avançar na matriz energética, diante da tibieza da economia e de fatores regulatórios. A eólica tem crescido no mercado livre, suprindo empresas que buscam marca sustentável ou em busca de economia com eletricidade.
No entanto, a ampliação do mercado livre, com a redução gradual dos limites de migração, impacta diretamente nesse movimento, com a consequente redução da energia incentivada, que concede descontos no uso do fio para fontes renováveis. A Abeeólica (associação que representa a geração dos ventos) estima que seria necessária a contratação anual de 2 GW por ano para a manutenção da indústria. Já se começou a debater a geração offshore, ainda em estágio inicial.
Biogás
Depois de anos de estudos e projetos-piloto, as primeiras usinas de produção do biogás (e de geração de energia a partir do biocombustível), o biogás começa a ganhar espaço no mercado, especialmente após regulamentação recente da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) que estabelece grau de pureza do biocombustível. No entanto, a falta de avanço na Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e o alto custo de implementação ainda não tem feito projetos de biogás deslanchar.
O potencial de produção do biocombustível está estimado em 84,6 bilhões de Nm³/ano, segundo dados da Associação Brasileira de Biogás (Abiogás), especialmente a partir do lodo de esgoto e do lixo orgânico proveniente de aterros sanitários (uma vez que os lixões foram proibidos a partir de 2014, com a PNRS.
Veículos elétricos
Ainda em baixa quantidade, os veículos elétricos são uma tendência tida como promissora no mercado nacional, que ainda se ressente da crise econômica que abateu o país nos últimos anos. Fábricas como BMW e Renault/Nissan já possuem modelos totalmente elétricos. BYD e Tesla são montadoras de modelos exclusivamente abastecidos na tomada e outras montadoras estudam entrar fortemente no mercado. Em vários países já existem leis que proíbem a venda de novas unidades movidas a combustíveis fósseis no médio prazo – uma lei do tipo está em tramitação na Câmara dos Deputados.
No Brasil, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) regulamentou a recarga de veículos elétricos,que permite a exploração do serviço por qualquer empresa interessada, inclusive por distribuidoras de energia – desde que elas não repassem custos para as tarifas. Iniciativas como corredores elétricos em estradas do Paraná e na Via Dutra tentam resolver o entrave dos pontos de recarga, uma vez que esses modelos possuem autonomia limitada. Outro ponto que pode acelerar a venda de veículos elétricos é o uso desses modelos como sistemas de armazenamento, já que os veículos podem injetar eletricidade na rede em momentos de altas tarifas, com recarga durante a noite, quando os preços estão mais baixos.
Smart Grid
Em tese, smart grid já é uma realidade em muitas distribuidoras, especialmente por causa da instalação de medidores eletrônicos. A chegada da tarifa branca e da tarifa binômia é reflexo da presença dessa tecnologia, uma vez que a medição se torna mais precisa e monitorável. Além disso, as distribuidoras têm investido em sistemas de religamento automático, que reduz a área de abrangência de apagões, o que traz como consequência índices menores de DEC e FEC e maior rapidez na identificação do local onde a rede está danificada.
Mas ainda há impasses regulatórios que impedem a adoção de tecnologias mais modernas, como o uso de big data e inteligência artificial. Isso porque a recuperação dos investimentos em redes inteligentes ainda precisa de definições pela Aneel. Projetos-piloto, como o de microrredes de eletricidade visam avaliar a viabilidade técnica e econômica de equipamentos digitais.
Armazenamento de energia
Sistemas baseados em baterias não são propriamente uma novidade, mas o uso de ferramentas digitais e o barateamento do lítio no mercado mundial, além da expansão irreversível de fontes renováveis intermitentes (eólica e solar, fundamentalmente) colocou o armazenamento na ordem do dia. Ainda que considerada cara, a tecnologia já está no radar de empresas e clientes, em busca de flexibilidade.
Lacunas regulatórias ainda impedem uma ascensão mais rápida do armazenamento (uma dúvida comum no setor é se o tratamento desses sistemas deve ser o mesmo de geradores). Enquanto tais discussões não evoluem, o Brasil busca estabelecer uma indústria competitiva, principalmente de olho na geração renovável. A concorrência com os veículos elétricos, porém deve ser uma realidade quando se olha a geração distribuída residencial.